Brasileira virou uma das melhores do mundo em pickleball nos EUA
RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) - Modalidade que se tornou febre nos Estados Unidos, o pickleball tem uma brasileira dentre as estrelas. Uma das atletas mais bem ranqueadas no tour, Mariana Humberg largou o emprego e, aos 28 anos, vive um sonho no esporte. Ela ganhou fãs ao redor do mundo e, de quebra, auxilia o aumento do número de adeptos no Brasil.
"Falei: 'Eu vou tentar porque, se não, vou me arrepender'. Tenho de curtir isso agora, poder jogar um esporte profissionalmente. E sou a primeira geração de jogadora profissional desse esporte, isso é uma história que eu vou poder contar pra sempre. Estou competindo com os melhores. É bem legal ser parte disso", diz Mari Humberg.
CELEBRIDADES ADERIRAM AO PICKLEBALL
A Confederação Brasileira de Pickleball descreve a modalidade como um "esporte dinâmico que combina elementos do tênis, badminton e pingue-pongue, sendo jogado em uma quadra menor com raquetes maiores e uma bola leve". Ele também pode ser jogador individualmente ou em duplas, a céu aberto ou em locais fechados.
As dimensões da quadra são 13,41 metros de comprimento por 6,10 metros de largura, tanto para jogos individuais como duplas. As raquetes são uma mistura do material usado no tênis com a proposta do tênis de mesa, e a bola é de um tipo de plástico.
O pickleball se tornou uma febre nos Estados Unidos e foi um dos esportes que mais cresceu nos últimos anos, conquistando até mesmo celebridades como os cantores Justin Bieber e Drake, o ator Jamie Foxx e o astro do basquete LeBron James que investiu em uma equipe da Major League Pickeball.
Segundo Steve Kuhn, fundador do MLP, há uma expectativa de chegar a 40 milhões de praticantes até 2030. A Associação da Indústria de Esportes e Fitness dos EUA publicou, em 2022, relatório que apontava para 4,8 milhões de jogadores no país no ano anterior.
"Ele bombou durante a pandemia de covid-19. Como todo mundo estava mais em casa e esse é um esporte que você mantém a distância... Acho que é um esporte muito fácil se apaixonar, é divertido para a família inteira. A partir de 2020 começou a crescer muito o número de quadras. Eu moro em Louisville, no Kentucky, uma cidade de 600 mil habitantes. Tem mais de cem quadras públicas e estão sempre lotadas", aponta a brasileira
Um vídeo de Mari ao lado de Ed Ju, influencer da modalidade, foi publicado há menos de um mês e já tinha atingido mais de 140 mil visualizações.
"Ainda não é a escala de outros esportes, mas os atletas estão virando celebridades. A gente chega às competições e o povo animadíssimo para ver, querem tirar foto, pedem autógrafos. E aqui no Brasil está começando", afirma Mari.
Ela própria também utiliza as redes sociais para publicar vídeos com dicas para quem quer jogar, e vê o engajamento aumentar. "Toda vez que volto [ao Brasil], tem muito mais gente jogando e muita gente me acompanhando. Recebo muitas mensagens de brasileiros. Está crescendo, realmente, muito rápido. Imagino que possa ser um movimento igual ou até maior que o do beach tennis, que explodiu há alguns anos".
O sucesso do pickleball fica evidente com o fato de grandes marcas do esporte olharem para a modalidade. "Assinei com uma marca que eu estou super animada. Vou ter de esperar um pouco para anunciar (risos). Mas as marcas imensas estão entrando muito forte e estão adaptando o marketing para esse novo mercado".
COMO ENTROU NO PICKLEBALL?
Mari nasceu em São Paulo e, devido ao trabalho do pai, teve idas e vindas aos Estados Unidos, até que se estabeleceu no país em 2014. Aos 18, recebeu uma bolsa para jogar tênis por uma universidade da Carolina do Sul. Encerrou a carreira no tênis universitário atuando pela Universidade de Louisville.
Ela se formou em Economia, com especialização em Marketing, em Louisville, em 2018, e começou a trabalhar em um empresa local de tecnologia de publicidade. Em 2022, começou a praticar o pickleball e, recentemente, tomou a decisão de se dedicar 100% ao esporte.
"É um conforto ter o trabalho, a rotina e saber que o dinheiro vai entrar. Eu não consegui viver o sonho de ser profissional no tênis. Cheguei a um nível bem legal, joguei em uma conferência super forte nos Estados Unidos, contra as melhores do país, mas parei aos 22. Encontrei esse esporte aos 26 e me apaixonei de novo. Não sabia que estava sentindo tanta falta do esporte. Basicamente, o que aconteceu foi que as ligas começaram a assinar com os atletas e passou a ter um pouco mais de garantia financeira. Eu treinava antes e depois do trabalho, mas eu não conseguia me dedicar como as pessoas contra quem estava jogando. Assim que teve uma garantia, eu decidir viver isso".
Humberg fez parte de uma geração do tênis brasileiro que teve nomes como Bia Haddad, Luisa Stefani, Ingrid Martins e Carolina Meligeni. "Foram as meninas com quem cresci jogando. Algumas foram na rota direta profissional, eu, Ingrid e Luisa, por exemplo, fomos para faculdade nos Estados Unidos. Elas seguiram no circuito e torço muito por elas. Outra que era parecida na minha idade era a Sophia Chow, que neste domingo (5) é profissional do beach tennis".
E será que rolaria um encontro e um desafio do grupo? "Ia ser divertido. Eu acho que a minha chance no pickleball está melhor do que a minha chance no tênis. Contra elas, no tênis, eu vou tomar fácil (risos)".
O QUE MAIS ELA FALOU?
O que teve de adaptar do tênis? "Bastante coisa, na verdade. A raquete não tem cordas, é de carbono, mais lisa. Não dá para gerar o spin e a força que você gera da raquete de tênis. Então, tive de adaptar os meus golpes. Ter os golpes ajudou, claro, sabia fazer o movimento, mas tive de fazer na metade. Os golpes de tênis são imensos e no pickleball você está muito próximo um do outro, não tem tempo de fazer o mesmo movimento.
Vocês que são pioneiros no esporte, pensam em vê-lo nos Jogos Olímpicos? "Sem dúvida. É um sonho de criança de poder jogar as Olimpíadas. Espero que seja logo, porque aí eu posso jogar (risos), poderia representar o Brasil. O processo para entrar nas Olimpíadas não é tão simples, mas é uma modalidade que tem crescido muito internacionalmente. Só para você ter uma ideia, neste ano, que vão ter torneios na Austrália, Índia, Espanha, Dubai. Está expandindo muito e o nível está melhorando".
Você esteve no tênis universitário, caminho que quase foi o do João Fonseca. Tem acompanhado ele? "O João é excepcional, um jogador incrível. Ele parece estar fazendo tudo certo e está jogando em um nível absurdo para a idade dele. Acho que, para ele, fez sentido pular a faculdade. Mas o que eu quero falar aqui é que não acaba o sonho de ser profissional se for para a faculdade. Eu, a Ingrid Martins e a Luisa fomos para a rota do college. Depois da faculdade, eu parei e elas seguiram no profissional. O meu não era mais meu sonho. Eu parei de jogar e fui trabalhar, não tem problema algum, mas acho que a faculdade é uma opção muito boa porque dá para você estudar, se formar e continuar melhorando seu nível de tênis. O esporte é muito valorizado nos Estados Unidos, é muito legal competir com um time. Foi uma adrenalina muito boa".
ASSUNTOS: Esportes