Após novos casos, Wuhan, berço da pandemia, planeja testar 11 milhões de habitantes
BAURU, SP (FOLHAPRESS) - Autoridades de Wuhan traçaram um plano para testar, em dez dias, todos os 11 milhões de habitantes da cidade chinesa considerada o berço da Covid-19.
Depois de mais de um mês sem registrar novas contaminações, Wuhan confirmou, no sábado (9), o caso de um homem de 89 anos que recebeu o diagnóstico de Covid-19. No domingo (10), outras cinco pessoas do mesmo bairro também tiveram testes positivos para o novo coronavírus.
O plano de testagem em massa vem como uma rápida resposta de autoridades chinesas na tentativa de impedir que uma segunda onda de contágios frustre as medidas de contenção impostas até aqui e cause ainda mais mortes.
De acordo com o documento publicado no site do jornal The Paper, de Xangai, cada um dos 13 distritos de Wuhan tem dez dias para preparar testes e aplicá-los em todos os seus habitantes.
A operação de emergência, tratada no documento como uma "batalha de dez dias", deve enfocar a população de idosos, pessoas doentes e comunidades de maior densidade populacional, incluindo de imigrantes.
Espera-se que a testagem em massa seja uma abordagem mais efetiva para lidar com casos como o do idoso que recebeu o diagnóstico no sábado.
Ele teve febre em 17 de março, mas se recuperou em casa ao longo de dez dias. Em abril, voltou a apresentar problemas de saúde e só então procurou um hospital até que, na semana passada, fez o teste e teve a infecção pela Covid-19 confirmada.
Nesse período, sua esposa e outros dois casais de idosos do mesmo bairro também foram contaminados.
De acordo com Wu Zunyou, chefe do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças, existem outros casos similares. "Na verdade, há mais de um caso em Wuhan: o curso da doença pode durar de 30 a 50 dias para alguns pacientes", disse Wu em entrevista à emissora estatal CCTV.
"O vírus pode levar mais tempo para se manifestar em pacientes com imunidade fraca, que também estão propensos a manifestar ou não os sintomas."
Wuhan concentra 3.869 (83%) do total de 4.633 mortes em decorrência do novo coronavírus confirmadas oficialmente na China. O número no país, de acordo com a universidade americana Johns Hopkins, ultrapassa a marca dos 84 mil casos até esta terça-feira (12).
De acordo com a atualização diária dos casos divulgada pela Comissão Nacional de Saúde da China (NHC, na sigla em inglês), foi confirmado, nesta segunda-feira (11), um único novo caso de Covid-19. Trata-se de um caso importado na Mongólia Interior, região autônoma da China.
O país não inclui, entretanto, casos assintomáticos entre os confirmados, de modo que o número real pode ser muito maior do que indicam as estatísticas oficiais.
Em Wuhan, de acordo com a agência de notícias Reuters, há centenas de casos de pacientes sem sintomas sendo monitorados pelas autoridades.
A cidade, onde os primeiros casos da doença foram registrados ainda em 2019, decretou quarentena em 23 de janeiro. Em 8 de abril, retomou as atividades.
A Coreia do Sul, que vinha conseguindo controlar a maior epidemia da Ásia fora da China, vive um cenário de preocupação crescente com uma segunda onda de contágios relacionada à vida noturna, principalmente no distrito de Itaewon, em Seul.
No sábado (9), a prefeitura da capital sul-coreana determinou o fechamento de todos os bares e casas noturnas da cidade após a confirmação de novos casos do novo coronavírus.
Segundo as autoridades de saúde do país, um homem de 29 anos recebeu o diagnóstico de Covid-19 depois de ter estado em pelo menos cinco bares em um fim de semana.
Desde então, pelo menos 102 novos casos foram confirmados entre pessoas que frequentaram os mesmos estabelecimentos.
Embora a Coreia do Sul não tenha decretado confinamento nacional, várias medidas de contenção da doença foram adotadas em todo o país.
Nas casas noturnas, por exemplo, todos precisam fornecer nome completo e número de telefone antes de entrar, para que possam ser rastreados em caso de contaminação.
Para ampliar a estratégia, autoridades sul-coreanas estão cruzando dados de telefones móveis e de cartões de crédito com imagens do circuito interno de câmeras dos bares para identificar o maior número possível de frequentadores.
De acordo com o prefeito de Seul, Park Won-soon, a estratégia já ajudou a rastrear 11,4 mil pessoas que estiveram em Itaewon nos últimos finais de semana. Além disso, a cidade conseguiu testar mais de 7,2 mil pessoas, entre frequentadores e funcionários das casas noturnas e seus familiares.
As medidas, entretanto, esbarram em grupos de defesa dos direitos humanos, especialmente associações de pessoas LGBT, que apontam violações de privacidade.
Grande parte das casas noturnas em Itaewon, incluindo algumas das mais frequentadas por aqueles que receberam diagnóstico positivo de Covid-19, é voltada para esse público.
Além da preocupação com a exposição da própria sexualidade, os grupos temem que as novas medidas reforcem a estigmatização das pessoas LGBT, relacionando-as diretamente aos novos casos de contaminação pelo novo coronavírus.
"Este é o momento de reunir coragem", disse Hong Seok-cheon, primeiro apresentador de TV abertamente gay da Coreia do Sul e proprietário de um restaurante em Seul, em uma publicação no Instagram.
"Conheço a preocupação de 'sair [do armário]' melhor do que ninguém, mas a prioridade agora é a saúde e a segurança de nós mesmos, da família e da sociedade."
Dada a sensibilidade do tema, as autoridades de Seul criaram uma espécie de teste anônimo, em que as pessoas precisam fornecer apenas um número de telefone e não um nome.
Funcionou. De acordo com a prefeitura, o número de pessoas que foram testadas dobrou como resultado do novo serviço.
O presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, fez um pedido de ação imediata para capacitar o Centro de Controle e Prevenção de Doenças da Coreia do Sul (KCDC, na sigla em inglês).
"Não podemos hesitar enquanto olhamos para uma crise diante de nós", disse o presidente. "Precisamos reforçar urgentemente a quarentena e o sistema de saúde."
Até esta terça-feira, a Coreia do Sul registrou quase 11 mil casos e 258 mortes pelo novo coronavírus, segundo a Johns Hopkins.
ASSUNTOS: china, COVID-19, OMS, pandemia, testes coronavírus, wuhan, wuhan coronavirus, Coronavírus, Mundo