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Anúncio de Zuckerberg ressalta diferenças entre progressista Califórnia e conservador Texas

Por Folha de São Paulo

12/01/2025 9h15 — em
Mundo



SÃO PAULO, SP (FOLHARPESS) - A expressão "Don't California my Texas" (algo como "não transforme o meu Texas em uma Califórnia") passou a ser usada como bordão político, vem inspirando estampas de camisetas e aparece cada vez mais em suvenires comercializados nos Estados Unidos. A frase representa a rivalidade entre os dois estados, que aumentou nos últimos anos com as transferências de equipes e instalações das empresas de big techs do território californiano para o texano.

Esse movimento ganhou um adepto de peso na última terça-feira (7). Ao anunciar mudanças em suas práticas de moderação de conteúdo, o fundador e CEO da Meta, Mark Zuckerberg, disse que também irá deslocar parte de seus funcionários para o Texas.

A escolha do novo local não é por acaso: enquanto o primeiro estado é visto como uma fortaleza progressista, o segundo é considerado um bastião conservador.

Califórnia e Texas são os estados mais populosos e com as maiores economias dos EUA. Na política, estão em lados opostos. A primeira protege o direito ao aborto, enquanto o segundo proíbe o procedimento. Uma tem normas rígidas para a concessão do porte de armas; o outro libera com facilidade. A lei californiana prevê a proibição completa de carros movidos a gasolina até 2035, enquanto a texana dificulta investimentos estaduais em empresas que descartaram o uso de combustíveis fósseis.

As diferenças ficam evidentes nos pleitos presidenciais. Os candidatos do Partido Democrata vencem na Califórnia, de forma ininterrupta, desde 1992, enquanto os republicanos são os mais votados no Texas desde 1980. São locais em que a vitória é considerada certa para os estrategistas das legendas.

Ainda que a população desses estados, em geral, incline-se a espectros políticos distintos, uma pesquisa do instituto YouGov feita sob encomenda do jornal Los Angeles Times apontou que as diferenças culturais entre as duas regiões não são tão significativas quanto parecem.

De acordo com o levantamento, divulgado em 2023, parcela semelhante da população de ambos os estados se identifica como moderada --32% dos californianos, e 31% dos texanos. Quando questionada se o governo deveria agir para resolver problemas e atender às necessidades das pessoas, a maior parte dos entrevistados nas duas regiões defendeu mais ações --61% na Califórnia, e 55% no Texas.

Mesmo em temas considerados espinhosos, incluindo aborto, casamentos de pessoas do mesmo sexo e crise do clima, as diferenças entre californianos e texanos são, no máximo, de 13 pontos percentuais.

O cenário muda, porém, em um segmento específico: o da população branca em cada estado. Se levado em conta apenas esse grupo, as divergências aumentam de forma considerável. E são os brancos que mais ocupam cargos de poder e também os que mais comparecem às urnas.

Ainda segundo a pesquisa, 58% dos californianos brancos são a favor do direito ao aborto em todos ou na maioria dos casos, enquanto 52% da população branca no Texas se opõem ao procedimento.

"Tanto na Califórnia quanto no Texas, as prioridades políticas do governo estadual seguem em grande parte as preferências de seus moradores brancos --uma minoria da população, mas ainda assim a maioria dos eleitores em ambos os estados. Isso empurra a Califórnia mais para a esquerda, e o Texas mais para a direita", diz a publicação do Los Angeles Times.

Na Califórnia, hispânicos são a maior parte da população (39,4%). Brancos vêm em seguida (34,6%). Os asiáticos são 15,1%, e negros, 5,3%, de acordo com o último Censo americano. O primeiro grupo também tem parcela expressiva no Texas (39,2%), e os brancos aparecem ligeiramente à frente (39,7%). Negros são 11,8%, e asiáticos, 5,3%.

O Texas, como os demais estados do Sul dos EUA, é historicamente mais conservador --traço que estava por trás, por exemplo, dos conflitos que culminaram na Guerra Civil Americana (1861-1865). A Califórnia, por sua vez, tem seu progressismo ligado a fatores variados, como a composição demográfica, o fato de ser um polo importante da produção cultural e acadêmica e mesmo o de ser sede de atuação mais forte de grupos sindicais --cerca de 1 a cada 5 residentes tem um membro na família que integra um sindicato, segundo a pesquisa do YouGov.

Além de Zuckerberg, o bilionário Elon Musk, dono do X e da Space X, também tomou a decisão de transferir parte de sua empresa da Califórnia para o Texas. Apple e Google são outros gigantes que fizeram o mesmo. Essas companhias buscam maximizar os ganhos com menos burocracias e impostos. No caso da Meta, a transferência ainda tem o objetivo de diminuir a "preocupação com o viés" político de seus moderadores, segundo Zuckerberg.

O triunfo de Donald Trump em novembro passado mostrou, mesmo na Califórnia, que eleitores de cidades menores, no interior, voltaram-se para os republicanos. Kamala Harris venceu em seu estado, mas dez condados californianos fora dos grandes centros migraram do Partido Democrata para o Republicano. No Texas, cidades grandes como Austin e Dallas registraram a maior parte do voto na legenda democrata, mas condados na fronteira com o México, historicamente mais democratas, desta vez elegeram Trump.


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