Carro invade mercado de Natal na Alemanha, mata ao menos 2 e fere 63
QUEDLIMBURGO, ALEMANHA E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Um homem invadiu com o carro um mercado de Natal em Magdeburgo, cidade na Alemanha localizada a cerca de 130 km de Berlim, nesta sexta-feira (20). Ele matou 2 pessoas, incluindo uma criança pequena, e atingiu outras 63, das quais 15 estão gravemente feridas, disse o governador do estado de Saxônia-Anhalt, Reiner Haseloff.
Autoridades regionais suspeitam que o episódio seja um atentado terrorista, mas não havia confirmação disso até a última atualização deste texto. Segundo a polícia, o carro percorreu cerca de 400 metros atropelando a multidão em alta velocidade até ser parado, às 19h do horário local (15h de Brasília), hora em que os mercados de Natal costumam estar cheios.
"Este é um episódio terrível, especialmente agora nos dias que antecedem o Natal", disse Haseloff. De acordo com ele, o autor do atropelamento é um médico natural da Arábia Saudita que mora na Alemanha desde 2006.
Feridos leves foram levados para um shopping center próximo ao local do ataque. Outra enfermaria foi improvisada em um bonde que ficou retido na confusão. Casos graves lotam os hospitais da cidade de 250 mil habitantes.
Cem bombeiros e 50 equipes de resgate atuam nas operações de emergência no local, além das forças de segurança, segundo o jornal Die Zeit.
O primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, agradeceu a esses profissionais. "Meus pensamentos estão com as vítimas e suas famílias. Estamos ao seu lado e ao lado do povo de Magdeburgo. Meus agradecimentos às dedicadas equipes de resgate nessas horas de ansiedade", escreveu no X.
Informações da agência de notícias alemã DPA atribuídas a autoridades da Saxônia-Anhalt indicam que o motorista do veículo foi preso. Ele foi identificado como um médico contratado de uma empresa em Bernburg, a cerca de 40 km da cidade, e tinha permissão de residência.
De acordo com a revista Der Spiegel, o homem, supostamente chamado Taleb A., seria da cidade saudita de Hofuf e teria especialidade em psiquiatria e psicoterapia. Ele teria também recebido o status de refugiado em 2016 após renegar a família real saudita.
A notícia de que o autor do ataque era um imigrante saudita gerou reações imediatas de pessoas ligadas a grupos políticos radicais anti-imigração.
O bilionário Elon Musk, figura próxima de Donald Trump que elogiou a AfD (Alternativa para a Alemanha), partido de extrema direita com vínculos com neonazistas, compartilhou publicações no X que vinculavam o ataque à imigração, por exemplo. Musk escreveu ainda que Scholz deveria renunciar e o chamou de "tolo incompetente".
O episódio ocorre em plena campanha eleitoral na Alemanha, aliás. A AfD ocupa o segundo lugar nas pequisas, após bom desempenho em eleições regionais.
Um incidente de agosto deu força à narrativa anti-imigração da legenda. Naquele mês, um sírio suspeito de integrar o Estado Islâmico (EI) matou 3 pessoas e feriu outras 8 em Solingen. O ataque fez o governo Scholz aderir à ofensiva contra migrantes, aprovando legislação de segurança específica e tomando a polêmica decisão de controlar as fronteiras. A política fere as premissas do espaço Schengen, que prevê a livre circulação na Europa.
Em publicação nas redes sociais, a polícia de Magdeburgo pediu à população da cidade que fique em casa e que residentes saíram de seus lares voltem para eles.
Em Quedlimburgo, perto de Magdeburgo, policiais, moradores e comerciantes do mercado de Natal local bloquearam ruas com viaturas e carros particulares. Entre as barracas, frequentadores da festa buscavam informações sobre o ataque na cidade próxima pelo celular.
Michael, que pediu para não revelar o sobrenome, afirmou estar com medo e raiva ao mesmo tempo. "Estamos relativamente seguros aqui, bloquearam as ruas, mas é triste ser obrigado a tomar tantos cuidados. Isso aqui deveria ser uma celebração. É Natal", afirmou à reportagem.
Em novembro, a ministra do Interior, Nancy Faeser, havia dito que o público deveria ficar vigilante nos mercados de Natal. "Não temos nenhuma ameaça concreta neste momento. Mas, em um nível abstrato, temos que nos manter vigilantes e tomar todas as medidas de segurança de maneira efetiva", disse.
Mercados de Natal são muito populares na Alemanha. Em geral montados em praças e espaços públicos de dezenas de cidades pelo país, eles compensam o frio do inverno com muita comida e bebida quente. Barracas também vendem roupas e souvenires, e há brinquedos e programação cultural, como corais e apresentações de teatro.
A Europa tem um histórico recente de ataques semelhantes ao desta sexta -um deles, ocorrido no centro de Berlim em 2016, completou oito anos nesta quinta (19). Na ocasião, um caminhão invadiu um mercado lotado na Breitscheidplatz. Doze pessoas morreram, e 48 ficaram feridas. O motorista, o tunisiano Anis Amri, que teve o pedido de asilo recusado, foi morto quatro dias depois em Milão.
Desde o ataque de 2016, a maioria das prefeituras tomou providências para realizar as festas com mais segurança. Bloqueios móveis e permanentes cercam os principais acessos, e a presença policial é constante.
Detalhes sobre o episódio em Magdeburgo ainda não estão claros. O motorista usava um carro alugado.
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