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Manaus, de mil contrastes


Por Flávio Lauria

23/06/2024 14h25 — em
Espaço Crítico



Creio que não tomei a poção mágica do bom humor em doses suficientes, porque me tornei um eterno “do contra” em certos temas, entre os quais incluo a decantada paixão por Manaus, que se tornou moda nos últimos anos. Nascido em Manaus e aqui criado, acho que nossa cidade não é muito pior nem muito melhor do que as demais capitais brasileiras. Igualmente perigosa, igualmente desequilibrada do ponto de vista social, igualmente desinteressante na sua generalidade e igualmente mal cuidada em vários aspectos, sobretudo naqueles que se referem ao seu centro histórico.

Na verdade, Manaus já foi uma cidade melhor do que é hoje e provavelmente voltará a ser um lugar interessante de se viver quando o Brasil se tornar um país melhor, pois as mágicas municipais têm um limite. Os lugares bonitos e bem-cuidados que existem em nossa cidade, existem em todas as cidades: são os recantos onde moram ou que são habitualmente frequentados pela classe média e pelos ricos. Qualquer pessoa que tenha viajado em pouco sabe disso.

Já os locais de grande afluência popular apresentam o aspecto caótico que se tornou rotina em quase todas as cidades brasileiras grandes ou médias. O centro de Manaus virou área de concentração de camelôs, bancas e distribuidores de panfletos a um ponto tal que a circulação de pedestres é quase impossível, independente do prefeito atual ter feito melhoras substanciais de lazer, como o mirante as outras obras. Várias ruas são exemplos disso, mas existe um lugar que se destaca entre todos os demais como exemplo de caos urbano: é a quadra da Eduardo Ribeiro e a Getúlio Vargas, paralelepípedos na principal Avenida do Centro, não melhoram nem lembram os tempos áureos da borracha, fica somente o Teatro Amazonas. Ali se juntam o Tudo Fácil, agências bancárias, pontos de ônibus, camelôs e vendedores de tudo que se possa imaginar, além de dezenas de distribuidores de panfletos.

Quem observar com atenção o movimento daquela quadra verá que parte dos pedestres só consegue caminhar fora da calçada, perto do meio-fio, justamente onde passam os veículos e estacionam os ônibus que ali fazem ponto. Além de todo o absurdo que significa expulsar do passeio quem a ele tem direito absolutamente prioritário, que é o pedestre, a situação criada é potencialmente perigosa no que se refere a acidentes. Não se deve esquecer, além do mais, que se formou ali o cenário ideal para a ação de assaltantes, os quais se aproveitam da aglomeração para agir e escapar com rapidez. Manaus, já foi uma cidade melhor do que é hoje, e, provavelmente voltará a ser um lugar interessante.

Manaus merece de todos nós uma avaliação amorosa, mas realista: é uma cidade razoável, que ainda precisa avançar bastante para se tornar a maravilha descrita na propaganda oficial. Essa é minha opinião, que torno pública ainda que corra o risco de ser considerado do contra, O calor de Manaus, é insuportável, e quem quiser fugir dele, ou paga mais energia (aliás péssima), ou refugia-se em shoppings.

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