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Manifestantes pró-Palestina se negam a votar 'no menor dos males' nos EUA

Por Folha de São Paulo

19/08/2024 17h15 — em
Mundo



WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Uma multidão se reúne no Parque Union, em Chicago, para protestar contra o apoio dos Estados Unidos a Israel e o que veem como um genocídio de palestinos na Faixa de Gaza. No alvo dos manifestantes, estão tanto Joe Biden quanto Kamala Harris e Donald Trump.

O protesto ocorre em paralelo ao início da convenção nacional democrata, que ocorre na mesma cidade. Após uma briga com o município, os manifestantes conseguiram garantir a autorização para marchar até o mais próximo possível do United Center, onde vão ocorrer os discursos nesta noite, inclusive o do presidente.

Para alívio da campanha de Kamala, o clima era tranquilo no início da tarde, exceto por uma pequena tensão com algumas pessoas que vieram protestar o protesto, rapidamente isolados pela organização pró-Palestina.

O partido teme que uma escalada da tensão com manifestantes e eventual conflito com a polícia atrapalhem a candidata, repetindo o desastre da convenção de 1968 na mesma cidade.

O perfil do público é majoritariamente jovem, muitos vinculados a organizações políticas, e insatisfeitos com o sistema de dois partidos dos EUA.

"Estou aqui para protestar contra o Partido Democrata e seu sistema não democrático. Por justiça para a Palestina, para pressioná-los a adotar políticas de fato populares nos EUA", afirma Sara Sokolinski, 27, enquanto faz tricô sentada no gramado. De Twin Cities (região de Minneapolis e Saint Paul), a jovem veio a Chicago em ônibus fretado pelo Comitê Anti-Guerra.

"Nenhum partido é representativo de fato do povo americano hoje. Estou aqui porque a única coisa que provocou mudanças nesse país foi a mobilização em massa", completa ela, que se define como uma ativista ambiental. Sokolinski pretende votar na candidata do partido verde, Jill Stein, como fez na última eleição.

"Eu não acho que votar no menor dos males é uma solução para o nosso problema", afirma Josh Crowell, 27, Integrante da organização Alternativa Socialista, uma das patrocinadoras do evento. Uma mesa da organização no entorno do parque oferecia panfletos e um jornal cuja capa dizia "jogue os dois partidos no lixo". "Nós precisamos de um novo partido, não de um novo democrata", diziam os cartazes.

Crowell afirma que estava certo de que Trump venceria a eleição antes de Biden desistir. "Agora está muito mais incerto. Mas a mudança que eu quero ver nessa eleição é o fim das guerras, não apenas Israel e Palestina, Ucrânia, mas no mundo", completa.

Um jovem de 17 anos, estudante da Universidade de Michigan, veio ao protesto acompanhado pela mãe (que pediu à reportagem para omitir seu nome). Ele diz que começou a se envolver com o movimento pró-Palestina após tomar conhecimento do tema por um streamer.

"O argumento de que um lado é pior que outro é cínico. É usado por democratas que não querem mudar sua posição. A mudança de Biden para Kamala é mais de retórica do que de programa", afirma ele.

Mas nem todos na marcha pretendem boicotar os principais candidatos. Tania Unzueta, 40, vai poder votar pela primeira vez neste ano, e vai apoiar Kamala.

Integrante da organização latina Mi Jente, a imigrante mexicana residente em Chicago afirma que votou em protesto contra Biden nas primárias. "Kamala não reflete todos os meus valores, mas tenho a oportunidade de impactar a eleição. Comparado com Trump, nós [latinos] temos melhores condições de conversar com Kamala."

"Com Trump, eu tenho que convencê-lo de que sou um ser humano."

O republicano tornou imigrantes um alvo preferido de ataque em sua campanha. O fluxo recorde durante o governo Biden é um problema para os democratas, e Kamala tem evitado se pronunciar sobre o que fará.

"Não importa o que ela disse, os republicanos vão achar ruim, e eu vou achar ruim também. Ela vai falar de mais controle na fronteira, mais patrulha... Mas protestos como esse servem para pressionar o partido", diz ela.

Mais de 270 organizações formam a coalizão que organizou o protesto. Foram fretados ônibus de outras cidades e encomendados milhares de cartazes. Água, máscara (como as para Covid) e até protetor solar eram oferecidos de graça a quem chegava.

Os cartazes pedem o fim da ajuda a Israel, acusam os democratas de financiarem um genocídio dos palestinos, pedem direitos e legalização de imigrantes a todos, defendem o direito de sindicalização e os LGBTQIA+ e reprodutivos.


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