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Como astro argentino fez time europeu doar dinheiro para revolução mexicana

Por Folha de São Paulo

27/03/2025 14h15 — em
Esportes


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(UOL/FOLHAPRESS) - Javier Zanetti foi um dos grandes jogadores da história da seleção argentina e da Inter de Milão, mas não teve a carreira marcada apenas pelo futebol dentro de campo. Fora dele, o ex-lateral se notabilizou por ações solidárias, como quando ajudou o clube italiano a fazer doações para o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), um movimento social armado do México.

O QUE ACONTECEU

O EZLN nasceu em 1994, quando um grupo de camponeses indígenas de Chiapas, no México, se rebelou contra o governo após o NAFTA (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) entrar em vigor. O tratado era visto por eles como exemplo de submissão ao poder americano, e o grupo tinha o objetivo de defender os direitos da população indígena.

O movimento ganhou fama em nível mundial e impactou um ainda jovem Javier Zanetti. Naquela época, o 'Pupi' estava dando seus primeiros passos no futebol com o Banfield da Argentina. Com apenas 66 partidas disputadas na primeira divisão do país, ele foi contratado pela Inter de Milão, segundo informações do jornal mexicano La Prensa.

A distância não impediu que Zanetti se mantivesse conectado às notícias relacionadas ao EZLN. Um dos motivos de identificação do lateral com o grupo se deu por ser originário do bairro El Docke, uma das áreas mais marginalizadas da região metropolitana de Buenos Aires.

A relação entre Zanetti, Inter e EZLN começou em 2003. Um dirigente do clube, Bruno Bartolozzi, voltou de uma viagem ao México e contou para o lateral como sofriam as populações indígenas do país latino-americano. O cartola se solidarizou após o ataque de paramilitares na base zapatista de Zinacantán: "Quisemos restituir o que eles perderam com essa repressão".

Em 2004, Zanetti, que já colaborava na Argentina com instituições de defesa dos índios, começou uma coleta com os colegas de time —entre eles o brasileiro Adriano— e até mesmo jogadores do arquirrival Milan. Com o dinheiro e as doações em mão, uma delegação do time italiano viajou para o México.

Convencida por Zanetti, a Inter de Milão doou 5 mil euros de multas por atraso e mau comportamento para que o EZLN pudesse construir um hospital e uma escola no território de Chiapas. Também foram doados equipamentos esportivos (como bolas e chuteiras) e várias camisas da Inter com o número 4 - de Zanetti - nas costas, além de uma ambulância.

Zanetti ainda enviou uma carta de próprio punho aos zapatistas. "Como vocês, acredito num mundo melhor, um mundo não globalizado, enriquecido pelas nossas diferenças culturais e pelos costumes de todos os povos. É por isso que nós vos queremos apoiar nesta luta, pelas vossas raízes e pelos vossos ideais".

O gesto de Zanetti foi aplaudido, elogiado e respondido pelo Subcomandante Marcos, histórico líder do movimento. Com a tradicional balaclava que caracteriza o grupo e um cachimbo na mão, ele agradeceu a ajuda: "Irmãos do time italiano, irmãos futebolistas, desejo o maior sucesso para suas campanhas, afinal, vocês têm consciência para construir um mundo com justiça e dignidade".


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