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Dólar tem nova disparada e cruza barreira dos R$ 6 com guerra de tarifas; Bolsa cai

Por Folha de São Paulo

09/04/2025 10h45 — em
Mundo


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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar está em nova disparada nesta quarta-feira (9), após a China anunciar tarifas de mais 84% sobre importações dos Estados Unidos.

A medida é uma resposta às taxas de até 104% sobre produtos chineses, determinadas pelo presidente Donald Trump na véspera e que entraram em vigor nesta madrugada.

Às 10h15, a moeda avançava 1,08%, cotada a R$ 6,061. Já a Bolsa caía 0,75%, a 122.990 pontos.

A guerra comercial entre Estados Unidos e China escalou mais uma vez.

Além das taxas retaliatórias de 84% anunciadas nesta manhã, Pequim impôs restrições a 18 empresas norte-americanas, principalmente em setores relacionados à defesa. Elas se somam às outras 60 que já foram punidas por causa do tarifaço de Trump. O banco central da China também pediu aos principais bancos estatais que reduzam as compras de dólares.

"A escalada de tarifas dos EUA sobre a China é um erro em cima de um erro, que infringe seriamente os direitos e interesses legítimos da China e prejudica seriamente o sistema de comércio multilateral baseado em regras", disse o Ministério das Finanças da China em um comunicado.

Pequim já havia expressado preocupação sobre a escalada antes do anúncio, em comunicado enviado mais cedo à OMC (Organização Mundial do Comércio). "A situação se agravou perigosamente. Como um dos membros afetados, a China expressa séria preocupação e firme oposição a esse movimento imprudente", disse à entidade.

O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, classificou a reação do país asiático como lamentável.

"Acho lamentável que os chineses realmente não queiram vir e negociar, porque eles são os piores infratores no sistema de comércio internacional", disse em entrevista ao canal Fox Business Network.

As duas maiores economias do mundo têm trocado ameaças desde quarta-feira passada, quando o tarifaço foi anunciado. A China foi atingida inicialmente com uma sobretaxa de 34%, além do piso básico de 10% sobre todos os produtos importados pelos Estados Unidos e das demais barreiras comerciais erguidas por Trump nos últimos três meses.

Os chineses anunciaram tarifas retaliatórias na mesma magnitude, ainda na semana passada. Trump, na sequência, ameaçou subir a régua para 50% caso a retaliação não fosse suspensa. "Foi um grande erro", disse Bessent, ao que a China prometeu "lutar até o fim".

É pouco provável que a China recue, afirmam analistas ouvidos pela Folha de S.Paulo. "A decisão do governo chinês em retaliar o governo norte-americano imediatamente e na mesma moeda mostra que a China está preparada para o conflito, independentemente do custo econômico no curto prazo", afirma André Valério, economista sênior do Inter.

"A tarifa de 104% efetivamente exclui a China do mercado americano. Esperamos que o governo chinês faça uma nova retaliação, mantendo essa dinâmica de 'toma lá, dá cá' até que as pressões econômicas forcem algum tipo de acordo entre os países", diz Valério.

Por outro lado, Trump e autoridades próximas ao governo têm dado sinais de que uma rodada de negociações com outros países afetados está à mesa.

O Japão é exemplo disso. Trump e o primeiro-ministro, Shigeru Ishiba, concordaram em iniciar discussões bilaterais sobre as tarifas em um telefonema na segunda-feira. Os japoneses foram atingidos com uma sobretaxa de 24%, além do piso básico de 10%.

Trump designou Bessent e o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, para supervisionar as negociações com o Japão. Já a nação asiática terá o ministro da economia, Ryosei Akazawa, como negociador comercial.

Segundo o assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, os negociadores dos EUA estão priorizando aliados e parceiros comerciais que tiveram grandes superávits comeciais para com os norte-americanos —o que não inclui a China.

"O presidente decidirá quando e se conversará com a China, mas, no momento, recebemos instruções para priorizar nossos aliados e nossos parceiros comerciais, como o Japão, a Coreia e outros", disse Hassett em entrevista à Fox News.

Também nas redes sociais, Trump disse que está discutindo as tarifas sobre a Coreia do Sul com o presidente interino, Han Duck-soo. O país foi atingido com tarifas de 26%.

"Temos os limites e a probabilidade de um grande ACORDO para ambos os países. A principal EQUIPE deles está em um avião rumo aos EUA, e as coisas parecem boas", escreveu.

Já a União Europeia segue firme nas tratativas para evitar uma guerra comercial com os Estados Unidos, ainda que o governo republicano tenha rejeitado a oferta "zero por zero" sobre todos os produtos industriais. Segundo um porta-voz da Comissão Europeia, o plano é apresentar uma resposta às tarifas na próxima semana.

"No início da próxima semana, basicamente apresentaremos nosso plano. Explicaremos qual é o roteiro, depois consultaremos os Estados membros, consultaremos as indústrias, antes de apresentarmos as medidas finais que apresentaremos aos Estados membros para votação", disse o porta-voz Olof Gill.

É esperado que o comércio internacional sofra um baque com as tarifas, o que pode afetar o crescimento econômico dos países mais afetados. Segundo análises do banco JPMorgan, o tarifaço elevou os riscos de uma recessão global e dos Estados Unidos de 40% para 60% em apenas uma semana.

No caso dos norte-americanos, o choque tarifário também afeta a cadeia produtiva doméstica, o que pode aumentar a inflação enquanto a economia desacelera.

O presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), Jerome Powell, endereçou esses temores em falas na sexta. Ele afirmou que as novas tarifas são "maiores do que o esperado" e as consequências econômicas, incluindo inflação mais alta e crescimento mais lento, provavelmente também serão.


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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