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Avós da Praça de Maio encontram 138º neto sequestrado pela ditadura da Argentina

Por Folha de São Paulo

27/12/2024 16h30 — em
Mundo



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As Avós da Praça de Maio, movimento de mulheres que lutam para encontrar crianças desaparecidas durante a ditadura militar na Argentina (1976-1983), anunciaram nesta sexta-feira (27) que identificaram o neto número 138, que desconhecia sua verdadeira identidade.

No anúncio, feito inicialmente por meio das redes sociais da organização, elas expressaram seu entusiasmo: "Encontramos um novo neto!".

Mais tarde, durante entrevista coletiva na Casa pela Identidade do Espaço Memória e Direitos Humanos, em Buenos Aires, elas forneceram mais detalhes sobre esta descoberta.

O neto encontrado, que atualmente responde pelo nome de Guillermo Amarilla, é filho de Marta Enriqueta Pourtalé e Juan Carlos Villamayor, militantes ontoneros desaparecidos em 1976, de acordo com o jornal argentino Página 12.

O casal teria sido sequestrado em 10 de dezembro daquele ano, quando Marta estava grávida de oito meses e meio, segundo o jornal La Nacion.

"Eles foram vistos no centro de detenção clandestino, onde provavelmente ocorreu o nascimento do neto 138. Foram registrados mais de 30 nascimentos nesse local. [Os pais] Pensavam em chamar o bebê que esperavam de Soledad ou Manuel", disse Estela de Carlotto, líder das Avós da Praça de Maio.

Guillermo Amarilla, o neto 138, elogiou a luta do movimento de mulheres. "O ano está acabando, e recebemos um neto, reencontramos a verdade, novamente fruto da luta das Avós." Com um sorriso no rosto, disse ainda que "num momento como o que vivemos agora, receber esta notícia é um impulso, é vida, é esperança e nunca desistir".

Diego Antonio —filho de Marta Enriqueta nascido em 1972 fruto de outro relacionamento, portanto, meio-irmão de Guillermo— enviou uma mensagem para as Avós da Praça de Maio. "Estou emocionado", disse ele da Espanha ao irmão, e depois se dirigindo ao movimento. "Obrigado, avós, vocês são orgulho nacional, eu adoro vocês." Os dois irmãos, Diego e Guillermo, são advogados.

Manuel Gonçalves Granada, integrante do Conselho de Administração das Avós e secretário executivo da Comissão Nacional do Direito à Identidade, esteve presente quando o neto 138 recebeu os resultados do Banco Nacional de Dados Genéticos. Ele contou que o rapaz ficou "muito comovido" e "mesmo naquela situação de tanto choque, começou a pensar na família e no que vai acontecer com eles agora que o encontraram."

"Ele vai conhecer uma família que o procurou, que nunca perdeu a esperança", disse Granada. "Tê-lo encontrado foi a melhor resposta à luta daquela família. Eles vão se conhecer e construir esse vínculo."

A recuperação do neto 138 reforça a luta histórica das Avós da Praça de Maio, que desde 1977 trabalham para restituir a identidade de crianças apropriadas durante o terrorismo de Estado.

Este é o primeiro caso resolvido durante a administração de Javier Milei, acusado pelas Avós da Praça de Maio de ter um plano para desmantelar a busca pela memória do país.

"A Secretaria de Direitos Humanos tem acompanhado a nossa luta em busca das respostas que os perpetradores nunca quiseram nos dar", disse Estela de Carlotto, que afirmou que a secretaria enfrenta "um dos ajustes mais difíceis."

"O povo argentino já repudiou estes crimes horrendos e apelamos a que continuem a fazê-lo". O grupo de mulheres argentinas ainda procura cerca de 300 netos nascidos durante o cativeiro de suas mães.


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