Trabuco, do Bradesco, diz que é preciso encontrar nível de gasto social que caiba no Orçamento
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O pacote de corte de gastos anunciado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) não foi tímido, mas requer aprimoramento, avalia Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do conselho de administração do Bradesco e do conselho diretor da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
Para Trabuco, as medidas são positivas, especialmente a restrição ao BPC (Benefício de Prestação Continuada) e o limite do ganho real do salário mínimo, mas ainda insuficientes.
"Agora, o que está ficando claro, é que o país vai ter de rever grande parte do modelo social. É meio contraditório você ter um baixo nível de desemprego e uma densidade na proteção social. É preciso achar um nível bom, que caiba no Orçamento", disse o banqueiro durante encontro com jornalistas nesta terça-feira (3).
A taxa de desemprego está em 6,2%, segundo o IBGE. Este é o menor patamar da série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), que teve início em 2012.
O conjunto de medidas que visam reduzir os gastos do governo era esperado há meses por analistas. Porém, a inclusão da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 ao mês causou surpresa e insatisfação no agentes do mercado, e o dólar ultrapassou os R$ 6.
Para Marcelo Noronha, CEO do Bradesco, a reação negativa do mercado financeiro foi exagerada, dada a alta expectativa em torno do pacote.
Mesmo com a piora no câmbio e nos juros futuros, o banco se diz otimista com a economia brasileira, e espera um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 2% em 2025.
"Somos uma empresa que acredita no Brasil. Nós sabemos que o Brasil tem desafios, mas o Brasil dá resposta. Independente das contradições de taxa de juros, de nível de estresse, o PIB está sendo apresentado".
Nesta terça, o IBGE divulgou que o PIB cresceu 0,9% no terceiro trimestre, frente aos três meses imediatamente anteriores.
"Apesar de a taxa de poupança ter reduzido, a taxa de investimento talvez seja uma roda de transmissão para que tenhamos também um PIB razoável ano que vem, apesar dos desafios", disse Trabuco.
Ele também comentou a curva de juros futuros, que chegou a apontar para a Selic acima de 14% ao ano em 2025 nos últimos pregões.
"Talvez, no mundo real, ela não vai precisar chegar a 14% porque podemos estar em um momento de um overshooting para dar um aviso ao governo, como sinais de alerta", afirmou o executivo.
ASSUNTOS: Economia