Veja o que aconteceu nas últimas negociações do dólar, marcadas pela valorização da divisa americana frente ao real e o que importa no mercado
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na última edição do ano, o que aconteceu nas últimas negociações do dólar em 2024, período marcado pela valorização da divisa americana frente ao real e o que importa no mercado nesta terça-feira (31).
**O ÚLTIMO PREGÃO DO DÓLAR DE 2024**
Dólar nas alturas, dólar nas nuvens, dólar dispara...você conhece essas expressões das manchetes dos últimos meses.
Não é para menos, o câmbio bateu recordes e recordes entre novembro e dezembro de 2024.
A moeda americana acumulou alta de 27,50% no ano.
No final da última negociação antes da virada, ocorrida na segunda-feira (30), um dólar custa R$ 6,18. A divisa chegou a valer R$ 6,24 ao longo do dia.
BRIGANDO ATÉ O FIM
O Banco Central não tirou folga nas festas. No pregão derradeiro, realizou mais um leilão à vista no meio da tarde. A prática foi comum no momento de alta.
Os leilões de reservas internacionais realizados pelo BC são uma maneira de tentar estabilizar o preço da moeda usando a lei da oferta e da demanda. Colocando mais dólares na praça, a esperança é que o preço caia.
O dólar pode ter batido (algumas vezes) seu recorde de valor nominal em dezembro, mas está longe de bater seu recorde de valor real, ou seja, considerando a inflação.
O recorde de valor real é de outubro de 2002, durante as eleições que levaram ao primeiro mandato de Lula, quando bateu o equivalente a R$ 8,48 de hoje.
No entanto, já está mais caro do que estava no auge da crise econômica da gestão Dilma Rousseff (PT).
Em setembro de 2015, o dólar estava em R$ 4,1450. Quando corrigido pela inflação americana e brasileira, ele valeria R$ 5,08 -R$ 1,10 a menos do que a cotação atual.
Apesar disso, a valorização foi bem maior naquele período. A divisa teve um ganho de 62% de janeiro de 2015 a janeiro de 2016. Agora, foi de 27%.
OPINIÕES
Especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo aconselham ter cuidado nas comparações entre períodos da história econômica recente no Brasil.
"Muita coisa daquela época não entrava na conta oficialmente, e o resultado primário hoje está melhor. Outro diferencial é que na época da Dilma não havia regra fiscal e hoje temos o arcabouço. Ele não é perfeito, mas está aí", diz Adriana Dupita, economista-sênior da Bloomberg Economics.
E AGORA?
O dólar não deve recuar tão cedo. O mercado financeiro continua em maus termos com as decisões tomadas pelo Executivo em relação às contas públicas e não enxerga empenho para frear o que consideram como gastos exagerados.
Expectativas em relação ao mandato de Donald Trump nos Estados Unidos, que começa em janeiro, também podem pressionar o câmbio. A inflação pode subir por lá.
O dólar está em alta no mundo inteiro. A situação aqui é agravada por questões domésticas, mas é provável que a moeda mantenha sua força em crescimento nos primeiros meses de 2025.
Com base em dados do Fed, o Itaú calcula que o dólar esteja no seu segundo maior valor global da história, atrás apenas dos anos 1980, quando os juros americanos chegaram a 20% ao ano.
**QUEM INVESTIU, INVESTIU**
Afinal, quais os ativos que mais renderam em 2024?
O bitcoin e as ações negociadas nos Estados Unidos, segundo levantamento da consultoria Elos Ayta.
CRIPTO ESTÁ DE VOLTA
Para quem achou que as criptomoedas fossem uma moda passageira, é hora de repensar.
Os ativos cresceram sobretudo no segundo semestre, registrando recordes.
O bitcoin, principal criptomoeda do mundo, mais que dobrou de preço no ano, chegando a US$ 92 mil (R$ 568 mil) na segunda-feira.
Os investidores cripto brasileiros podem ter se beneficiado ainda mais da valorização, uma vez que o dólar, como já falamos aqui, está em trajetória de alta.
Em reais, a criptomoeda está 183,25% mais valorizada em comparação com o final do ano passado.
Um dos propulsores do ganho de valor é a eleição de Trump nos EUA, que já disse em suas redes sociais querer ser o presidente cripto. O mercado espera que a gestão favoreça a modalidade.
MADE IN THE USA
Algumas empresas listadas na bolsa americana tiveram desempenho vantajoso para os investidores.
Os cortes na taxa básica de juros e as expectativas de mudanças na legislação que podem favorecer o capital na próxima gestão deram gás às valorizações.
BDRX é um índice que mede o desempenho de ações estrangeiras no Brasil. É uma carteira imaginária que contém papéis como Meta e Microsoft.
No acumulado do ano, subiu 70,59%.
O índice americano com melhor resultado entre os principais foi o Nasdaq, que reúne empresas de tecnologia e inovação. Subiu 31,38%, aos 19.486 pontos.
O boom da inteligência artificial foi o principal responsável pelo resultado. As ações da Nvidia, empresa que investe no mecanismo, ganharam 179,20% em valor nos 12 meses.
TREMENDO NA BASE
Foi um ano de incerteza generalizada, o que fez com que investidores procurassem ativos que consideram seguros. Leia-se, ouro e dólar.
O índice DXY mede a força da moeda americana frente a outras divisas no mundo.
Ele teve uma alta de pouco mais de 6%.
O ouro subiu 26%.
**E NO BRASIL?**
Quem investiu em renda fixa saiu mais feliz do que aqueles que escolheram a renda variável.
As projeções de alta para a taxa Selic -hoje, em 12,25%- apontam que investimentos como o CDI e o Tesouro podem continuar vantajosos em 2025.
O CDI, que acompanha a Selic, acumulou um ganho de 10,78% no ano.
O índice IHFA (Índice de Hedge Funds da Anbima), que mede o desempenho dos fundos multimercado, acumulou alta de 5,59%.
A poupança teve uma rentabilidade de 7,09% ao ano.
BOLSA BRASILEIRA
A bolsa não segurou nem as perdas com a inflação em 2024. O Ibovespa, índice que reúne as principais ações da B3, terminou o ano com rendimento negativo de 10,36%, aos 120.283 pontos.
É o pior desempenho anual desde 2021.
É uma questão, novamente, de segurança. O preço de papéis em negociações é mais volátil que um ativo de renda fixa. Todo o sentimento negativo ao redor do desempenho da economia brasileira impactou a Bolsa.
Os juros futuros em alta também pesam sobre a avaliação de preço dos ativos, encarecendo dívidas e reduzindo o cálculo de lucro futuro.
**SALÁRIO MÍNIMO DEFINIDO**
Depois de um vaivém sobre qual seria o novo valor do salário mínimo em 2025, o presidente Lula assinou nesta segunda-feira (30) o decreto que determina a quantia: R$ 1.518.
No primeiro ano do mandato, 2023, Lula determinou que o salário mínimo fosse ajustado não somente para corrigir as perdas com a inflação, mas também para garantir um ganho real ao trabalhador.
Para alcançar o resultado, o salário mínimo seria multiplicado pela variação do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) acumulada nos 12 meses encerrados em novembro do ano anterior mais PIB de dois anos antes.
Para conter os gastos públicos, o ministro da Fazenda Fernando Haddad estipulou um conjunto de medidas. Entre elas, mudar a regra de reajuste do piso de pagamento.
A nova regra prevê que o ganho real do piso, acima da inflação, continuará atrelado ao crescimento do PIB de dois anos antes, mas não poderá superar a correção do limite do arcabouço fiscal.
O limite varia entre 0,6% e 2,5% ao ano.
Na regra anterior, o novo salário mínimo seria de R$ 1.528 em 2025.
Na regra atual, fica em R$ 1.518, R$ 10 a menos.
GOL DE HADDAD(?)
A limitação do reajuste do piso salarial é uma das medidas centrais do pacote de corte de gastos, que perderia (mais) força no caso de retirada da proposição.
Houve consenso no governo para revisão da regra e a ideia passou nas casas legislativas sem maiores estresses.
O governo calcula uma economia de R$ 69,8 bilhões entre 2025 e 2026 com as mudanças aprovadas pelo Congresso, um aumento de R$ 2,1 bilhões do previsto anteriormente.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
BETS
Governo divulga nesta terça lista de bets com permissão para atuar no Brasil ao custo de R$ 30 mi. Regras passam a valer nesta quarta; até 103 empresas podem receber autorização para operar 309 sites.
VALE
Governo Lula e Vale selam acordo de R$ 17 bilhões por renovação de concessões de ferrovias. Resolução consensual permite R$ 11 bilhões de aporte imediato; acertos ainda dependem de homologação do TCU.
ASSUNTOS: Economia