Compartilhe este texto

Elevação do Estado


Por Flávio Lauria

04/09/2024 20h06 — em
Espaço Crítico



Comemoramos hoje, a elevação do nosso Estado à categoria de Província, feita através de longa e dura busca da autonomia política, saindo da subordinação ao Pará, feita através de muita paciência velha conhecida da nossa história. Somos um país de pacientes. Sem muito pensar aceitamos o descobrimento; sem imaginação nós fizemos colônia; sem discutir aceitamos a monarquia; através de um grito saímos independentes; noutro grito nos transformamos em república; modelando a nação fizeram de nós uma democracia. Somos um país de paciência para tudo, inclusive de paciência para ver passar o tempo sem nos trazer as soluções prometidas. 

Podemos nos conhecer também como um país de enforcados que no cotidiano e nas diversões públicas alegres nos deixamos enganar pelo barulho das promessas e das ilusões que nos dão esperanças de algum dia amadurecermos como sociedade política.  A paciência nos faz passar o tempo sem reações e nos ajustar aos problemas que não queremos equacionar. Fazemos da fome um processo telúrico e vivemos do vazio que gera a miséria social. Passamos as noites sonhando sonhos infantis sem nunca querer entrar para sentir que nada somos diante dos largos privilégios sociais. Somos democratas, de várias constituições, sem nunca ganhar legitimidade eleitoral. Viajando ao passado, avaliando o esforço consciente de alguns movimentos caboclos, podemos testemunhar pelo que nos contam, que esta nação sempre reagiu contra os desvios nacionais, reações que não encontraram eco na tendência de se copiar instituições, nas inclinações que sempre ou pelas transformações europeias e depois americanas. 

O Brasil que sempre esbanjou energias, em nenhum tempo da sua história, soube preparar o seu futuro. Entregou o que não devia entregar. Transou o que devia amealhar. Paciente, com as coisas e os homens, o povo que aqui foi se formando, se acostumou a dever, empenhando o que já tinha ou comprometendo o que ainda não tinha. Improbos administradores se fizeram estadistas e tudo foi negócio de tirar proveitos. 

No final das contas, se vivemos enforcados, devendo e sempre devendo mais, nossa paciência que é social e individual, nos afaga e nos corrompe, esperando que as coisas que ficam para trás, num dia incerto hão de vir à tona em busca dos salvados do grande incêndio. Se devemos acreditar em alguma coisa sem saber o que, esse crédito damos ao futuro para saber então o que será deste país depois dos enganos históricos. Pacientes, outra vez quem sabe, não faltem aplausos aqueles que em tempos que se foram, foram bons pacientes e não reagiram em favor do patrimônio nacional. 

Depois de ocupados, dificilmente, teremos condições políticas libertárias. Já caminhamos demais para reconquistar o nosso mundo perdido. Pois fizemos da paciência o nosso modo ordeiro de resistir comprometendo nossas riquezas naturais, nossa própria busca de cultura, nosso idioma bem herdado, todos aqueles elementos de formação social que por cinco séculos pareciam estimáveis para consolidar um povo e uma nação.

Siga-nos no
Os artigos, fotos, vídeos, tabelas e outros materiais publicados nesta coluna não refletem necessariamente o pensamento do Portal do Holanda, sendo de total responsabilidade do(s) autor(es) as informações, juízos de valor e conceitos divulgados.

ASSUNTOS: Espaço Crítico