Loja de roupa é o setor que mais perdeu mão de obra em cinco anos, segundo a FecomércioSP
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O varejo de vestuário e acessórios foi o que menos conseguiu recuperar mão de obra perdida na pandemia, e tem 11 mil vagas a menos de 2020 a 2025. Por outro lado, supermercados foram os que mais cresceram em número absoluto de vagas, com 32 mil novos postos de trabalho no período.
Informações são de uma pesquisa da FecomércioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), obtida com exclusividade pela Folha de S.Paulo. O estudo sugere que, durante a crise sanitária, as famílias direcionaram os seus gastos aos bens essenciais, e que isso alterou a estrutura de consumo do país.
"Geração de empregos está muito ligada a vendas. Quanto mais eu vendo, mais eu tenho que gerar emprego", comenta Thiago Carvalho, assessor econômico da Fecomércio. Em 2020, o volume de vendas do varejo de tecidos, vestuário e calçados de São Paulo caiu 28%, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Os setores de eletrodomésticos e lojas de departamento também foram os que menos se reergueram da crise, seguidos por calçados e livrarias. Dos 78 segmentos do varejo paulista, 16 registraram, ao fim de janeiro de 2025, um volume de trabalhadores menor do que no início de 2020.
Para a federação, os dados são explicados pela perda de consumidores, fechamento de portas e desligamentos que ocorreram, principalmente, no início da pandemia. "Muitas empresas hoje trabalham com a margem apertada, tentando se recuperar do impacto financeiro", diz Thiago.
O assessor comenta sobre a elevação da taxa de juros, que era de 3,75% em março de 2020 e passou para 14,25%. "Isso afeta a parcela do empréstimo, que muitos empresários tiveram que fazer durante a crise."
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VEJA TABELA DOS SETORES COM MENOS VAGAS
Segmentos - Vínculos em 31 de janeiro de 2020 - Vínculos em 31 de janeiro de 2025 - Saldo
Artigos de vestuário e acessório - 177.132 - 165.720 - (-11.412)
Equipamentos de áudio e vídeo - 47.671 - 40.236 - (-7.435)
Lojas de departamento ou magazines - 39.097 - 33.156 - (-5.941)
Calçados - 44.452 - 40.778 - (-3.674)
Livros - 11.959 - 10.951 - (-1.008)
Confira a tabela de estoques dos empregos celetistas dos cinco segmentos do varejo paulista com menores saldos absolutos de vagas, elaborada pela Fecomércio com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados):
Empregos celetistas são os que tem regime de trabalho CLT, ou seja, com carteira assinada. Nos últimos anos, houve um aumento da informalidade no mercado de trabalho, por exemplo, com o crescimento de 86% dos cadastros MEI (microempreendedor individual) de 2019 até 2024.
Porém, Thiago não associa a perda de mão de obra com a pejotização. "Estamos vivendo em um mínimo desemprego, então acredito que seja mais uma questão econômica, da rentabilidade do negócio, das dificuldades financeiras", afirma.
No caso dos livros, o especialista fala sobre a transformação do mercado livreiro, de grandes para pequenos varejistas. "Temos casos de recuperação judicial, de falência de grandes livrarias, mas por outro lado temos operações menores se destacando."
SUPERMERCADOS E FARMÁCIAS CRESCERAM
Dos cinco setores que mais aumentaram seu número de vagas de 2020 para cá, quatro vendem alimentos e um vende medicamentos. Veja a tabela:
Os dados ainda indicam que os segmentos de supermercados e hipermercados cresceram em faturamento desde o primeiro ano da pandemia. Em 2020, o volume de vendas aumentou 5,2%, seguido por 1,8% em 2021, 2,5% em 2022 e 2023 e 3,7% em 2024.
Junto a isso, os supermercados enfrentam falta de mão de obra para suas redes, com 357 mil vagas abertas no país. "O setor não deixa de investir por causa disso. A abertura de lojas segue um ritmo acelerado."
"As redes de supermercado tentam moldar a operação. Automatizar as compras com os caixas automáticos, vender a carne cortada para evitar filas no açougue. É natural que as empresas busquem não perder espaço para a concorrência."
O QUE PODE SER FEITO?
A FecomercioSP orienta os empresários com dificuldades a migrarem para o digital. "É um caminho complementar fundamental. Não necessariamente um site, mas divulgar nas redes sociais, ter um WhatsApp para mandar as ofertas, para não ficar restrito a um canal de venda."
Ao mesmo tempo, Thiago acredita que o fator principal é a macroeconomia do país. "Hoje há muita inflação, alta taxa de juros. Política fiscal é um dos fatores de maior preocupação no meio empresarial, a sustentabilidade da dívida."
"O empresário sabe que vivemos um momento de crescimento econômico e geração de empregos, mas que isso não é sustentável. O mais importante é que ele tenha segurança para investir. Quando o empresário sentir os índices caindo, os setores vão retomar."

ASSUNTOS: Economia