Lula diz que Galípolo terá autonomia no BC e acena com novas medidas fiscais
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta sexta-feira (20) que Gabriel Galípolo estará na presidência do Banco Central por confiança dele e negou interferência no futuro mandato de seu escolhido para o cargo. Além disso, afirmou que o governo seguirá atento à necessidade de novas medidas fiscais.
A declaração foi feita em vídeo publicado nas redes sociais do chefe do Executivo, ao lado de Galípolo. A gravação foi feita durante reunião de ministros, no Palácio da Alvorada. No encontro ampliado, Lula fez discurso com gestos ao seu indicado e ao mercado, com quem sinalizou querer fazer as pazes, após tumultuada semana na economia.
O presidente disse que, com Galípolo, aprendeu a não brigar com o mercado financeiro, mas a tratar com jeitinho, segundo relatos.
"Queria, Galípolo, dizer para você uma coisa muito importante, quero que você saiba que está aqui por relação de confiança minha e de toda equipe de governo", disse Lula.
"Quero que saiba que jamais, jamais haverá, por parte da Presidência, qualquer interferência no trabalho que você tem que fazer no Banco Central", completou.
Além do futuro presidente da autoridade monetária, também estavam ao lado os ministros Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento).
No vídeo, Lula afirmou também que Galípolo será o presidente com mais autonomia que o Banco Central já teve e destacou seu "compromisso com o povo brasileiro". Em sua fala, o chefe do Executivo fez uma crítica indireta ao atual presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.
"Quero te dizer que você será certamente o mais importante presidente do BC que esse país já teve, que vai ser o presidente com mais autonomia que o BC já teve, porque tenho certeza que sua qualidade profissional, experiência de vida e seu compromisso com povo brasileiro, certamente, você vai dar uma lição de como é que se governa o BC com a verdadeira autonomia", disse.
Lula afirmou que o combate à inflação é importante para proteger o poder de compra das famílias brasileiras e acenou com novas iniciativas voltadas às contas públicas. "Tomamos as medidas necessárias para proteger a nova regra fiscal e seguiremos atentos à necessidade de novas medidas", disse.
O vídeo foi publicado após o almoço de confraternização de Lula com ministros no Palácio da Alvorada, onde foi feita a gravação. Galípolo, contudo, não aparece na foto oficial de fim de ano da Esplanada.
As declarações de Lula ocorreram também no momento em que o Congresso concluiu a votação do pacote de contenção de despesas, que teve medidas desidratadas pelos parlamentares.
Durante a reunião com os ministros no Alvorada, Lula disse ser crítico ao atual patamar de juros, mas atenuou o discurso. Ele classificou o aumento no dólar nesta semana como "dificuldade do câmbio", mas disse que estava tudo bem fora isso no país, e que não era momento de brigar com ninguém.
Segundo relatos ainda da reunião, o presidente defendeu o corte de gastos e disse estar feliz com o que foi aprovado no Congresso. Lula afirmou que a pauta era difícil, mas que tinha dado certo, e agradeceu o empenho de ministros na votação, citando Haddad e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), além de líderes do governo.
O chefe do Executivo fez uma metáfora sobre o corte de gastos com um pai trabalhador, cujo filho pede R$ 5 e não pode dar, porque precisa do dinheiro para pagar conta.
Simultaneamente à divulgação do vídeo pelo Planalto, Campos Neto participava de uma transmissão ao vivo nas redes sociais do BC, na qual fazia um balanço de sua gestão e se despedia da autarquia.
Campos Neto, cujo mandato termina em 31 de dezembro, deixa informalmente o cargo nesta sexta. Seu sucessor, Galípolo, assumirá o posto interinamente na reta final do ano e, a partir de 1º de janeiro, ocupará efetivamente a cadeira de presidente do BC.
Desde o início de seu mandato, Lula criticou a atuação de Campos Neto pela condução da política de juros. Em dezembro, o Copom (Comitê de Política Monetária) fez um choque de juros, com uma alta de 1 ponto percentual da taxa básica (Selic), de 11,25% para 12,25% ao ano.
No encontro, o colegiado do BC também sinalizou que prevê mais dois aumentos da mesma magnitude nas próximas reuniões do Copom. Se esse cenário se confirmar, a Selic vai a 14,25% em março.
Na live feita pelo BC, Campos Neto disse que a autoridade monetária estaria melhor blindada de intervenções políticas se tivesse autonomia financeira e administrativa. Desde 2021, a instituição possui autonomia operacional.
"A gente caminhou muito no sentido da blindagem, mas a gente precisa avançar um pouco mais. Lembrando que a blindagem vem também com a experiência, com o tempo e com os enfrentamentos que são naturais", disse.
"Acho que a blindagem vai aumentar no tempo naturalmente, mas, no momento, diria que, se a gente pudesse ter autonomia financeira e administrativa, a blindagem seria maior e melhor", acrescentou.
Campos Neto citou a conquista da autonomia operacional como uma das principais mudanças do BC durante a sua gestão, iniciada em 2019. Mas, para ele, esse processo ainda não terminou.
"A autonomia operacional coloca a instituição à frente das pessoas, à frente da ideologia, à frente dos governos, à frente do tempo político, com um tempo diferente do tempo político, com um tempo institucional mais adequado às características necessárias para o cumprimento das nossas missões", afirmou.
Campos Neto ficou ao todo seis anos na chefia do BC, nos governos Bolsonaro e Lula 3. Ao longo de sua gestão, ele atravessou o enfrentamento da pandemia de Covid-19, a queda da Selic para o piso histórico de 2% e o maior choque de juros feito pela autoridade monetária desde 1999. Em 2022, a taxa básica chegou ao patamar de 13,75% ao ano, uma elevação de 11,75 pontos percentuais.
"Eu não posso dizer que os últimos seis anos foram calmos", brincou ele, dizendo que preencheu "um álbum de figurinhas completo" de problemas que dificultaram o controle da inflação, como a pandemia, a tragédia de Brumadinho e a crise na Argentina.
ASSUNTOS: Economia