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PIB cresce menos no 3º trimestre, mas consumo e investimentos ainda mostram força

Por Folha de São Paulo

03/12/2024 16h00 — em
Economia



RIO DE JANEIRO, RJ E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A economia brasileira cresceu 0,9% no terceiro trimestre, frente aos três meses imediatamente anteriores, apontam dados do PIB (Produto Interno Bruto) divulgados nesta terça (3) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O resultado representa um crescimento menor do que no segundo trimestre, quando a alta foi de 1,4%.

Analistas, porém, dizem que a economia ainda mostra sinais de força, com destaque para componentes como consumo das famílias, investimentos e setor de serviços.

"Os números mostram uma economia bem forte, mesmo com essa desaceleração", afirma a economista Juliana Trece, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

A variação menor do que no segundo trimestre já estava no radar dos analistas. O avanço de 0,9%, contudo, veio levemente acima da mediana das previsões do mercado financeiro, de 0,8%, conforme a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 0,6% a 1,1%.

"Pode ser algum sinal de desaceleração da economia, mas não muito relevante ainda", afirmou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

Conforme a técnica, o crescimento menor de julho a setembro está associado em parte a um patamar elevado de comparação. O PIB está no nível recorde da série do IBGE, iniciada em 1996.

Após a divulgação dos dados, economistas elevaram suas projeções para o acumulado de 2024. Juliana Trece, do FGV Ibre, disse que o PIB, antes previsto em 3,2%, deve ficar próximo de 3,5%.

Segundo ela, o ritmo tende a pressionar a inflação, o que reforça a perspectiva de aumento de juros pelo BC (Banco Central) por mais tempo.

Esse aperto monetário deve levar a um avanço mais contido do PIB no próximo ano, de acordo com as previsões.

Para 2025, a mediana das estimativas estava em 1,95%, conforme o boletim Focus divulgado pelo BC na segunda (2).

"Estamos com um crescimento muito forte pelo lado da demanda. Isso acaba pressionando os preços", afirma Juliana.

Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, agora espera alta de 3,4% para o acumulado de 2024 -a previsão anterior era de 3,2%. "O PIB do terceiro trimestre foi bem forte, apesar de ter desacelerado", diz.

Ele também destaca que, segundo o IBGE, o indicador cresceu 4% na comparação do terceiro trimestre com igual período de 2023. Nesse recorte, a mediana das projeções era de 3,9%, conforme a Bloomberg.

"É um número muito acima da nossa capacidade [de crescer sem gerar inflação]. Sinaliza que o Banco Central vai ter de subir os juros com força", afirma Vale.

Consumo e investimentos sobem

Pelo viés da demanda, Rebeca Palis, do IBGE, destacou os dados do consumo das famílias e dos investimentos produtivos na economia, medidos pela FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo).

Os componentes avançaram 1,5% e 2,1% no terceiro trimestre, ante o segundo, respectivamente. As taxas foram semelhantes às registradas no período imediatamente anterior (1,4% e 2,2%).

Rebeca associou os resultados a uma combinação de fatores. Ela disse que a inflação não está em "níveis altíssimos", apesar da aceleração recente.

Também lembrou que o aquecimento do mercado de trabalho e as transferências do governo, incluindo benefícios sociais, contribuem para o consumo e os investimentos.

O consumo do governo, por sua vez, cresceu 0,8%, após redução de 0,3%.

No setor externo, o IBGE apontou baixa nas exportações (-0,6%) e avanço nas importações (1%). Os resultados reforçam a leitura de que o PIB está sendo puxado pelo mercado doméstico.

As importações em alta estão associadas a essa demanda, indicou Rebeca.

SERVIÇOS E INDÚSTRIAS TAMBÉM AVANÇAM

Pelo lado da produção, o PIB do terceiro trimestre foi impulsionado pelas altas dos serviços (0,9%) e da indústria (0,6%) ante o intervalo até junho. A agropecuária, por outro lado, recuou (-0,9%).

A produção no campo foi afetada por problemas climáticos em 2024, incluindo período de forte seca, além de enchentes no Rio Grande do Sul.

Nos serviços, o IBGE apontou altas em diferentes atividades. Um dos destaques foi o segmento de informação e comunicação, que cresceu 2,1% no terceiro trimestre.

Na indústria, Rebeca chamou atenção para o ramo de transformação. O avanço foi de 1,3%, após alta de 2% nos três meses anteriores.

Apesar de seguir no azul, a indústria de transformação ainda está 14,7% abaixo do pico da série histórica. A máxima foi registrada no terceiro trimestre de 2008.

Já os investimentos medidos pela FBCF estão em nível 10,8% inferior ao pico do segundo trimestre de 2013, mesmo com a melhora recente.

ECONOMISTAS REVISAM PROJEÇÕES

O banco Goldman Sachs revisou a estimativa de crescimento do PIB deste ano de 3,1% para 3,4%. O Itaú e o C6 afirmam que os dados colocam um "viés de alta" para a projeção de 3,2%.

Natália Cotarelli, economista do Itaú, diz que houve surpresas positivas nos números em relação ao desempenho dos serviços, do consumo das famílias e do investimento.

"É uma indicação de um PIB ainda forte. Difícil olhar os números de hoje e falar que essa economia está perdendo força", afirma Cotarelli. "Esse número só reforçou que a economia parece trabalhar acima do potencial."

Para 2025, a instituição espera um crescimento de 1,8%, mais próximo do potencial do país, por conta da redução do impulso fiscal, dos efeitos da alta dos juros e da desaceleração do crédito, embora destaque que o mercado de trabalho continua forte, com desemprego baixo e renda crescendo de forma significativa.

Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter, projeta expansão de 3,2% neste ano. Ela também destaca que a demanda das famílias seguiu robusta, com a melhora no mercado de trabalho, o crescimento da renda e uma economia impulsionada também pelos gastos públicos.

Para se ter uma ideia, ao final de 2023, a estimativa do boletim Focus para o PIB de 2024 era de aumento de 1,52%. A previsão dos analistas subiu com o passar dos meses, ficando acima de 3%.

Com a economia aquecida, o Copom (Comitê de Política Monetária), ligado ao BC, decidiu intensificar o ritmo de alta dos juros e elevou a taxa Selic em 0,5 ponto percentual em novembro, de 10,75% para 11,25% ao ano.

O aperto monetário também ocorre em meio a uma desconfiança de investidores com o cenário fiscal. O quadro ajudou a levar a cotação do dólar para a faixa de R$ 6, o que representa uma ameaça para a inflação.

O aumento dos juros é uma tentativa do BC de esfriar a demanda. O objetivo é frear o avanço dos preços e segurar as expectativas de inflação, que corre o risco de estourar o teto da meta deste ano (4,5%).

"A despeito da política monetária restritiva, o mercado de trabalho robusto segue como importante suporte para o desempenho positivo dos serviços e do consumo das famílias", afirma a gestora Kínitro Capital, que também destaca o crescimento dos investimentos, principalmente em máquinas e equipamentos.

A casa vê chance de PIB de 3,4% neste ano e diz não acreditar em uma "postura passiva do governo" em deixar a atividade desacelerar.

Na visão da Kínitro, o quadro reforça a necessidade de novo ajuste na política monetária, com aceleração do ritmo de alta da Selic na próxima reunião do Copom. O encontro está agendado para 10 e 11 de dezembro.

REVISÃO NO PIB DE 2023

O IBGE revisou a taxa de crescimento do PIB de 2023, de 2,9% para 3,2%. A mudança foi puxada pela incorporação de dados do setor de serviços e da agropecuária.

Arnaldo Lima, economista da Polo Capital, afirma que a revisão dos dados de 2023, sobretudo com aumento do impulso fiscal registrado pela elevação do gasto do governo, gera um carregamento estatístico maior e deve influenciar positivamente as expectativas para este ano, aproximando as projeções do PIB de 2024 de 3,5%.

"Contudo, esses sinais de crescimento acima do potencial econômico levantam preocupações sobre o aumento das expectativas de inflação e crescem as apostas de um ciclo mais longo de elevação da Selic, o que pode reduzir o nível de crescimento projetado para 2025."

O IBGE não confirmou mudança na taxa de 1,4% registrada pelo PIB no segundo trimestre de 2024.


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