Paper Excellence ainda briga pela Eldorado Celulose, governo assina com empresa chinesa de internet e o que importa no mercado
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Paper Excellence ainda briga pelo controle da Eldorado Celulose com a J&F Investimentos, dos irmãos Batista, governo assina acordo com empresa chinesa de internet por satélite e outros destaques do mercado nesta quinta-feira (21).
**PROCURA-SE ELDORADO**
O imbróglio envolvendo a compra da Eldorado Celulose, que pertencia à J&F Investimentos, pela Paper Excellence teve novos desdobramentos. Entenda o que aconteceu até aqui.
Antes de tudo, vamos aos personagens.
J&F Investimentos: holding da família Batista que controla 22 empresas, entre elas a JBS e a Eldorado Celulose.
Paper Excellence: fundada pelo indonésio Jackson Wijaya, a empresa de papel e celulose tem seus principais negócios na Ásia, sobretudo na China e no Japão.
Tudo começa na Lava-Jato. A JBS (não esqueça, uma empresa dos mesmos donos da Eldorado, pivô da confusão) foi alvo de investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal (MPF), por, basicamente, corrupção.
Nas delações premiadas de Joesley e Wesley Batista, donos da J&F Investimentos, foram mencionados muitos repasses para campanhas políticas, somando mais de R$ 500 milhões.
ACORDO
A J&F e a Procuradoria-Geral da República (PGR) fecharam um acordo em 2017, depois do inquérito. A holding prometeu pagar uma multa de R$ 10,3 bilhões pelos delitos cometidos.
↳ Em 2023, a multa foi reduzida a pedido dos irmãos Batista. A União receberá da empresa cerca de R$ 3,5 bilhões.
Por que a Lava-Jato importa? Devido a esse acordo, a J&F Investimentos vendeu alguns ativos para conseguir pagar a dívida.
Um deles foi a Eldorado Celulose. Ela seria 100% vendida para a Paper Excellence por R$ 15 bilhões, em negociações fechadas em 2017.
CONTRATO FIRMADO
A venda deveria ser concluída até 3 de setembro de 2018, um prazo de 12 meses.
No mesmo ano, a Paper Excellence assumiu (quase) metade das ações da Eldorado e pagou R$ 3,8 bilhões por isso. O resto ficou com os Batista.
A outra metade seria passada quando a Paper pagasse algumas dívidas da Eldorado pela J&F.
TOMA LÁ, DÁ CÁ
No meio de 2018, a coisa desandou. A Paper Excellence acusou a holding brasileira de complicar a liberação das tais garantias, impedindo a transferência da metade faltante.
Tentaram resolver, mas não deu certo. A J&F ofereceu um aumento do prazo e pediu R$ 6 bilhões a mais pelo negócio. A Paper não quis.
Em setembro de 2018, a J&F extinguiu o contrato afirmando que não foi cumprido, uma vez que as garantias não foram liberadas.
TRIBUNAL
O caso foi parar na justiça, e a Paper Excellence saiu vencedora em 2021 por unanimidade. Quem julgou foi a Câmara de Comércio Internacional, a CCI.
A partir daí, foi um vaivém de acusações. Até a Folha entrou na dança.
Falas de Claudio Cotrim, presidente da Paper Excellence no Brasil, ao jornal fizeram com que a J&F pedisse uma indenização por danos morais.
Achávamos que nosso contrato era forte, mas não há contrato que se defenda de má-fé, disse Cotrim a repórteres da Folha de S.Paulo.
A holding brasileira perdeu, e acabou tendo que pagar uma indenização para Cotrim.
PROCESSOS E MAIS PROCESSOS
Em um deles, a metade das ações da Eldorado que estava com os Batista foi colocada em juízo entregue à Justiça para garantir que fossem destinadas para quem teve a sentença favorável, nesse caso, à Paper Excellence.
A J&F pediu recurso da decisão e esse processo ainda está rolando no Tribunal de Justiça de São Paulo.
A história voltou para os jornais agora porque...o presidente e um árbitro do tribunal onde corre a arbitragem que a Paper ganhou pediram demissão em setembro.
Os dois disseram ter sido ameaçados pela J&F.
Mais trabalho para o STF. Uma audiência de conciliação foi marcada para esta segunda-feira (18). A decisão foi desfavorável para a Paper.
Ainda, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) encerrou o processo administrativo da venda devido a processos relacionados à compra de imóveis rurais. Você entende melhor essa história aqui.
O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) suspendeu os direitos políticos da Paper na Eldorado. Ou seja, não podem participar de muitas decisões da empresa. Os desdobramentos estão no Painel S/A, coluna editada pelo jornalista Júlio Wiziack na Folha de S.Paulo.
No mês passado, o imbróglio completou sete anos (e contando).
**MUSK? NÃO, CHINA**
O governo brasileiro assinou um acordo com a empresa chinesa de satélites SpaceSail, para melhorar o fornecimento de internet em regiões em que a estrutura de internet comum não chega.
O anúncio foi durante a visita do líder chinês Xi Jinping ao Brasil. A caravana trouxe empresários com intenção de fechar negócios no país.
Em um primeiro momento, a empresa não venderá seus serviços a clientes por aqui. Ela prestará serviços para órgãos públicos.
O QUE ELA FAZ?Investe em sistemas de satélite LEO (que ficam na baixa órbita da Terra) e oferece redes de conexão e internet. A intenção é melhorar a conexão em regiões mais remotas do país. As operações devem começar em 2026.
POR QUE IMPORTA?
É uma resposta do governo à Starlink, que também oferece internet via satélites. A marca pertence à SpaceX, que por sua vez, é de propriedade do bilionário Elon Musk.
Ela tem 0,5% do fornecimento de internet banda larga no Brasil e ganhou importância por ser uma provedora dominante de internet em áreas remotas.
São 224 mil clientes da empresa no país, entre eles postos de saúde, escolas, quartéis das Forças Armadas e policiais da fronteira.
O acordo com os chineses vem para tentar evitar um monopólio da Starlink em regiões estratégicas do país, o que daria poder político para Musk no Brasil.
Onde está quem usa? Nos estados da região Norte do país está um terço da clientela, região que historicamente sofre com problemas de conectividade. Há uma parcela importante de clientes no Centro-Oeste.
A Starlink tem antenas instaladas em 90% dos municípios da Amazônia e esse número só tende a crescer, diz David Nemer, professor da Universidade da Virgínia.
FALANDO EM MUSK...
O homem mais rico do mundo acumulou embates com autoridades brasileiras neste ano. Relembro o caso em quatro pontos:
1 - No final de agosto, o ministro Alexandre de Moraes do STF determinou o bloqueio da rede social X, o antigo Twitter, em todo o Brasil.
2 - Autoridades alegaram que a empresa não apresentava um representante legal para o X no Brasil.
3 - O pedido veio depois que a companhia fechou seu escritório no país e não pagou multas por não cumprir ordens do tribunal.
4- Após mais de um mês, os documentos pedidos foram apresentados, as multas, pagas, e o representante legal, indicado. A rede social voltou ao ar em 8 de outubro.
Na época, houve temores sobre a saída da Starlink do Brasil, o que deixaria muitas pessoas em áreas isoladas na mão.
**SINAL VERDE**
A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) enxerga potencial econômico no cultivo da cannabis e pediu a autorização à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para cultivar a planta com o propósito de pesquisá-la.
Estamos no país em uma situação de quase completa dependência externa, diz a pesquisadora da Embrapa Beatriz Emygdio.
Ela está falando da existência de poucas áreas de cultivo da planta no Brasil. Só pode plantar cannabis no país quem entrar na justiça e pedir uma autorização.
Com isso, poucas associações de apoio a pacientes no Brasil podem cultivá-la.
HÁ INTERESSE
Por outro lado, há interesse na ampliação desse mercado, e potencial para um cultivo lucrativo dentro das permissões da lei.
R$ 80 milhões foi quanto 15 estados e o DF gastaram em importações de medicamentos com derivados da cannabis para distribuir gratuitamente em 2023.
R$ 700 milhões seria o total que o mercado de maconha medicinal movimentou no Brasil no ano passado, segundo estimativa da consultoria especializada Kaya Mind.
R$ 3,7 milhões foi o valor gasto em derivados medicinais da maconha no Brasil em 2018.
O que diz a lei: você pode usar, mas não plantar. Isso se tiver uma prescrição médica atestando a necessidade dos medicamentos com derivados da cannabis na composição.
A PESQUISA
O plano de estudos da Embrapa apresentado à Anvisa prevê 12 anos de pesquisa, divididos em quatro etapas.
O uso medicinal é o mais conhecido pelo público, mas a empresa também quer investigar o potencial industrial da cannabis.
Fibras e óleos vegetais derivados da planta podem ser usados na produção têxtil, cosmética e de combustíveis.
As variações da cannabis mais usadas na indústria são aquelas que têm menos THC e CBD e são normalmente chamadas de cânhamo industrial.
As etapas são:
1 - Entender o cultivo e as variedades da planta que poderiam se dar bem nos biomas brasileiros a cannabis é uma planta altamente suscetível ao clima;
2 - Investigar o manejo: o uso da água, a semeadura, o arranjo de plantas para o cultivo, controle de pragas e doenças e sistemas de produção com rotação de cultura;
3 - Compreender o momento da colheita. Como fazer a secagem, a extração de fitocanabinoides, potencial de uso de coprodutos e de resíduos como bioinsumos;
4 - Estudo de políticas públicas, com foco na identificação das pegadas da cultura e das melhores regiões para plantio no Brasil.
JÁ DEU CERTO
As investigações da Embrapa foram importantes no desenvolvimento da cultura e de diferentes usos de plantas como o eucalipto e a cana-de-açúcar.
Quem planta? China, Canadá, Estados Unidos e alguns países europeus. O uso recreativo, no entanto, só é permitido em alguns locais que produzem.
"A China, que é um país proibicionista, é o maior exportador de cânhamo do mundo. O Brasil poderia ser o principal produtor mundial", defende Luís Maurício, presidente da ABCI (Associação Brasileira da Cânabis e do Cânhamo Industrial).
**CÉREBRO ELETRÔNICO FAZ (QUASE) TUDO**
Pode parecer que as máquinas vão dominar o mundo, mas não é bem assim.
Um levantamento do New York Times mostra que os trabalhos repetitivos foram automatizados, mas humanos são muito melhores em tarefas difíceis.
EM TODOS OS CANTOS
Armazéns, centros de distribuição e estão tomados pelos robôs.
Carregam e descarregam caminhões, colocam mercadorias em paletes, movimentam itens no inventário e pegam pacotes sem necessidade de supervisão humana.
Ainda sim...os armazéns continuam sendo grandes empregadores de humanos.
Dados do governo dos EUA mostram que quase 1,8 milhão de pessoas trabalham no setor, 30% mais funcionários humanos do que no início de 2020.
Picking é uma das atividades em que os humanos têm um desempenho muito melhor que as máquinas o ato de procurar algo em um recipiente e afastar outros objetos da frente para encontrá-lo.
Fazemos isso ainda melhor quando os objetos são pequenos.
Medo da inteligência artificial? Por agora, não é necessário. Ainda que empresas como a OpenAI, dona do ChatGPT, produzam serviços que parecem substituir a criatividade humana, os avanços na automação andam mais lentos em outras áreas.
BRAÇO CURTO
Sparrow, um dos braços robóticos mais avançados da Amazon, pega objetos no topo de um recipiente. Segundo a criadora da máquina, ele pode manipular mais de 200 milhões de itens por dia.
Mas não é hábil para vasculhar muitos itens para achar um escondido. Coisa que um ser humano pode fazer em poucos minutos.
"Existem mais modelos [de máquinas criadas] que não adotamos do que aqueles que foram bem-sucedidos", afirma Sally Miller, diretora global de informação da DHL Supply Chain.
A divisão em que ela trabalha opera armazéns para outras empresas e implantou 7 mil robôs em todo o mundo.
DÁ VONTADE
Não é que as empresas não queiram substituir as máquinas por pessoas. Em geral, onde não substituíram, é porque não conseguiram.
O trabalho em armazéns exige muito do corpo e remunera pouco. Isso gera uma alta rotatividade de funcionários, o que exige gastos e muita rotatividade burocrática.
Nesse cenário, as companhias provavelmente ficariam satisfeitas com uma máquina que resolvesse a demanda por pessoas nesses empregos. Por enquanto, não conseguiram.
CASO AMAZON
São 750 mil os robôs que trabalham nas operações da empresa.
A empresa não divulga um número específico de funcionários em armazéns o total somando todas as áreas é de 1,55 milhão de trabalhadores, boa parte em centros de distribuição.
Em pronunciamentos, executivos já disseram que a implantação de robôs cria novos empregos para supervisionar e manter as máquinas. Não há dados que comprovem a teoria.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
CORTE DE GASTOS
Governo quer endurecer regras de reserva de militares para atrair apoio a corte de gastos. Visão é que medidas, alinhadas entre Defesa e Fazenda, podem reduzir resistências a redução de despesas.
CARREFOUR
Carrefour decide não comprar carne do Mercosul em meio a protestos de agricultores franceses. Ministério da Agricultura do Brasil critica decisão e fala em protecionismo; operação brasileira da empresa continua comprando de produtores locais.
CNU
Governo adia divulgação de resultado final do CNU. Etapa do maior concurso público do país estava marcada para esta quinta (21); nova data será divulgada amanhã.
JUSTIÇA
Justiça permite que trabalhadora 'demita' empregador por receber salário menor. Técnica de farmácia provou, no TST, ter a mesma função, mas receber menos que seus colegas homens.
ASSUNTOS: Economia