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O mistério da vida


Por Flávio Lauria

20/08/2024 8h22 — em
Espaço Crítico



Quando perdemos alguém, seja um parente próximo ou alguém conhecido, ou quando passamos por problemas de uma doença ou um mal súbito, começamos a dar valor a saúde, e por via de consequencia ã vida. Não tenho medo e já repeti isso várias vezes em artigos anteriores, porque acredito que a morte nada mais é do que uma passagem. A passagem de um mundo que conhecemos bem, para outro totalmente desconhecido. E aí observamos mais atentamente, na vida real, uns querendo engolir os outros. Só interesses pessoais, só vem a nós, ao vosso reino, nada. Os pobres esmagados pela ambição desmedida dos insensíveis, insensatos e insaciáveis. Guerras burras golpes cretinos, a humanidade estarrecida com tanta brutalidade. Daqui vejo as pessoas indo para o trabalho e voltando para casa, indo ao cinema, ao teatro, aos shoppings, inseguras e medrosas. Nenhuma reação dos pisados dos massacrados. Dor muda e impotente. Às vezes me sinto estranho no meio desse bando de gente pacata e medrosa. E, sozinho sei que não posso fazer nada. Nosso país tão lindo e rico, cheio de riquezas minerais, vegetais e animais, céu azul, clima excelente, verão quase o ano todo (agora muito mais quente) rios, ribeirões e ribeirinhas, muito ouro, pedra preciosa, sem terremotos, vulcões, nenhum tufão. Mas sem felicidade também. Desempregos, assassinatos, sequestros, miseráveis, madeira roubada.

Desigualdade social, cada vez mais desigual. Dá enjôo da realidade. Em busca de um intervalo na lucidez, tão sofrida, tão desamparada, estive em um hospital. Dali, eu olhei o mundo lá fora sem ser visto, sem ser pisado. Aqueles doentes lá dentro do hospital andavam devagar, quase escorriam, gente morrendo, gente sendo entubada. Mas, também, pressa de fazer o quê e para quê? Saindo dali, sofreriam menos?. Do meu quarto, observei o nevoeiro que descia calmo e sonolento na vidraça da janela cansada. As figuras mornas e torturadas haviam perdido a forma, agora eram retas e escuras, mas ainda andavam e sonhavam na noite cinza.

Tive uma visão que mais parecia um sonho: num planeta azul, de um azul tão lindo que enchia os olhos de lágrimas, a lua cheia, que se diz azul, vi uma humanidade de mãos dadas, solidária, justa, compreensiva e amiga. As crianças, felizes, brincando nos jardins, ou indo para a escola. Os homens, todos honestos e justos, solidários, indo para o trabalho. As mulheres, também nos seus variados locais de trabalho, tranquilas por saberem que os seus filhos estavam seguros a caminho da escola sem o risco de serem torturados na creche por qualquer uma “vóvó”, além de poder frequentar colégios da melhor qualidade, com professores competentes e afetuosos. As casas eram confortáveis, os jardins com flores e as hortas com variadas verduras. Nos parques, além das flores, inúmeras e das mais variadas cores, árvores e árvores repletas de frutas. As avenidas eram limpas e lindas, sem um mendigo. Os rios, caudalosos, de água pura e imaculada. Tive vontade de me beliscar, mas não tive coragem. Preferi o sonho, à realidade. Estava exausto de realidade. Não gostaria de ter que dessonhar tudo de novo, magoando-me. Mas confesso, é melhor ter enjôo da realidade do que pedir demissão da vida.

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