Diretores de teatro e cenógrafos elogiam abertura dos Jogos, mas ressaltam dificuldades
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "É apavorante pensar na complexidade", afirma Daniela Thomas sobre a cerimônia de abertura dos Jogos de Paris. Ela foi uma das diretoras criativas da inauguração das Olimpíadas do Rio, em 2016.
"Tenho muito pena dos diretores de palco. Só de pensar na trabalheira que é ordenar essa extensão", acrescenta ela, que é diretora de teatro e dramaturga, sobre o evento ter acontecido ao longo do rio Sena --pela primeira vez, a cerimônia ocorreu fora de um estádio.
A própria cidade foi cenário --quem encabeçou o espetáculo foi o premiado diretor francês de teatro Thomas Jolly-- ainda que a chuva, um fator incontrolável, tenha tirado parte do potencial visual.
Para o figurinista e cenógrafo Renato Bolelli Rebouças, a escolha está ligada à sustentabilidade. "Me parece que essa estratégia de ir para a cidade tem uma relação de economia de produção de cenário, que é interessante pensar. Diminui resíduo dos materiais, dos tecidos", diz.
Dividida em atos, a cerimônia exibiu a cultura francesa, destacando música, dança e artes plásticas. "Todo mundo conhece [a França], estudou a história do rei da França, Revolução Francesa, tem mais conhecimento", diz Thomas.
Para Gabriel Villela, diretor de teatro, cenógrafo e figurinista, o evento remeteu a duas experiências bem brasileiras: o Carnaval de rua e o Festival de Parintins.
Com o espetáculo, Rebouças diz que a França afirmou o passado e o contemporâneo de forma crítica. "É uma união entre o simbolismo e contemporâneo, quem é a França hoje, quais valores quer mostrar." Exemplos disso são os elementos presentes na apresentação que fazem parte do imaginário coletivo, como o Fantasma da Ópera e uma Maria Antonieta decapitada.
Além disso, a cerimônia ao vivo contou com partes gravadas, exibidas em telões para quem assistia presencialmente. Segundo Thomas, essa mistura funcionou melhor para quem assistia pela televisão.
A ideia, para ela, não pareceu bem executada. "A parte filmada foi o mais difícil. Uma qualidade amadora na maneira de filmar, uma maneira meio cômica que não está combinando com o ao vivo", afirma. "Criativamente curioso esse descompasso entre o filmado e o ao vivo, que é muito mais interessante."
Ao longo de 6 km do rio, apresentações agitaram o público. Uma das estrelas foi Lady Gaga, que apresentou uma performance de cabaré com muitas penas rosa da música "Mon Truc en Plumes", que ficou famosa com Zizi Jeanmaire. "Boa noite, bem-vindos a Paris", disse a artista americana antes de começar a cantar em francês em um microfone cravejado em strass pretos. O figurino usado tinha a assinatura de Christian Dior.
Assim, houve a união de elementos contemporâneos e históricos. Até os Minions, personagens da franquia "Meu Malvado Favorito", apareceram. "Muito teatral tudo, o que casa isso é a elegância, educação e dinâmica do teatro francês com suas heresias, suas modernidades, festas de rua", afirma Villela.
A banda de rock Gojira também deu um gás no evento, com uma performance nas janelas de um castelo.
Segundo Thomas, era o momento de liberdade, da emancipação política, que ganharia mais destaque se fosse feito de noite. "É desafio fazer na luz do dia."
Para Vilela, houve outros momentos transgressores, como o desfile embalado por música eletrônica. "As épocas e tempos franceses estão muito bem contados no figurino tradicional e na quebra tradicional que fazem com rap, com desfile LGBT, que parecia uma santa ceia."
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