SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Novos fósseis de uma planta conhecida como "alienígena" foram encontrados em 2024 e aumentaram o mistério entorno da espécie curiosa, descoberta pela primeira vez em 1969.

Um estudo publicado em novembro de 2024 no Annals of Botany analisa novos fósseis de uma planta da espécie Othniophyton elongatum (em tradução livre do latim: "planta alienígena"). O exemplar foi encontrado recentemente na Formação Green River, em Utah, nos Estados Unidos.

Trata-se do mesmo tipo de planta descoberto em 1969, também fossilizada e colhida na mesma região. Na análise original, de 40 anos atrás, os cientistas concluíram que a planta pertencia à família do ginseng (Araliaceae). No entanto, essa teoria foi refutada por esta nova pesquisa.

O atual estudo, liderado por Steven Manchester, curador de paleobotânica no Museu de História Natural da Flórida, levanta dúvidas sobre a real família da planta. Isso por que as folhas, frutos e flores presos ao caule não se parecem em nada com outros exemplares da família ginseng. Ou seja, o resultado trazido em 1969 pode não estar correto.

"Este fóssil é raro por ter o galho com frutas e folhas anexadas. Geralmente, elas são encontradas separadamente", disse Steven Manchester, em nota publicada pelo Museu de História Natural da Flórida.

FALHA PALEOBOTÂNICA

Manchester e sua equipe procuraram famílias de plantas existentes e já extintas que pudessem ser compatíveis com o fóssil achado. Contudo, nenhuma delas se concilia com as plantas "alienígenas" encontradas.

Os pesquisadores da análise de 2024 afirmaram a planta não se encaixa em nenhuma família por conta de um problema na paleobotânica no passado. Isto é, houve um erro na classificação das espécies antigas.

Segundo os biólogos, plantas que existiram há menos de 65 milhões de anos, mas já extintas, são classificadas em famílias modernas ou gêneros. E isso pode criar uma estimativa equivocada da biodiversidade das plantas em ecossistemas antigos.

Com isso, eles afirmam que foi um equívoco classificar a "planta alienígena" como uma ginseng.

"Esse parece ser um problema generalizado na paleobotânica, que pode até criar uma estimativa distorcida da biodiversidade em ecossistemas antigos. Há muitas coisas para as quais temos boas evidências para colocá-las em uma família ou gênero moderno, mas nem sempre é possível encaixar essas coisas", disse Steven Manchester.

PLANTA INDECIFRÁVEL?

A observação dos exemplares recém-descobertos só pode ser feita mais detalhadamente com auxílio de microscopia digital e iluminação de efeito de sombra aprimorada por computador. Mas mesmo com toda a tecnologia à mão, a "planta alienígena" não pode ser classificada em uma família exata.

"Os dois galhos que encontramos mostram o mesmo tipo de folha anexada, mas não são compostos. São simples, o que elimina a possibilidade de ser qualquer coisa dessa família [ginseng]", disse Steven Manchester.

Um dos detalhes que mais intrigou os cientistas é a presença de estames (órgãos reprodutores masculinos da flor). Isso porque, em grande parte das espécies, os estames caem quando a flor é fertilizada, principalmente quando há frutos maduros o suficiente.

"Normalmente, os estames cairão conforme a fruta se desenvolve. E essa coisa parece incomum, pois está retendo os estames quando tem frutas maduras com sementes prontas para se dispersar. Não vimos isso em nada conhecido moderno ou extinto", disse Manchester.