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Barbieri treina clube mexicano que quer ser exemplo contra narcos e cartéis

Por Folha de São Paulo

29/06/2024 12h00 — em
Esportes



RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) - Quem assistiu a série "Narcos, temporada México", da Netflix, se aprofundou um pouco mais sobre o cenário do narcotráfico no país. A guerra dos cartéis foi uma das tônicas mais exploradas e evidenciou algumas das violentas gangues, como a de Juárez, cidade onde está o brasileiro Mauricio Barbieri, que é técnico de um clube que leva o mesmo nome da região e que tem como filosofia ser uma referência positiva aos jovens, já que muitos deles têm nos sicários (pistoleiros) um espelho na vida adulta.

Eles (mexicanos) contam que há uns 15, 20 anos, era uma cidade muito complicada, em guerra mesmo, com toque de recolher. O termo feminicídio, por exemplo, surgiu em Juárez. A presidente do clube (Alejandra de la Vega), sempre apregoa muito que o fato dela manter o clube é para ajudar as crianças a terem outra referência que não a do narco. Para ela, é muito importante que o clube dissemine valores. Ela me disse que, há alguns anos, se você perguntasse a uma criança na rua o que ela queria ser, ela dizia que queria ser sicária, que eram os matadores de JuárezMauricio Barbieri, ao UOL

JÁ FOI CONSIDERADA CIDADE MAIS VIOLENTA DO MUNDO

Juárez chegou a ser considerada, em 2009, a cidade mais violenta do mundo de acordo com a organização civil mexicana "Consejo Ciudadano para la Seguridad Pública". Porém, desde que chegou ao clube, em fevereiro deste ano, Barbieri nunca presenciou um episódio de violência e acredita que o poder do narcotráfico na região diminuiu, apesar de ainda ocorrerem recomendações.

No início, nos hospedaram no hotel até procurarmos casa. Daí saímos para comer e tinham alguns restaurantes próximos. Entramos em um deles e todo mundo começou a olhar, percebemos que estavam vendo que não éramos dali, mas sentamos, comemos tacos e tal, saímos e não teve problema nenhum. Acho que um ou dois dias depois, estávamos conversando com um funcionário do clube e perguntamos como que era, onde poderíamos ir e tal. E ele começou a apontar: 'esse restaurante é bom, aquele ali é bom...', e aí apontou para o que a gente tinha ido e falou: 'esse aí não recomendo, porque às vezes é perigoso'. Então caímos na gargalhada pois tínhamos ido bem no que era roubada, mas não aconteceu nada, foi tranquilo (risos)Mauricio Barbieri

MURO FRONTEIRIÇO COM OS EUA

Juárez é separada da cidade americana de El Paso, no Texas, por um muro. Por causa disso, o fluxo de pessoas é intenso todos os dias e há uma influência de cultura entre os dois países.

Juárez e El Paso acabam sendo uma metrópole só, interagem muito, há muito trânsito de pessoas dos dois lados. El Paso, apesar de ser uma cidade americana, tem 80%, 90% da população de origem latina. Qualquer lugar que você vá em El Paso falam espanhol. Até brincam aqui que já estou aprendendo 'spaninglish' (risos), porque eles falam espanhol junto com inglês. Juárez chamam de cidade bicultural, de ter muito essa influência americana, mas ser uma cidade mexicanaMaurício Barbieri

VENTOS DE ATÉ 90 KM/H INTERROMPEM TREINOS E JOGOS

Por estar numa região desértica, Barbieri sofreu um pouco, no início, com a questão do clima, mas já se sente adaptado. Algo, porém, que ainda soa como uma novidade são os fortes ventos que, por vezes, chegam a interromper treinos e jogos.

Eles usam muito um aplicativo que acompanha as condições dos ventos. Tem dias que você até consegue treinar, só que é impossível treinar a bola parada, porque se bate a bola de um lado, ela vai para outro. E tem dias que não dá para treinar, porque é vento de 80, 90 km/h. E como é deserto, sobe aquela areia e tu não enxerga nada. No último jogo do torneio, o horário em que ia ter mais vento era o do jogo. Tentamos convencer a federação a mudar, mas não teve jeito, jogamos e parecia que um time estava jogando com o campo assim e o outro assim (mostra uma inclinação com as mãos), porque batia o tiro de meta e ela não passava do meio-campo por nadaMauricio Barbieri

INÍCIO DE TRABALHO TEVE ACIDENTE FATAL DE JOGADOR

Logo em seu início de trabalho, Barbieri precisou lidar com a morte de um jogador do elenco (Puma Cháves), que se envolveu em um acidente automobilístico.

Eu tinha dois dias de treino e um dos jogadores do elenco se envolveu num acidente de trânsito e faleceu. Foi uma coisa que comoveu todo mundo, mexeu com o clube, com a Liga. Então, eles adiaram nosso jogo contra o Puebla para uma Data Fifa. Esse foi o primeiro momento mais conturbadoMaurício Barbieri

CONSEGUIU FEITO INÉDITO E TIROU TIME DA LANTERNA

O Futbol Club Juárez foi fundado apenas em 2015 por um grupo de seis famílias, duas de El Paso (EUA) e quatro de Juárez (MEX). Atualmente, é controlado pelo Grupo Pachuca, que tem como um dos proprietários o presidente do Talleres (ARG), Andrés Fassi.

Barbieri vive sua primeira experiência no exterior e tem o primeiro trabalho após deixar o Vasco, em junho de 2023. Mesmo com pouco tempo, já alcançou um feito inédito e também conseguiu tirar o time da lanterna.

Como o Campeonato Mexicano é feito no formato de franquias, não há rebaixamentos, mas os clubes que ficam nas últimas posições precisam pagar uma multa significativa à Liga, algo que o Juárez se livrou sob comando do técnico brasileiro.

Tivemos uma sequência difícil, contra três equipes que brigam pelo título, e não conseguimos resultados de início. Mas daí com umas três semanas, começamos a encaixar o trabalho e os resultados vieram. Tivemos a primeira vitória em um amistoso e depois uma sequência de três vitórias. Ou seja, foram quatro seguidas, algo inédito na história do clube. O Juárez é uma franquia relativamente nova, está se estruturando. Conseguimos terminar bem o torneio. O time ficou muito tempo em último (18º) e depois terminou em 12º. Agora estamos no processo de reestruturar o elenco para iniciar o Apertura de outra maneiraMaurício Barbieri


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