Erdogan remove do cargo prefeito de Istambul, seu opositor, após prisão do rival
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, foi enviado neste domingo (23) para a penitenciária de Marmara, localizada perto do distrito de Silivri, em Istambul, após determinação de que ele permanecesse preso até julgamento por acusações de corrupção; ele nega e afirma que o processo é político.
O Ministério do Interior da Turquia também removeu Imamoglu do cargo de prefeito após a prisão. Ele é um dos principais rivais políticos do presidente Recep Tayyip Erdogan e, por governar a maior cidade do país, é visto como grande desafiante de Erdogan nas próximas eleições, previstas para 2028.
Neste sábado (22), a Universidade de Istambul anulou seu diploma, citando procedimentos inadequados em sua transferência para a instituição em 1990 --ele afirmou que contestaria a medida. A Constituição da Turquia estipula que o presidente do país deve ter completado o ensino superior.
Ele havia sido detido quatro dias antes. Enquanto seguia para Marmara, Imamoglu convocou os turcos a realizarem manifestações em massa por todo o país contra sua prisão. Em publicação em seu perfil no X, o prefeito afirmou que o processo foi "uma execução extrajudicial completa" que significava uma "traição contra a Turquia", e pediu à população que se unisse contra "essa mancha negra em nossa democracia".
Ancara deteve 343 pessoas durante protestos que atravessaram a noite de sexta-feira (21) em várias cidades do país contra a detenção de Imamoglu, afirmou o Ministério do Interior neste sábado (22).
A prisão retira de cena um dos principais opositores e potencial concorrente de Erdogan nas próximas eleições presidenciais turcas. A detenção na quarta (19) desencadeou protestos que resultaram em confrontos com a polícia ao longo da semana.
A Promotoria o acusa de liderar uma organização criminosa e supervisionar subornos, de manipulação de licitações e outras irregularidades financeiras na prefeitura, de acordo com o jornal The New York Times.
Ele também é acusado de apoiar o terrorismo em razão de coordenação política com um grupo pró-curdo durante as eleições locais do ano passado. O tribunal ainda não decidiu se ele será preso por essas acusações também.
O CHP (Partido Republicano do Povo), de Imamoglu, denunciou o que chamou de "golpe de Estado político" após a prisão do prefeito. A acusação surgiu após ele ser levado ao tribunal de Caglayan, em Istambul, no sábado (22), acompanhado de 90 outros réus. O tribunal também ordenou a prisão de alguns deles, incluindo um dos assessores mais próximos do prefeito, de acordo com a mídia turca.
Imamoglu se tornou o um dos principais opositores de Erdogan quando conquistou em 2019 a prefeitura de Istambul, antes ocupada pelo partido do presidente. O AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento) dominou a capital econômica do país nas duas décadas anteriores.
O prefeito opositor, reeleito no ano passado, deveria ser designado neste domingo como candidato de seu partido para as próximas eleições presidenciais, em primárias em que era favorito.
O CHP decidiu manter essas primárias apesar da prisão de sua principal figura política e convocou todos os turcos, mesmo aqueles que não fazem parte do partido, a participar da votação.
Críticos de Erdogan, que domina a política turca há mais de duas décadas, há muito o acusam de usar o poder do Estado para minar seus rivais. Dizem eles, no entanto, que prender um candidato presidencial para eliminá-lo da corrida antes mesmo de começar representa um novo nível de autoritarismo.
Erdogan prometeu, de sua parte, não ceder ao "terror das ruas". Imamoglu, sobre sua detenção, afirmou: "Eu me mantenho firme. Nunca me curvarei."

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