Maquiadora de famosas pode se tornar a primeira pastora transexual do Brasil
A história de Sal Moretti promete dar o que falar entre os evangélicos. A maquiadora de 34 anos, que já trabalhou com famosas como Ana maria Braga, Hebe Camargo e Preta Gil, há dois começou a fazer transição de gênero e pode se tornar a primeira pastora trans do Brasil.
Nascida na Bahia como Salvador, ela conta que sentiu aprisionada em um corpo de menino, que não sentia como seu, por 18 anos de sua vida. Aos 9, descobriu sua fé ao conhecer a história de Cristo: “Achei Jesus o máximo. Jesus não excluí ninguém”, conta ela, que na infância tinha como passatempo predileto brincar com as primas e ficou triste no seu aniversário ao ganhar roupas de menino. “[aos 5 anos] Eu colocava as pulseiras delas, encurtava meu short, dobrava a camiseta. Me sentia como elas”.
Mas apesar da fé sempre presente, as igrejas viraram as costas para Sal: “Fui bem tratada em todas, mas não para ficar, para frequentar. Eu teria que me curar se quisesse fazer parte”, explica ela que tentou buscar 'a cura', sem sucesso, seguida da transformação de gênero com cirurgias no rosto e seios.
Após uma busca por algum lugar que a aceitasse, finalmente conseguiu se sentir amada na Igreja Pentecostal Anabatista.
“Não me importa o título que venha a ter. Hoje já tenho meu ministério, vou aos encontros de jovens. Não levanto a bandeira LGBT ou a bandeira evangélica. Levanto a bandeira do ser humano. Quero que outras pessoas se sintam como eu: respeitadas por serem quem são”.
Confusão na adolescência
A adolescência de Sal foi marcada por falta de compreensão. Naquela época, ao contrário de hoje em dia, o assunto da transexualidade não era abordado. Aos 14, se desesperou com os pelos no corpo. “Eu não entendia porque as meninas da minha idade não tinham e eu sim”. Aos 16, começou a se vestir de mulher. “Foi um choque, mas nunca liguei para o que as pessoas pensavam de mim. Mas o que Deus pensava. Sempre fui muito ligado à espiritualidade e aquilo me torturava: pensar que eu estava decepcionando Deus, meu criador”, conta.
Tentativa de suicídio
Apesar da vida profissional em ascensão, Sal começou a sofrer por não aceitar sua própria transexualidade. “Mas aquilo me consumia dia e noite. Eu caí em depressão e depois tive síndrome do pânico. Eu só tinha forças para trabalhar”.
“Aos 31, tentei me matar. Subi a Pedra da Gávea e iria me jogar, até que ouvi uma voz e achei que estivesse louca mesmo”, relembra ela, que crê que a voz era de Deus, e então descobriu que sua fé poderia ajudá-la a aceitar quem ela se sentia por dentro e começar do zero.
Última vez como homem
Foi quando Sal decidiu passar pela transição de gênero. “Fui padrinho da Preta com uma barba enorme. E eu já sabia que aquele evento seria o último em que apareceria de homem”, diz.
“Demorei muito a aceitar ir à igreja porque já havia vivenciado outras experiências de exclusão. Até me sentir amparada pelos meus pastores. Hoje as pessoas no culto não me olham como alguém diferente delas. Eu sou a Sal”, conta ela, que apesar do respeito, também sente o preconceito de homens e sente a solidão agora que está solteira. “Detesto o olhar de alguns homens. Meu corpo não é um parque de diversões. Ele é templo do meu espírito. Ser mulher é muito difícil. Sou vista por muitos como um fetiche. O homem que andar de mãos dadas comigo na rua terá que ser aquele que ama minha alma”.
Fonte: Jornal Extra
ASSUNTOS: gospel, trans, transexual, Famosos & TV