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Para entender o Brasil


Por Flávio Lauria

23/07/2024 18h08 — em
Espaço Crítico



O leitor quer entender o Brasil de hoje? Compare a insolência com que imprensa e parlamentares vêm tratando os memes do Ministro Haddad à covardia abjeta com que se retraem e se deixam humilhar pelo arrogante Demétrio Magnoli e o apedeuta Valdo Cruz da Globo News. Com uma afetação de moralismo cívico que deixa longe todos os Tartufos do teatro universal, fingem escândalo e horror ante a simples divulgação de uns memes, ao mesmo tempo que só com muita cautela expressam algum sentimento de desagrado ante o “senhor da verdade” como jornalista, assim como existem outros que os avilta com uma descarada ostentação de orgulho. 

Um ministro de primeira ordem, que foi um dos melhores prefeitos do seu Estado, que já garantiu seu lugar na história nacional e que para seus eleitores tem um estatuto de herói popular é tratado por suspeita de tentar colocar o país em melhor situação cobrando taxas que deveriam ser pagas há muito tempo. E porque questionar memes, se isso não ofendeu a honra do ministro? Teríamos que acabar inclusive com artigos meus, e de outros articulistas, que formam sem ofender a honra, memes de texto. Esse é o retrato moral do Brasil. 

Políticos e mídia acovardados, rastejando ante a mídia paga, prontos a sacrificar um de seus pares mais ilustres num ritual de autopunição masoquista, mas incapazes de defender a honra da pátria ante uns jornalistas que se julgam superiores. Cabisbaixa e enfraquecida por 22 anos de prostituição da “ética” no leito do oportunismo esquerdista, a classe política e grande parte da mídia, desce àquele penúltimo degrau de abjeção moral que precede a completa rendição do Estado às exigências loucas de fanáticos ambiciosos e totalitários cínicos. 

Neste país só uma coisa provoca revolta, indignação, explosões de dignidade ofendida: desagradar aos que querem melhorar o país. E vejam, não sou de direita, nem de esquerda, só faço os comentários que acho pertinentes, principalmente sobre a grande e maior emissora de televisão do país. Esse é o único crime, a única abominação, o único motivo de desonra. Traficar drogas, matar, estuprar, contrabandear, abrir as fronteiras do país à invasão de guerrilheiros colombianos – tudo isso é perdoável, normal, e até, pensando bem, é mérito. Sim, tudo o que contribua para reerguer aqui o império soviético é bom. Opor-se aos desígnios da história, tal como os entende o ogro do Caribe, é o único pecado. 

Para impor essa nova moral, não faltam recursos aos devotos da nobre causa. Eles monopolizam as verbas federais e estaduais de cultura e de pesquisa científica, controlam a máquina de sugar incentivos fiscais, refestelam-se em contribuições milionárias da Casa Real Inglesa, da Comunidade Econômica Europeia, do Conselho Mundial das Igrejas, das Fundações Ford e Rockefeller e de centenas de ONGs de origem nebulosa – sem contar a possibilidade de que também se beneficiem (como o fizeram tantos partidos e jornais europeus de esquerda “sói disant” moderada) dos recursos da KGB que, no fim da década de 80, foram discretamente privatizados e distribuídos no Ocidente para garantir a sobrevida do movimento comunista internacional após a queda da URSS. 

É um poder descomunal, imensurável, tentacular, que sustenta e move a máquina de mentir, de perverter, de comprar consciências, de transformar o bem em mal e o mal em bem. Não espanta que o senso ético deste país já esteja totalmente invertido, espumando de revolta ante trivialidades e evitando, entre dúvidas hamletianas, já não digo agir, mas simplesmente dizer alguma palavra mais dura contra o crime e a violência triunfantes. O código moral marxista, inversão satânica que torna crimes as ideias e a condição de classe de um indivíduo ao mesmo tempo que louva o homicídio e o estupro quando contribuem para a causa da revolução, tornou-se o novo padrão de julgamento dos atos humanos. 

Enquanto escrevo estas linhas, você, prezado leitor, com o dinheiro dos seus impostos, é forçado a contribuir para que o novo evangelho seja impingido aos corações e mentes das crianças deste país. Há 12 anos, quando começou a “campanha pela ética na política”, adverti: isso é apenas uma gigantesca manobra para destruir lideranças inconvenientes, subjugar a noção de ética aos interesses da estratégia comunista e beatificar a violência revolucionária. Escrevi isso, com todas as letras, nos meus artigos da época. Não é com orgulho, é com tristeza e abatimento, que hoje posso dizer: acertei. Deus sabe quanto eu preferiria ter errado.

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