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'Não podemos ter fronteiras abertas', diz brasileiro reeleito deputado pela extrema direita na Alemanha

Por Folha de São Paulo

06/09/2024 9h15 — em
Mundo



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O brasileiro Torben Braga, 33, recém-reeleito deputado estadual pelo partido de extrema direita alemão AfD (Alternativa para a Alemanha) para o Parlamento da Turíngia, pronuncia-se de forma inequívoca contra o atual sistema de imigração da Alemanha —bandeira central de seu partido, que obtém cada vez mais sucesso eleitoral.

Para ele, que é um dos vice-presidentes da AfD no estado do leste do país, a imigração que existe hoje não contribui para ocupar postos de trabalho (o país europeu enfrenta uma falta de pessoal em setores-chave da economia, como a saúde) e sim para sobrecarregar o estado de bem-estar social. "Ela não serve aos interesses alemães", diz Braga, nascido e criado em Niterói (RJ).

"Um país não pode ter um sistema social operante ao mesmo tempo em que tem fronteiras abertas. São coisas irreconciliáveis. Ou as pessoas param de imigrar ou o estado de bem-estar social é destruído", afirma. "Não se pode permitir que se crie uma indústria da imigração sob o manto do direito de asilo."

O fluminense, entretanto, tem menos a dizer a respeito da sua vida no Brasil, onde se formou na Escola Alemã Corcovado em 2009, um ano antes de ingressar na universidade na Alemanha.

Em entrevista à reportagem nesta quinta-feira (5), Braga se recusou a responder perguntas sobre sua época no país. "Prefiro manter assuntos pessoais privados", diz, em alemão —idioma no qual preferiu que a entrevista fosse conduzida.

Formado em ciência política e direito público, Braga afirma que sempre teve interesse na política e que foi atraído pela AfD por sua posição crítica à União Europeia. Estudou na Universidade Friedrich Schiller, em Jena, onde se envolveu com fraternidades estudantis exclusivas para homens, as chamadas Burschenschaften.

Essas agremiações universitárias, fundadas no início do século 19, são conhecidas por sua proximidade com a extrema direita —em especial a Deutsche Burschenschaft, da qual Braga foi porta-voz. Seus membros vestem quepes e faixas com as cores da fraternidade, que não raro são o negro, vermelho e dourado da Alemanha ou o negro, vermelho e branco do Império Alemão (1871-1918).

Algumas delas são famosas por organizar, até hoje, duelos de espadas entre seus membros, e as cicatrizes no rosto eram, no passado, uma forma de se identificar ex-integrantes das agremiações —Braga tem uma dessas cicatrizes.

Quando questionado a respeito, o deputado se irritou com a reportagem. "O senhor leu isso na Wikipédia?", ironizou —a informação foi reportada por veículos de imprensa alemães, incluindo o Tageszeitung (taz) de Berlim. Em seguida, entretanto, o deputado alemão de Niterói admitiu ter participado de duelos.

Braga foi eleito deputado estadual na Turíngia pela primeira vez em 2019 e é braço direito de Björn Höcke, um dos líderes mais importantes da AfD —um político que tem na sua trajetória condenações na Justiça por utilizar frases nazistas e perdeu um processo de difamação contra manifestantes que o chamaram de fascista porque a Justiça entendeu que a descrição era precisa.

Braga é uma estrela em ascensão no seu partido, que ganhou força a partir dos discursos contra imigrantes. O brasileiro rejeita, entretanto, classificar a sigla de anti-imigração. "Somos a favor de uma melhor organização do sistema. A AfD é um partido anti-imigração somente na medida em que se fala da política migratória que temos hoje."

Mas é por falas xenofóbicas e propagação da teoria da conspiração segundo a qual europeus brancos estariam sendo substituídos por imigrantes que a AfD é considerada suspeita de extremismo de direita na Alemanha —seu braço estadual da Turíngia, onde Braga é um nome forte, já teve sua classificação atualizada para "comprovadamente extremista de direita" por parte do serviço de inteligência interno do país, o BfV (Escritório para a Proteção da Constituição).

O rótulo é veementemente criticado por Braga, junto com a própria existência do BfV. "Trata-se de uma instituição inexistente em qualquer outra democracia. Uma polícia secreta interna com o objetivo explícito de monitorar organizações no próprio país e, em última análise, difamá-las e criminalizá-las."

Braga se refere à discussão em curso na Alemanha sobre uma possível proibição da AfD. Na Turíngia e na Saxônia, os dois estados que foram às urnas no último domingo (1º), o BfV considera que o partido tem objetivos incompatíveis com a democracia, o que abre espaço para um eventual banimento da sigla da vida pública.

Questionado se a existência do órgão não se justifica pela história da Alemanha, o deputado respondeu com outra pergunta: "Que história?". "A do nazismo", esclareceu este repórter. Braga respondeu então que outros países onde houve fascismo e nazismo não têm instituições semelhantes ao BfV, como a Itália e a Áustria.

"Uma organização controlada pelos partidos dominantes —partidos estes que falam abertamente em nos destruir. Por isso digo que essa classificação [de extremista de direita] não tem a menor relevância. E está incorreta."


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