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Paradoxo estranho


Por Flávio Lauria

26/06/2024 6h26 — em
Espaço Crítico



Época de boi em Parintins, diz uma amiga que mais do que no carnaval, depois de nove meses, o índice de nascimento de crianças, cresce assustadoramente. Fui uma vez ao festival, com todas as mordomias, e verifiquei que realmente a ilha de Parintins, é uma devassidão, mas pelo calor que torna aquela ilha mais quente que Manaus, e pela necessidade da liberdade, principalmente feminina.

Mamilos à mostra, mesmo que aconteça em meio a corpos seminus, nas praias e piscinas, geram bate-boca. E piadas. E assobios marotos. E mesmo brigas. E podem destruir reputações. Cá no Brasil, já deram até prisão.

Juntamente com a genitália (que é, como esclarece o Aurélio, o “conjunto do órgão copulador e anexos nos artrópodes”), eles, os mamilos, são o patinho feio do corpo feminino. Assim sendo, não devem ser exibidos em público. Ao contrário, cumpre que sejam mantidos longe dos olhos alheios.

Apesar disso, o topless, por mostrar o que mostra, a muitos escandaliza. Essa norma é um imperativo da moral e dos costumes vigentes neste país tropical. Se ela resulta igualmente de dispositivo legal ou não, é matéria controversa que não cabe discutir aqui. Suponho que o eventual leitor desta crônica esteja imaginando que este introito vá desembocar numa acusação ou defesa do topless.

Esclareço-o logo: nem uma coisa nem outra. Meu intento é apenas o de divulgar o resultado de um levantamento que fiz não só na ilha do boi, mas à beira-mar, durante cerca de dois meses deste verão. Trabalho sério, embora realizado na base do “olhômetro” atento e imparcial. Sua conclusão – a qual de certa forma já antecipei de início – foi esta: ao contrário do que se costuma dizer, ler e ouvir, não são exatamente os seios desnudos que sofrem restrição e até punição no Brasil.

Contra a exibição de seu formato, de suas cores, de sua rigidez ou flacidez nenhuma reprovação se faz sentir. Eles por aí andam à mostra, não só nas praias e nas piscinas, mas também nas ruas, nos salões, no bumbodromo, e até nos templos religiosos.

A olho nu, contanto que os mamilos estejam discretamente cobertos, podem ser vistos e dimensionados com extrema facilidade, graças aos cada vez mais generosos decotes dos vestidos, blusas, sutiãs e maiôs de uma ou duas peças – todas elas partes de um vestuário feminino a cada dia, a cada verão, mais e mais sumários e transparentes como os céus dos mais belos dias de outono...Lembrado isso, volto aos mamilos.

É através de sua exibição ou não que se costuma avaliar o maior ou menor grau da pudicícia das mulheres de hoje. Se os mantiver cobertos, ainda que, como hoje se observa no litoral e nas piscinas, com uma simples tirazinha à guisa de sutiã, tudo bem, muito a contemplar, nada a reclamar...Postas estas considerações, resta-me compor um final que as justifique, livrando-as de qualquer conotação picaresca passível de má interpretação.

E o que me ocorre é esta lembrança que põe a descoberto este paradoxo: por incrível que pareça, o mamilo é justamente a primeira parte do corpo feminino com o qual o homem visualiza e toma contato, não sem antes reclamá-lo aos prantos... Apesar disso, o topless, por mostrar o que mostra, a muitos de nós escandaliza. Já quanto às nádegas femininas, bem mais carnudas do que os seios, só por não terem mamilos, nenhuma restrição visual. Enfim...

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