PIB deve crescer menos no 3º trimestre, mas com economia ainda forte, dizem analistas
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os números do PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre, que serão divulgados na próxima terça-feira (3), devem mostrar uma economia que ainda cresce em ritmo forte, apesar da desaceleração esperada em relação aos três meses anteriores.
As projeções coletadas pela agência Bloomberg vão de 0,6% a 1%, na comparação com os três meses anteriores, abaixo do 1,4% registrado no segundo trimestre do ano. A base de comparação elevada é um dos motivos para a expectativa de um número menor agora.
São esperados resultados positivos para a indústria e o setor de serviços, com retração na agropecuária. Do lado da demanda, será um resultado puxado tanto pelo consumo impulsionado pelo aumento da renda e do crédito como pelos investimentos.
A expectativa dos economistas é fechar o ano com crescimento próximo de 3%, mesmo patamar dos últimos dois anos, embora alguns analistas não descartem resultados acima desse patamar. Em janeiro, as projeções estavam na casa de 1,5%.
Uma questão que está longe do consenso é se a economia está ou não crescendo acima do seu potencial, gerando impactos inflacionários.
O economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani, projeta crescimento de 0,7% contra o trimestre anterior e 3,1% no acumulado do ano, com possibilidade de surpreender para cima. Ele afirma que o resultado menor em relação ao segundo trimestre deve ser visto como uma acomodação do ritmo de crescimento, após um dado muito forte.
"Os efeitos do aperto monetário ainda não chegaram na economia ou começaram a chegar muito inicialmente. As condições de renda continuam favoráveis, por conta do mercado de trabalho e programas de transferência. Não dá para falar que já começou a desaceleração. Isso vai acontecer, mas não é agora."
Ele lembra que 2023 foi um ano marcado pelo setor exportador puxando a economia, com o crédito segurando o crescimento. Em 2024, há menos impulso do setor externo, dada a perda de vigor na agropecuária, mas com renda e crédito ajudando a sustentar o PIB.
Padovani diz que a economia cresce acima do seu potencial, destacando que o Banco Central faz avaliação semelhante. "Estamos tendo uma reaceleração da inflação, que já vinha em patamar muito acima da meta, um indicador adicional de que estamos acima da nossa capacidade."
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, discorda dessa avaliação, embora também trabalhe com estimativas muito próximas, de 0,6% de crescimento no trimestre e 2,9% no acumulado do ano.
Ela afirma que os serviços têm apresentado uma dinâmica muito forte, mas que alguns setores ainda estão abaixo de sua capacidade, principalmente a indústria de transformação.
"Não entendemos que a economia opera acima do seu potencial. Temos um nível de ociosidade que possibilita um crescimento do produto sem necessariamente gerar uma pressão de demanda absurda que implique em uma inflação muito elevada", afirma.
Argenta diz que o crescimento do terceiro semestre reflete fatores como aumento do crédito, impulsionado em parte pelo Programa Desenrola Brasil, e mercado de trabalho robusto.
"São fatores menos atrelados à políticas fiscais diretas e mais ligados à dinâmica macroeconômica, um consumo das famílias em virtude de um mercado de trabalho muito forte e de uma concessão de crédito que foi crescente e significativa no terceiro trimestre do ano."
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