Quem são os alemães que investem em combustível de aviação brasileiro
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - No mesmo dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a lei do Combustível do Futuro, que prevê metas de descarbonização para o setor aéreo, a GIZ (Agência Alemã de Cooperação Internacional) fechava um acordo para abrir em São Paulo uma fábrica de SAF (combustível sustentável de aviação). A parceria foi celebrada no dia 8 de outubro deste ano.
Ligada ao Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento, uma das pastas do governo alemão, a GIZ participará do projeto em São Paulo durante três anos, período que poderá ser prorrogado posteriormente. O objetivo da agência é ajudar no pontapé inicial, testar a metodologia e desenvolver um modelo de produção em escala comercial, para que depois a tecnologia seja replicada por outros países, incluindo a Alemanha.
A fábrica será construída em parceria com a Geo Biogás & Carbon, empresa que atua na produção de biogás, geração de energia elétrica limpa e produção de biocombustíveis. O investimento total é de 7,8 milhões de euros (quase R$ 50 milhões), dos quais 1,5 milhão de euros (R$ 9,5 milhões) vêm do governo alemão.
A expectativa é que a unidade-piloto, localizada em Narandiba (SP), comece a produzir o combustível sustentável de aviação em 2025. São esperados 270 mil litros de SAF por ano na fábrica, segundo a GIZ. A agência alemã inaugurou, no último dia 23 de outubro, o escritório de coordenação da parceria.
Uma das alternativas para a descarbonização do setor, o SAF polui até 80% menos do que o querosene tradicionalmente usado pelas companhias aéreas. No entanto, ainda é caro e possui volumes insuficientes para dar conta de toda a demanda.
O interesse do governo alemão em apoiar a produção do combustível no Brasil não foi repentino e nem inédito. Este já é o quarto projeto do tipo que atrai investimento do país europeu, que quer testar e tornar viáveis os caminhos para obter SAF.
A GIZ também apoia projetos de produção de SAF em Natal, Goiânia e Foz do Iguaçu (PR). As matérias-primas variam e vão de glicerina, subproduto da fabricação do biodiesel, a resíduos agroindustriais.
O Brasil tem uma posição geográfica única, com energia renovável em abundância e potencial para elevar ainda mais a produção, o que torna o país vantajoso, segundo Markus Francke, diretor do H2Brasil, projeto implementado pela GIZ Brasil e que tem como objetivo apoiar a expansão do mercado de hidrogênio verde e seus derivados.
Mas, além disso, a agroindústria brasileira é capaz de fornecer o carbono necessário para a produção do SAF, por meio de resíduos orgânicos, explica. É o caso do biogás, que será utilizado como matéria-prima do combustível produzido em São Paulo.
"Não existe, no meu conhecimento, algum outro país que tenha esta combinação de energia renovável, um potencial enorme, e, ao mesmo tempo, esse carbono que precisamos para a produção não só de SAF, mas também de outros produtos, como metanol verde", diz.
O setor aéreo vive hoje uma corrida para alcançar as metas de descarbonização previstas por entidades que representam as companhias aéreas e por governos de países. A previsão da Iata (Associação Internacional do Transporte Aéreo) é zerar, até 2050, as emissões líquidas de carbono
No Brasil, a lei do Combustível do Futuro, sancionada recentemente, quer incentivar o uso de SAF criando um cronograma de redução gradual das emissões por companhias aéreas: em 2027, a meta é reduzir emissões em 1%; em 2037, chega a 10%.
A cerimônia de sanção do texto aconteceu na Base Aérea de Brasília. Inicialmente estava previsto o pouso, no mesmo local, de um avião da Azul movido a SAF. Seria a demonstração prática do novo mundo aberto pela legislação -mas a cena teve que ficar na imaginação.
Como a Folha de S.Paulo mostrou, a Azul não conseguiu SAF para abastecer o avião, em uma demonstração de que entre expectativa e realidade no tema ainda há uma grande distância.
ASSUNTOS: Economia