Escalada na Guerra da Ucrânia impacta G20 e aumenta pressão sobre Brasil
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Uma recente escalada na guerra da Ucrânia impactou as negociações do G20 no Rio de Janeiro e levou países europeus a exigirem uma condenação mais firme contra a ação militar da Rússia no documento final.
Nas últimas horas, a Rússia lançou dezenas de mísseis e drones contra a infraestrutura de energia da Ucrânia. Ao menos sete pessoas morreram, segundo a agência Reuters.
De acordo com pessoas a par das negociações do G20, o novo episódio fez com que delegações da Europa redobrassem a pressão sobre o Brasil que neste ano preside o grupo das maiores economias desenvolvidas e emergentes do globo e outros países em desenvolvimento para que a declaração de líderes seja mais dura com Moscou.
A Rússia, que faz parte do G20, se opõe a essa ofensiva diplomática.
Como a Folha de S.Paulo mostrou, o governo Lula (PT) costura no G20 uma declaração que preserva Rússia e Israel de críticas diretas pelas guerras na Ucrânia e em Gaza, respectivamente.
Negociadores dos países membros do grupo estão reunidos no Rio de Janeiro para tentar elaborar uma proposta de declaração final que possa ser chancelada pelos líderes que, nos dias 18 e 19, participam da cúpula do G20.
Na última rodada de negociações, que avançou pela madrugada deste domingo (17), membros do governo Lula disseram que o texto havia sido concluído e que seria aberto um período para que os negociadores fizessem as últimas consultas às suas chancelarias.
Mas desde a manhã de domingo havia dúvidas sobre se o texto costurado teria apoio unânime entre os membros do G20.
A delegação da Argentina, por exemplo, mantém firme sua oposição a temas de gênero, da Agenda 2030 e contra a chamada taxação dos super-ricos.
Os recentes acontecimentos no Leste da Europa colocaram mais um ingrediente para dificultar um acordo.
O principal ponto de discordância é o trecho do documento final que aborda as guerras na Ucrânia e em Gaza, que vem sendo debatido em reuniões restritas.
Países europeus queriam que fosse dado o mesmo peso para as duas guerras, enquanto nações árabes insistiam em maior veemência na condenação da morte de civis palestinos.
O texto negociado ainda não foi divulgado, mas pessoas que viram uma primeira versão avaliaram que ele atendia mais o pleito dos países em desenvolvimento do que do G7 (grupo das nações industrializadas liderado pelos EUA).
Com a redobrada pressão da Europa, isso pode mudar.
Outro acontecimento que tem potencial de influenciar nas negociações é a decisão do presidente Joe Biden de permitir que a Ucrânia use armas de longo alcance fornecidas pelos EUA para atacar o território russo.
A informação foi revelada pela agência Reuters, que cita pessoas familiarizadas com o assunto. Se confirmada, a decisão marca uma reviravolta na política de Washington no conflito entre Ucrânia e Rússia até aqui.
De acordo com essas pessoas, a Ucrânia planeja realizar seus primeiros ataques de longo alcance nos próximos dias. A Casa Branca não comentou o assunto.
A decisão de Washington, tomada dois meses antes da posse do presidente eleito Donald Trump em 20 de janeiro, acontece depois que o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, passou meses pedindo que o Exército da Ucrânia fosse autorizado a usar armas americanas para atingir alvos militares russos distantes da sua fronteira.
O momento da guerra é crítico. Não está claro se Trump reverterá a decisão de Biden quando tomar posse. O republicano tem criticado a ajuda financeira e militar dos EUA à Ucrânia e prometeu acabar rapidamente com a guerra, sem explicar como.
Um porta-voz do presidente eleito não respondeu a um pedido de comentário. Richard Grenell, um de seus conselheiros mais próximos em política externa, no entanto, criticou a decisão. "Aumentando as guerras antes de deixar o cargo", disse ele, em uma publicação no X.
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