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Irã tenta atacar Israel sem provocar guerra generalizada

Por Folha de São Paulo

05/08/2024 11h45 — em
Mundo



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em meio a intensa movimentação diplomática para tentar evitar uma guerra ampla no Oriente Médio, o Irã disse nesta segunda (5) que um ataque de suas forças contra Israel é inevitável, mas que não deseja que o conflito se espalhe pela região.

"O Irã busca estabilidade regional, mas isso só virá com a punição ao agressor e criando uma dissuasão contra as aventuras do regime sionista", disse o porta-voz da chancelaria iraniana, Nasser Kanaani, empregando o termo usual do país para se referir a Israel.

Para ele, a ação é "inevitável" depois do assassinato do líder do grupo terrorista Hamas, Ismail Haniyeh, em um ataque que Israel mal disfarçou ter cometido em Teerã, na semana passada.

Além disso, Tel Aviv assumiu a morte do líder militar do Hamas e do chefe operacional do Hezbollah, o poderoso grupo libanês aliado dos palestinos. Ambas as organizações, assim como outras como a Jihad Islâmica, são bancadas por Teerã.

Teerã deu uma sinalização das preparações para a ação ao emitir um aviso para que pilotos comerciais estejam preparados para a degradação ou perda de sinal de GPS nas regiões central, oeste e noroeste do país. O alerta vale até 13 de agosto.

O aviso foi interpretado incorretamente como um fechamento de espaço aéreo na mídia israelense, e a versão se espalhou pela internet. Isso dito, é um passo anterior a essa medida, que indica o lançamento iminente de mísseis e drones.

Os iranianos deverão saturar essas regiões com bloqueadores de frequência tanto para proteger seus lançadores quanto para desorientar eventuais mísseis lançados contra si.

Também nesta segunda, chegou a Teerã Serguei Choigu, o ex-ministro da Defesa da Rússia que assumiu a secretaria do Conselho de Segurança de Vladimir Putin. Os países são aliados próximos, e Moscou tem pedido comedimento aos iranianos, ao mesmo tempo em que condenou os assassinatos.

Antes, um enviado do governo dos Emirados Árabes Unidos esteve no Irã com o mesmo pedido. Em abril, quando os iranianos lançaram uma grande salva de mísseis e drones contra Israel pela primeira vez na história, o país árabe ajudou Estados Unidos e Reino Unido a derrubar boa parte dos armamentos.

O governo americano trabalha com a possibilidade de uma ação iraniana, em conjunto com o Hezbollah, já na madrugada desta terça (6). Mas talvez haja mais tempo, já que o Irã convocou uma reunião da Organização de Cooperação Islâmica nesta quarta (7). No encontro, irá apresentar seu caso e pedirá apoio para atacar Israel.

Além disso, o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, e o novo presidente do país, Masoud Pezeshkian, ganham uma janela para modular sua reação. Se ela é inevitável, como disse a chancelaria, sua intensidade irá determinar o futuro da região.

O perigo para o Irã é entrar numa missão suicida, abrindo a porta para uma tréplica israelense que lhe destrua as instalações do programa nuclear do país, por exemplo. A possibilidade de ter a bomba atômica em poucos meses é a principal carta de negociação que Teerã tem, e perde-la é um risco grande.

Quando o Irã atacou Israel em abril, a resposta de Tel Aviv foi bastante comedida, mas com um sinal claro: um ataque pequeno próximo de Isfahan, cidade que concentra as atividades do programa nuclear dos aiatolás.

Na semana retrasada, o Estado judeu demonstrou estar pronto para um ataque de maior potência a longa distância, quando destruiu parte do porto de Hodeidah, o principal sob controle dos rebeldes pró-Irã houthis do Iêmen.

Esse grupo é outro fator de preocupação, dado o impacto de suas ações no mar Vermelho, onde ataques a navios mercantes ocidentais e ligados a Israel travou o comércio naquela região, obrigando desvios custosos a grandes empresas.

Os EUA anunciaram no fim de semana que vão reforçar sua presença na região. Ao menos um esquadrão de aviões de combate será enviado para a região, e um grupo de porta-aviões de propulsão nuclear esta a caminho para substituir aquele que já estava em operação há meses por lá.

Além disso, há pelo menos seis poderosos destróieres lançadores de mísseis da classes Arleigh Burke operando no mar Vermelho e adjacências, além de um grupo de assalto anfíbio com três navios e 4.000 fuzileiros navais.

No início da atual crise, quando o Hamas provocou o maior ataque contra Israel na história, matando 1.200 pessoas em 7 de outubro passado, os EUA enviaram dois grupos de porta-aviões e vários reforços a suas bases, o que ajudou a deter eventuais escaladas por parte do Irã e seus aliados.

O ponto mais preocupante sempre foi a fronteira Israel-Líbano, que foi evacuada do lado de Tel Aviv e virou palco de atrito constante entre o Hezbollah e os militares israelenses. No fim de semana, uma barragem de foguetes assustou o mundo, temendo o início do ataque maior com o Irã, mas era apenas um teste de estresse por parte dos milicianos xiitas.

Várias empresas aéreas internacionais cancelaram voos para o Líbano. Nesta segunda, a alemã Lufthansa disse que também vai parar de voar para Tel Aviv até pelo menos 12 de agosto.

O conflito na Faixa de Gaza, que já matou segundo os palestinos 39.623 pessoas, segue com ações nesta segunda. Israel emitiu um aviso para a evacuação da cidade Khan Younis, sugerindo que vai atacar a localidade.


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