Lições de Dom Quixote
Um dos personagens mais marcantes de nossa história, para quem gosta de ler, foi sem dúvida Dom Quixote. Ontem, como hoje, a obra seminal de Miguel de Cervantes Saavedra continua tendo o selo eterno dos valores modernos.
Assim, mais do que nunca, estão vivos o Cavaleiro da Triste Figura e o seu fiel escudeiro Sancho Pança, ensinando a arte de viver e ver o mundo. Dom Quixote nos ensina que o que sonhamos só será possível se vivermos o sonho, ou seja, somos conduzidos a pensar na vida e lutar.
Lembro-me bem quando meu pai me trouxe o livro, comprado, se não estou enganado, na Livraria Acadêmica na Henrique Martins. À época, devo, proustianamente recordar, eu era estudante, do curso ginasial, do Colégio Estadual do Amazonas, sob o comando sério, austero e didaticamente correto do professor Manoel do Carmo Chaves o Maneca, que também foi meu professor de física.
Relendo-o agora, eu me acosto à interpretação feita por Luiz Paulo Horta, quando observa, de forma elegante e nostálgica, que, "com a cabeça virada pelos romances de cavalaria, Dom Quixote, um arruinado fidalgo espanhol da província de La Mancha, saiu um dia pelo mundo a desfazer agravos e injustiças, montado no seu esquelético Rocinante.
A seu lado, enganchado num burro, Sancho Pança era a voz do bom senso; e o melhor do livro (comovente, até) é o modo como os dois vão conversando pelas serras e estradas da Espanha, trocando maneiras de ver - até que, um certo momento, Sancho tem as suas tiradas de Dom Quixote e vice-versa". Por isso, não consigo afastar da minha cabeça a força das ideias desta magistral e sonhadora dupla.
Os conselhos, a filosofia de vida, a obstinação, dão-lhe - e à obra - um toque mágico de eterna juventude. Metáfora à parte, escrito há mais de quatrocentos anos, o texto é de uma teimosa realidade. Sem dúvida, psicografado para os tempos da cibernética. Perfeita, pois, a lição do mestre Ariano Suassuna, quando ensinava: "Meu clássico é "Dom Quixote", de Miguel de Cervantes.
Ele é o autor do livro onde a condição humana foi mais bem expressa na sua polaridade de loucura e rotina. De sonho e realidade”. Agora, vou encerrar este ensaio, já que Dom Quixote me convoca para, montado no seu Rocinante, viajarmos a Sousa, num passeio sentimental ao poético mundo das saudades. Que não acabam nunca. Como Dom Quixote e Sancho Pança.
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