Judiciário sob suspeita
Confesso que fico estarrecido, quando ouço por fontes fidedignas, que um desembargador, seja do TJ, do TRF, do TRT, Ministros do STJ e até do STF, ganham propina para “sentar” em cima de um processo, ou dar uma canetada em favor de quem lhe dá valores em espécie, duas, três e as vezes cinco vezes seu salário, ( e vejam que não ganham pouco).
Havia razões, subjetivas e objetivas, para eu não tratar deste tema. Não é do meu recorte e da minha formação intelectual trabalhar mentalmente roçando os fatos (já disse o poeta francês, "os fatos, ah, os fatos me aborrecem") que não possuam uma escala de temporalidade mais alongada. Sinto-me melhor trabalhando com tendências mais ou menos já assentadas no tempo e com possibilidades de realizar comparatividades com outras sociedades e outras culturas. Por outro lado, objetivamente, estas denúncias já estão completando muito tempo de intensíssima cobertura por todas as formas de Imprensa e em todos os segmentos dos meios de comunicação de massa. Por intensidade e por extensividade, a esta altura, as várias audiências e os vários públicos já estão meio como que saturados de tanta cobertura informativa e analítica e de tanta exposição ao tema. Sei que tem de ser assim, inclusive por que para cada dito há um desmentido, e o noticiário e as análises têm de acompanhar o ritmo dos acontecimentos. Estava tentando não desperdiçar este meu espaço aqui com este tema, e cuidando daquilo de que me sinto mais apropriado para escrever. Além do mais, nunca possuí vocação para ser o cidadão indignado, aquele de carteirinha, ou, mesmo, menos que tal.
Hoje, no entanto, rendo-me a um fato de momento, que é a necessidade historicamente crucial de se falar com clareza e seriedade em vez de ficar declarando vagas miudezas, fragmentos de sabão. Faz-se necessário um pronunciamento, no sentido brasileiro do termo, e não na terrível acepção hispânica. O denunciado, como diz um brincalhão conhecido meu, "ou é, ou deixa de é". Ou, afirmando de modo erudito e acadêmico, citando um dos mais importantes sociólogos em atividade no mundo, o nova-iorquino Immanuel Wallerstein: "O mundo moderno tem sido, ao longo de maior parte da sua história, prisioneiro da doutrina aristotélica do terceiro excluído. Uma coisa é A ou é não-A.
Não existe uma terceira possibilidade." Intelectualmente e existencialmente eu fujo deste aristotelismo extremamente limitador, tendo já de muito tempo absorvido a ideia de que as coisas e as pessoas podem ser duas coisas diferentes ao mesmo tempo, ou pelo menos podem ser medidas e avaliadas de duas formas diferentes. Mas neste momento, angustiante até, de uma crise no judiciário brasileiro, tendo cinco desembargadores do Mato Grosso, usando tornozeleiras, deslustram a honestidade e ética de outros membros, é difícil eu sei, ter ética e comportamentos republicanos na corte brasileira, porque se é realmente honesto e não tem rabo de palha, desvencilha-se de um escroque com duas ou três palavras. A coisa toda é muito chocante para comportar nuances de tratamento. A sucessão de ditos e de desmentidos já se tornou insuportável para a (in)compreensão da população brasileira. Lembremos de um pequeno poema da Gertrude Stein que diz: "Uma rosa é uma rosa, é uma rosa,
ASSUNTOS: Espaço Crítico