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Governo suspende fundação do IBGE que desatou crise na gestão Pochmann

Por Folha de São Paulo

29/01/2025 15h45 — em
Economia


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BRASÍLIA, DF E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O Ministério do Planejamento anunciou, nesta quarta-feira (29), a suspensão da fundação de direito privado de apoio ao IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a IBGE+, que desatou a crise entre o presidente do instituto, Marcio Pochmann, e os servidores.

"[O ministério e o IBGE] Resolvem, em comum acordo, suspender temporariamente a iniciativa da Fundação de Apoio à Inovação Científica e Tecnológica do IBGE (IBGE+), proposta apoiada pelo MPO [ministério], para o desenvolvimento institucional e a ampliação das fontes de recursos para o IBGE", diz a nota.

Os protestos de servidores contra a gestão do economista começaram em setembro do ano passado, após a criação da IBGE+. Para os críticos, a fundação representa uma espécie de IBGE paralelo.

O estatuto da nova estrutura abre margem para a captação de recursos privados para a realização de trabalhos. Os servidores dizem que não foram ouvidos pela presidência no desenho do projeto.

Na mesma nota, o Planejamento afirma que apoiará, por meio do Orçamento em tramitação no Congresso, a formulação do Censo Agropecuário de 2025 -o governo Lula (PT) não havia previsto na peça recursos para a realização da pesquisa.

Sobre a suspensão da IBGE+, o ministério também informou que estão sendo "sendo mapeados modelos alternativos que podem ensejar alterações legislativas, o que requererá um diálogo franco e aberto com o Congresso Nacional".

O anúncio do fim da IBGE+ ocorreu poucas horas depois de Pochmann, durante um evento em Brasília, negar que houvesse interferência de interesses privados no instituto.

"Em absoluto", disse ao ser questionado sobre a chance de impacto em aferições do IBGE, como o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

"Esse tema das fundações gera controvérsias não apenas no IBGE, mas em várias outras instituições públicas que tomaram essa decisão. Há uma perspectiva de entender que uma fundação dessa natureza, pública de direito privado, poderia levar a uma espécie de privatização", disse ele.

"São modelos necessários para ampliar o orçamento e permitir a inovação tecnológica. Absolutamente necessário nos dias de hoje. O IBGE precisa inovar o seu método de coleta de preços."

As declarações do gestor foram feitas durante divulgação do Plano de Trabalho 2025 na Região Centro-Oeste, em Brasília. Na sede do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), onde foi realizado o evento, foi feito controle de entrada de pessoas, em um contexto de crise e protestos contra o atual presidente.

Sobre as queixas dos servidores, o presidente disse que cabe ao instituto receber as denúncias e apurar junto aos órgãos responsáveis.

Enquanto Pochmann discursava em Brasília, funcionários do IBGE voltaram a protestar contra a gestão dele na manhã desta quarta no Rio de Janeiro.

Mais uma vez, as lideranças sindicais e os técnicos do instituto reclamaram de falta de diálogo nas decisões que afetam a rotina do órgão.

Uma das faixas levadas para o protesto afirmava que "o IBGE não é o Pochmann". Outra pedia "diálogos verdadeiros com desdobramentos concretos".

O protesto desta quarta ocorreu em frente à sede do instituto, na avenida Franklin Roosevelt, no centro do Rio.

O ato foi marcado pela Assibge, a entidade sindical que representa os funcionários do órgão. Atas de presença que circulavam no protesto indicavam a assinatura de cerca de 200 pessoas por volta das 12h.

Conforme a Assibge, a crise começou a gerar relatos de dificuldades pontuais de servidores na coleta de dados de pesquisas. A turbulência teria contribuído para elevar a desconfiança de entrevistados no momento de responder aos questionários do IBGE. Não há, contudo, registro de grande impacto no andamento dos trabalhos estatísticos.

Tampouco existe no momento a sinalização de greve nas próximas semanas. Em caráter reservado, servidores dizem temer que a crise dificulte inclusive a recepção aos novos funcionários do IBGE. O instituto foi contemplado com 895 vagas em concurso público unificado do governo federal.

A turbulência interna aumentou neste mês de janeiro quando quatro diretores entregaram seus cargos. Divergências com a gestão Pochmann estariam por trás do quadro.

Os servidores argumentam que a estrutura da IBGE+ foi desenhada de modo silencioso, sem a consulta ao corpo técnico.

"O IBGE está fazendo uma transição de um período de enfraquecimento que viveu", disse Pochmann nesta quarta. "Nos últimos sete anos, quando eu cheguei, o IBGE teve 6 presidentes, ou seja, uma instituição com uma instabilidade que não era pequena, com sérios problemas de financiamento e dificuldades na produção de dados como no Censo Demográfico", diz.

O evento realizado em Brasília fez parte de uma série de lançamentos do plano de trabalho do órgão pelo país. As próximas cidades serão Vitória, na quinta-feira (30), e Porto Alegre, na sexta (31).

Pochmann comentou ainda a última polêmica em que a gestão se envolveu, com a aprovação de publicação de um texto com suposta propaganda política do governo de Pernambuco no periódico "Brasil em Números".

De acordo com ele, devido à falta de recursos, o instituto recorreu a parcerias para viabilizar a publicação, como as do governo estadual e do Banco do Nordeste, que cederam espaço no documento.

"Demos um espaço para essas instituições, que colaboraram para que pudéssemos tornar público [o periódico] na forma impressa, a possibilidade de informarem administrativamente como trabalham. Nós entendemos que não há nenhum ferimento à forma que nós entendemos de tornar públicas essas informações", declarou.

Questionado se tratou das insatisfações de parte dos servidores com o presidente Lula, Pochmann informou apenas que esteve no Palácio do Planalto para conversar com membros do governo sobre a questão orçamentária do IBGE.

O economista já havia procurado ministros para discutir as dificuldades que vem enfrentando na relação com servidores do órgão.

O presidente também comentou no evento o pedido de seu afastamento feito pelo senador Rogério Marinho (PL-RN) ao TCU (Tribunal de Contas da União) como algo que faz parte do regime democrático.

"O papel do parlamento deve ser sempre respeitado, não há problema algum. Recepcionamos as críticas e os apoios recebidos como [algo] natural de um país democrático."


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