Governo Trump volta a desafiar Justiça após Suprema Corte impor maior revés ao governo
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo de Donald Trump e a Justiça dos Estados Unidos tiveram nesta sexta-feira (11) um dos embates mais acalorados desde que o republicano voltou à Casa Branca. O pano de fundo foi a imigração, uma das principais bandeiras da gestão, que tem feito esforços para determinar deportações em massa e, no mês passado, enviou um homem para El Salvador por engano.

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O salvadorenho Kilmar Armando Abrego Garcia foi mandado de volta ao seu país, mesmo tendo residência legal nos EUA, a despeito de sofrer risco de tortura. O caso foi parar nos tribunais, e a Suprema Corte ordenou na noite de quinta-feira (10) que ele volte ao território americano, em decisão que é considerada a maior derrota judicial do atual governo.
Um desfecho, entretanto, ainda parece distante. O governo Trump voltou a desafiar a Justiça e não informou como pretende reintegrar Garcia. Em audiência nesta sexta, advogados do Departamento de Justiça disseram à juíza federal Paula Xinis que não tinham mais informações sobre o salvadorenho.
Visivelmente irritada com a falta de respostas, Xinis enfatizou que o processo de deportação foi "ilegal desde o início" e afirmou que a situação é extremamente preocupante. "Isso significa que eles [governo] não fizeram nada. Apesar da clara diretriz, não fizeram nada para facilitar o retorno do senhor Garcia."
O governo Trump acumula atritos com juízes em diferentes frentes, mas a audiência sobre o caso Garcia foi a mais combativa, segundo observadores. Antes mesmo de a sessão começar, o clima já era tenso. Em documento de duas páginas, os advogados argumentaram que Xinis não lhes deu tempo suficiente para definir o planejamento em relação ao imigrante. O tom foi considerado agressivo.
"As relações exteriores não podem operar com base em cronogramas judiciais, em parte porque envolvem considerações sensíveis e específicas de cada país, totalmente inadequadas para revisões judiciais", diz trecho do documento. Os advogados ainda escreveram que é "irracional e impraticável" informar quais serão os próximos passos antes que eles sejam devidamente acordados e analisados.
Para a defesa de Garcia, o governo atrasa o processo apesar de ordens judiciais, enquanto a "vida e a segurança de um homem estão em risco". Outros advogados também apontam irregularidades. Juízes da segunda instância chegaram a dizer que a deportação equivaleu a um ato de sequestro por parte dos EUA.
Garcia estava em situação legal no território americano e foi enviado a El Salvador no dia 15 de março, junto de outros imigrantes salvadorenhos e venezuelanos. A iniciativa ocorreu a despeito de a Justiça ter suspendido, na véspera, o uso de uma lei do século 18 para determinar expulsões em massa.
Também naquela ocasião, as deportações foram vistas como um desafio de Trump ao Judiciário. A Casa Branca diz que os aviões já tinham partido e estavam fora dos EUA quando a Justiça mandou interromper as expulsões. Aliado de primeira hora do republicano, o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, ironizou a ordem judicial. "Ops... tarde demais", escreveu ele após a chegada dos migrantes, que foram algemados e enviados a um presídio de segurança máxima, no qual foram recebidos como criminosos perigosos.
A defesa da Casa Branca diz que Garcia é integrante da facção criminosa MS-13 e, embora tenha reconhecido que ele fora enviado erroneamente a El Salvador, insiste que o Judiciário não tem competência para interferir no caso e "trazer um membro de uma organização terrorista estrangeira de volta ao território americano".
Para Xinis, entretanto, a acusação de que Garcia integra uma facção "não tem qualquer base, consistindo apenas nos fatos de que [o imigrante] usava um casaco com capuz e que um informante disse que ele pertencia ao MS-13 de Nova York, uma cidade onde nunca morou". Os advogados de Garcia, contratados por sua família, ainda enfatizam que o salvadorenho viveu por anos nos EUA sem nunca ter sido acusado de crimes.
Enquanto o imbróglio continua, a esposa de Garcia, Jennifer Sura, disse que a família vive um pesadelo. "Espero que Kilmar esteja aqui nos meus braços e na nossa casa, colocando nossos filhos para dormir. Continuarei lutando até que meu marido volte para casa", afirmou.
E a cruzada de Trump contra migrantes continua. A imprensa americana informou na quinta que, desde o início do governo do republicano, mais de 6.000 migrantes em situação legal foram incluídos em uma base de dados da Previdência Social para pessoas mortas. O objetivo da medida, segundo o jornal The New York Times, é cortar benefícios e impedir o uso de serviços financeiros básicos, caso de contas bancárias e cartões de crédito.
Trump ainda teve uma vitória judicial nesta sexta, quando uma juíza barrou uma tentativa de proibir operações de fiscalização a migrantes em locais de culto.

ASSUNTOS: Mundo