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A ilusão da Democracia


Por Flávio Lauria

10/04/2024 21h22 — em
Espaço Crítico



Escrever sobre a fome no Brasil, futebol e seus descalabros, novos governantes, vereadores, eleição dos presidentes da Assembleia Legislativa, Câmara Federal e Senado da República, talvez ficasse enfadonho ao leitor, então resolvi escrever sobre a construção de uma nova sociedade e a democracia.

Na verdade, a construção de uma nova sociedade passa por uma visão holística dos egos. O que torna o Homem uno, igual é ser cada indivíduo vário. E mais, ter consciência do mundo e autoconhecimento.

A noção mais recente do homem enquanto indivíduo, com seus direitos e possibilidades particulares, vem do liberalismo (devemos lembrar que o novo homem socialista real deu em Stálin, Mao-tse-tungs e que mais). A conformação necessária para o desenvolvimento do sistema capitalista necessitava da tríade igualdade, liberdade, fraternidade.

Este homem liberal era tido como natural. A nova ordem classista trazia um eu empreendedor, pautado pela racionalidade, desprendido das superstições e limitações medievais.

Em termos mais realistas o homem burguês europeu era mais igual que os demais seres humanos, com as benções da Razão Absoluta. Desta forma a escravidão dos negros, normal. A submissão das mulheres e crianças em jornada de trabalho de 16 horas diárias, normal. O imperialismo dos países centrais, normal.

A superexploração da mão-de-obra, normal. Esta concepção naturalista é a base do pensamento autoritário, que viceja nas mais diferentes mentes, independentemente da ideologia propugnada.

O desconhecimento do outro enquanto igual é corolário da concepção natural das diferenças sociais. A Razão Absoluta determina as hierarquias e não a ação do homem.

Assim se algo possuo de diferente, este torna a ser sinônimo de superior. Portanto para os afegãos subjugar as mulheres, humilhá-las e matá-las justifica-se dentro dos desígnios de Deus. Usar e abusar da ignorância e pobreza alheias para enriquecer seja no campo material ou no espiritual, é natural.

Chefes autoritários que praticam o assédio sexual e moral. O político que postula a submissão dos comandados às suas neuroses e psicopatias. O pai que humilha seus filhos, ou vice-versa.

Os democratas que, alçados ao poder, tornam-se ditadores - o poder não corrompe/ o poder revela.
Vamos vivendo a ilusão de democracia, de justiça num país e num mundo que cultiva a diferença socialmente construída, justificada pela Natureza; onde o enriquecimento ilícito, a corrupção, o patrimonialismo constroem iguais, a despeito das enormes diferenças sociais. Infelizmente mudanças estruturais ou institucionais - no sentido metafísico - de nada alterarão o atual quadro, por si sós. Os pós e neo-ismos nada representam em termos de um novo tempo. Vivemos uma época niilista, pragmática, insossa. Os nossos heróis morreram todos.

Talvez, todos nós tenhamos morrido. E não adianta dizer que em nome da soberania nacional e da democracia, não podemos admitir criticas

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