Número de contêineres que saem da China cai de 50 mil para 2.000
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As três semanas em que as atividades portuárias chinesas ficaram praticamente paradas entre o Ano-Novo chinês e meados de fevereiro resultaram em uma queda de aproximadamente 96% no movimento de contêineres que deixam o país com equipamentos eletrônicos, peças e produtos de plásticos.
As diversas restrições impostas pelo governo do gigante asiático na tentativa de conter o surto do novo coronavírus derrubaram o tráfego de uma média de 50 mil para 2.000 o total de contêineres desembarcados diariamente.
Isso ocorreu principalmente porque não havia quem fizesse o trabalho. Em condições normais de operação, os navios cargueiros levam cerca de duas semanas para serem completamente descarregados. Com menos motoristas de caminhão e operadores de guindastes na ativa, o descarregamento ficou engarrafado, travando também o processo inverso.
Mesmo ao fim do feriado estendido, muitos operários não conseguiram voltar ao trabalho. Com isso, ficou mais difícil carregar os contêineres que deixariam os portos chineses rumo a países como o Brasil.
Desde o Ano-Novo chinês, em 25 de janeiro, 160 viagens de navios cargueiros foram canceladas. Para o Brasil, 9 deixaram de ser feitas, de 28 escalas planejadas. Em média, quatro navios zarpam da China a cada semana.
Leandro Barreto, sócio da consultoria Solve Shipping, diz que a redução nos envios ao Brasil foi de 32%, em linha com a média mundial.
Dessas 28 viagens previstas, 19 estão a caminho do país e, segundo o consultor, devem chegar com menos produtos.
"Os terminais ficaram parados e com capacidade reduzida por três, quase quatro semanas. Como não havia como embarcar mercadoria, os armadores começaram a cancelar viagens", diz Barbato. Os armadores são as empresas que contratam as viagens.
Além de um potencial efeito sobre linhas de montagem da indústria nacional na Zona Franca de Manaus e no comércio popular de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, esse volume menor de contêineres deverá afetar também o envio daquilo que o país exporta, como madeira e celulose.
"O problema é que vai faltar espaço para levar mercadoria embora", afirma Barbato.
Inicialmente, outros tipos de envio, como os navios graneleiros, não foram afetados.
Devem começar a chegar ao Brasil nesta semana os navios com menos cargas e menos contêineres, colocando em questão a possibilidade de as exportações brasileiras sentirem os efeitos no próximo ciclo de viagens.
Nos terminais de contêineres que operam no porto de Santos, em São Paulo, o monitoramento é diário, mas ainda não houve efeito nas operações. Reduções nas escalas em fevereiro já eram esperadas, devido ao feriado.
Lincoln Fracari, da consultoria China Link Trading, afirma que as empresas tradicionalmente reforçam os pedidos em dezembro e no início de janeiro, antecipando a parada durante o Ano-Novo lunar. Como muitos trabalhadores vivem longe de suas cidades-natal, é comum que eles emendem o feriado com os cinco dias anuais de férias, estendendo a parada.
Neste ano, o feriado durou duas semanas, por determinação do governo chinês, como meio de conter o surto do novo coronavírus.
A DP World Santos, um dos terminais de contêineres que opera em Santos, diz que não houve impacto em suas operações nos meses de janeiro e fevereiro de 2020. Afirma, contudo, que "alguns navios oriundos da Ásia poderão ter suas escalas canceladas no decorrer do mês de março." A Santos Brasil está em período de silêncio até a divulgação de seus balanços de 2019, prevista para o fim desta semana.
A Santos Port Authority informou que não identificou alteração no volume de carga movimentada nos primeiros meses do ano, pois apenas registra o que os terminais recebem e enviam.
Em janeiro, o porto de Santos registrou a maior movimentação de contêineres para o mês, batendo o recorde de 2018. O aumento foi de 16,2% ante o mesmo período do ano passado. Em toneladas, a alta foi de 12,1% -foram 3,5 mil toneladas em carga movimentada por contêineres, segundo a autoridade portuária.
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