A troca de farpas e tarifas continua entre Donald Trump e a China e o que importa no mercado
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A troca de farpas e tarifas continua entre Donald Trump e a China, bilionários ficam de mal do presidente americano e outros destaques do mercado nesta quarta-feira (9).
**3, 2, 1...VALENDO!**
A definição textual da palavra chantagem é tentativa de obtenção de dinheiro ou favores com ameaça de escândalo ou outras consequências nefasta, no caso de negativa, segundo o DPLP (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa).
Segundo a China, as tarifas impostas pelos EUA são uma forma dela.
CONFIRMA
Nesta terça-feira (8), Donald Trump confirmou sua promessa de retaliar a China. Um breve resumo do vaivém:
→ Logo que assumiu o poder, o republicano anunciou tarifas de 10% às importações da China, que reagiu e a efetividade da medida foi adiada;
→ Em 2 de abril, Trump aplicou uma taxa de 34% aos produtos do país asiático, prometendo que pioraria a situação caso houvesse alguma resposta;
→ A China, claro, não deixou barato: devolveu na mesma moeda ou, melhor, alíquota, de 34% na importação de produtos americanos;
→ A devolutiva fez Trump aumentar a aposta: ameaçou um imposto de 50% sobre os chineses e
a China respondeu. Afirmou na manhã de desta terça que o país vai lutar até o fim na escalada das tarifas e ainda disse que país rival tem uma natureza chantagista.
As chamadas tarifas recíprocas impostas pelos EUA à China não têm base e são um bullying unilateral (...) as contramedidas que a China adotou são inteiramente legítimas, de modo a salvaguardar sua soberania, escreveu o Ministério do Comércio.
E cá estamos. Com a outorga da nova alíquota, os produtos chineses podem receber uma tarifa de até 104% para entrarem nos EUA.
É um erro a China retaliar. Quando a América é atingida, os EUA revidam com mais força. É por isso que teremos as tarifas de 104% entrando em vigor ainda nesta noite, disse Karoline Leavitt, porta-voz do presidente.
Trump ainda afirmou que os EUA estariam arrecadando US$ 2 bilhões por dia com a medida, sem citar a fonte do cálculo.
Por aqui as medidas não bateram bem. O dólar voltou a chegar perto dos R$ 6, disparando 1,43% terminou o dia nos R$ 5,996. A cotação marca uma alta de quase R$ 0,40 em quatro dias de negociação.
**QUANTO VALE UMA AMIZADE?**
As tarifas americanas dificultam negócios globais e, inevitavelmente, atingem alguns amigos do presidente que não estão felizes com os resultados.
INTERVENÇÃO
Há uma fila de apoiadores de Donald Trump querendo trocar uma ideia com ele sobre as tempestuosas medidas econômicas.
Ken Langone, cofundador da Home Depot (uma loja de móveis prontos dos EUA) e doador de longa data do Partido Republicano, criticou as tarifas anunciadas por seu candidato eleito por serem muito altas e implementadas rápido demais.
Ele disse ao Financial Times que o presidente estava sendo mal aconselhado, que a taxa de 46% sobre o Vietnã que abriga boa parte da produção da empresa que lhe pertence é absurda e não dá uma chance séria para as negociações funcionarem.
Bill Ackman, doador bilionário e apoiador da campanha do líder americano em 2024, reclamou e descreveu as taxações como um grande erro político.
Jim Rogers, investidor de alto calibre que cofundou o Quantum Fund com George Soros escreveu que, embora as tarifas tenham ajudado algumas pessoas por períodos curtos, elas raramente são boas para alguém.
Elon Musk, o maior doador (e tiete) de Trump, também criticou os encargos (acredite se quiser). Os impostos de importação podem complicar os negócios da Tesla. No último sábado (5), ele chegou a pedir uma tarifa zero entre os EUA e a Europa (um dos atuais alvos preferenciais do presidente).
Ainda sobrou espaço para chamar de idiota o conselheiro do governante para tarifas .
Jamie Dimon, CEO do J.P. Morgan, escreveu em sua carta anual que as tarifas provavelmente aumentarão a inflação e estão levando muitos a considerarem uma maior probabilidade de recessão.
Esses são alguns exemplos de figuras que não esperavam que as promessas de campanha de Trump virassem realidade tão cedo e tão rápido. Se nem alguns dos principais empresários do mundo estavam prontos para o tarifaço, quem estava?
**AS DORES E AS DELÍCIAS DA PRIVATIZAÇÃO**
Como irritar funcionários? Simples, aumente os benefícios do patrão. A Sabesp quer testar a teoria.
A empresa vai apresentar na assembleia geral marcada para o dia 29 de abril uma proposta de nova política de remuneração para os diretores e membros dos conselhos de administração e fiscal.
VIRANDO UM "PLAYER"
A Sabesp foi privatizada no ano passado e quer mudar para entrar na sua nova era. A companhia quer aproximar seus salários e incentivos ao modelo que é praticado no mercado por empresas parecidas. Entre as propostas para tal, está o aumento em 600% dos salários dos executivos.
O documento da administração sugere aumentar o limite de remuneração do atual exercício (que acaba em dezembro de 2025) para R$ 65 milhões por ano. Em 2024, a Sabesp desembolsou R$ 9,1 milhões na mesma rubrica.
Os nove membros do conselho de administração ficariam com R$ 13,9 milhões, os seis diretores com R$ 50,9 milhões e os cinco conselheiros fiscais com R$ 750 mil.
Mas os funcionários não querem saber dos conselhos da Faria Lima. Para eles, não há coerência no discurso da gestão enquanto a remuneração dos patrões sobe, cortes e mais cortes são feitos na base da pirâmide.
Para a alta direção, a Sabesp contratou um plano de saúde executivo entre os mais completos do país, enquanto cortou a opção mais vantajosa que existia para novos funcionários deixando apenas as mais básicas, diz José Faggian, presidente do Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo).
O plano de carreira dos funcionários foi prejudicado, na opinião de Faggian, uma vez que houve um achatamento dos salários no longo prazo, mesmo sem mexer nos pisos.
Até o cafezinho. O presidente relata que a empresa tinha um contrato de máquinas automáticas nos escritórios, com opções de bebidas (café, cappuccino, etc.) que ficavam disponíveis gratuitamente.
Agora, eles tiraram as máquinas e estão fazendo um novo contrato. [Quando voltar] só o café puro vai ser de graça, as outras alternativas serão cobradas, afirmou.
**TROCANDO EM MIÚDOS**
Enquanto o mundo borbulha com as tarifas de Trump, vamos olhar um pouco para o que anda acontecendo na nossa vizinhança, a América Latina.
Há tempos que o presidente argentino, Javier Milei, fala em flexibilizar o Mercosul para acordos comerciais. Os uruguaios querem ao menos avaliar a proposta mas ainda estão em cima do muro sobre tomar alguma posição.
Flexibilizar o quê? As normas do Mercosul. O bloco é uma união aduaneira, o que significa que os países envolvidos têm algumas tarifas conjuntas e, em geral, negociam juntos os acordos de comércio exterior.
Os países membros são Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Isso significa que as nações envolvidas não podem fazer acordos bilaterais com outras que não sejam parte do Mercosul.
POR QUÊ?
Porque Milei quer um acordo unilateral com os Estados Unidos, explicando superficialmente.
A lógica de um bloco econômico é que, negociando juntos, os países podem ter mais força e bancar demandas maiores. O ultraliberal discorda desse pensamento.
Ele queria um acordo de livre-comércio com os EUA de forma bilateral, ou seja, não pagar nada na importação de bens americanos e, de forma recíproca, não cobrar nada na transação inversa.
Mas o acordo seria muito mais benéfico para os argentinos do que para os americanos. Os segundos vendem muito mais do que compram deles. Que diferença faria não ser taxado pela Argentina, se eles lucram com a relação como está?
O superávit comercial dos EUA com a Argentina em 2024 foi de US$ 2,1 bilhões (R$ 12,5 bilhões).
Ainda, Donald Trump não está no humor para beneficiar ninguém que não a América. Não esqueçamos do tarifaço (como se fosse possível). Nem os correligionários e puxa-sacos se livraram da investida: a Argentina foi presenteada com uma alíquota de 10%.
Somando esses fatores, Buenos Aires ouviu um sonoro não de Washington. Contudo, Milei continua firme na ideia de flexibilização.
E o Uruguai? Em entrevista à Folha de S.Paulo, a vice-chanceler do governo de Yamandú Orsi afirmou que quer priorizar que os acordos se façam em bloco, mas que uma agenda interna difícil de avançar pode levar à necessidade de flexibilização.
E o Brasil? Lula é um defensor ferrenho do Mercosul e não deve alimentar as ideias de Milei. Ao menos, por enquanto.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
Campeões (?) Executivos avaliam que Brasil, Egito e Singapura podem sair menos machucados do tarifaço que outros países.
Começou mal. Com o encargo de 104% sobre a China, as bolsas de valores asiáticas abriram despencando.
Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Saiba o que pode acontecer se você não entregar a declaração do Imposto de Renda.
Cada vez mais enrolado o imbróglio do Banco Master deflagra brigas no setor bancário brasileiro.

ASSUNTOS: Economia