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Somos todos cúmplices


Por Flávio Lauria

29/07/2024 8h03 — em
Espaço Crítico



Em meu último artigo no início dessa semana, mostrei a fadiga dos que tentam se perpetuar no poder, mas não expressei minha opinião sobre tempo para políticos, síndicos e quem exerce poder por voto, é simples, é só acabar com reeleição, aumentar o mandato dos ocupantes, e votar consciente. Relembro um filme francês antigo, dirigido por André Cayatte, tem como título “Noas Somes Tous des Assassins” (Somos Todos Assassinos). É um filme de tese, como na época era nomeado e busca mostrar o perigo das injustiças que rondam a adoção da pena de morte. Porém, vai mais longe e defende a tese de que toda a sociedade é responsável pelos comportamentos desviantes de seus membros. Pensando na sociedade brasileira atual, baseando-nos na observação dos fatos expostos na mídia, concluímos que, como dizia Cayatte, se não somos todos assassinos, somos todos cúmplices. O crime de corrupção, sobretudo o da corrupção nas altas esferas, e quando se fala de altas esferas é nos píncaros da administração pública e da sociedade civil, virou endêmico. Empresários, magistrados, legisladores, administradores estão envolvidos nas denúncias que, em vão, a mídia oferece.

O escândalo de hoje serve de borracha para apagar o de ontem. E, levianamente, esquecemos os que ficaram para trás, que canalizaram o dinheiro suado dos impostos pagos pela classe média para o bolso de alguns abonados. O valor que escorre no ralo da corrupção é estimado em 30 bilhões. E a sociedade brasileira mesmo com todas essas manifestações que aconteceram e acontecem, continua omissa, apática e por isso mesmo conivente. Em todas as cidades, lembrando aqui especialmente a nossa, aumenta a taxa de mortalidade em assaltos, apesar do programa Ronda nos Bairros. A discussão política que domina e chega aos jornais não leva em conta as necessidades da comunidade, sendo apenas: quem será o candidato para os cargos majoritários nas eleições vindouras? Qual o índice de aumento de salário do Poder Executivo e Legislativo? Só interessa a cada um o próprio destino político, nem sequer o de seu partido, pois mudam de lado a cada eleição. São de um individualismo feroz e o de um descaso evidente com os interesses sociais.

O ensino básico público no Brasil foi reprovado, e a informação passa ao largo das preocupações da sociedade. Mas é essa educação, atabalhoada, mal ministrada, mal remunerada e mal digerida, que vai gerar já no futuro e já está gerando no presente, os trombadinhas, os aviões do tráfico, os meninos de rua que, sem condições e preparo, não encontram como se encaixar no mundo do trabalho. Muitos, enquanto alunos da escola pública, já estão no mundo do crime, em assaltos à mão armada, fato testemunhado por professores do Centro e da periferia. Assim, a geração dos bandidos atuais, será substituída por outra mais jovem, mais preparada e mais aguerrida, pelos que sobreviveram à guerrilha urbana.

Somos todos cúmplices e coniventes, porque nos omitimos. Nunca estivemos tão indignados, mas, sempre estivemos sendo roubados, surrupiados em nossos direitos mais básicos de viver dignamente. E aqui finalmente relembro uma frase de Victor Hugo em os Miseráveis: “Os grandes são grandes porque talvez os seus súditos estejam de joelhos”.

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