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Nova doutrina nuclear da Rússia não é diferente da americana, diz Lavrov

Por Folha de São Paulo

19/11/2024 21h30 — em
Mundo



RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou nesta terça-feira (19) que a atualização da doutrina nuclear russa anunciada pelo presidente Vladimir Putin não adiciona nada que países do Ocidente já não saibam e que não se diferencia de normas sobre o tema aplicadas pelos Estados Unidos.

"Nunca começamos essa conversa [sobre uso de armas nucleares]. A atualização da doutrina militar não adiciona nada que o Ocidente não saberia. E não adiciona nada que seria diferente da doutrina militar americana sobre o que fazer com armas nucleares", disse Lavrov, durante uma entrevista coletiva no Rio de Janeiro, onde ele lidera a delegação russa na reunião do G20.

"Nós estamos convencidos de que a arma nuclear é, primeiramente, uma arma que restringe e previne qualquer tipo de guerra nuclear. É assim que lidamos com a situação. O Ocidente é um pouco menos honesto, eu diria."

Lavrov respondeu a perguntas de jornalistas russos e a dois veículos brasileiros, entre eles a Folha de S.Paulo.

A recém-divulgada "política básica estatal no campo da dissuasão nuclear" afirma que a Rússia poderá reagir nuclearmente caso o país ou a aliada Belarus enfrentem um ataque "com o uso de armas convencionais que criem uma ameaça crítica à sua soberania e/ou à sua integridade territorial".

Mais importante, no contexto da Guerra da Ucrânia: "Agressão contra a Federação Russa e/ou seus aliados por um Estado não nuclear com a participação ou o apoio de um Estado nuclear é considerada um ataque conjunto".

Em resumo, se a Rússia assim quiser, sua doutrina agora permite que ela declare uma guerra nuclear contra EUA e seus aliados na Otan caso eles forneçam armas para um ataque sério por parte da Ucrânia.

A revisão da doutrina nuclear russa é uma resposta à autorização, dada pelos Estados Unidos à Ucrânia, para o uso de mísseis de longo alcance contra território russo. Segundo Moscou, uma primeira leva destes armamentos foi lançada nesta terça-feira contra uma instalação militar russa.

Lavrov disse que o aval dado por Washington leva o conflito a uma nova fase. Destacando que ainda não houve confirmação oficial da Casa Branca ou do Pentágono sobre a permissão, o chanceler afirmou que a posição russa é decidida com base no que está ocorrendo no campo de batalha.

"Nós temos o entendimento de que qualquer modificação [na capacidade ucraniana de lançar mísseis contra a Rússia] não pode ocorrer sem a ajuda de especialistas americanos", disse.

"O presidente [Putin] se referiu a isso em diversas ocasiões. Se mísseis de longo alcance forem lançados da Ucrânia para território russo, isso significa que eles estão sendo operados por especialistas militares americanos. E nós interpretamos isso como uma nova fase da guerra do Ocidente contra a Rússia".

Também nesta terça, o primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, disse que o documento final do G20, aprovado na segunda, não foi claro a respeito das responsabilidades pelos conflitos no Oriente Médio e no Leste Europeu.

"Não é o bastante quando o G20 não consegue encontrar palavras para dizer que a Rússia é a responsável [pela Guerra da Ucrânia]", disse Scholz, que também lamentou o fato de o texto acordado não mencionar o direito de Israel de se defender e a responsabilidade do grupo terrorista Hamas pela escalada na região.

Em reunião com o líder chinês, Xi Jinping, Scholz também disse que o envio de soldados da Coreia do Norte ao front na Ucrânia representa uma "nova escalada" no conflito, que completou mil dias nesta terça.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, que não foi convidado para a cúpula no Rio, acusou os líderes do G20 de não reagirem ao decreto assinado pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, que amplia os motivos para recorrer ao uso de armas nucleares.

"Hoje, os países do G20 estão reunidos no Brasil. Eles disseram alguma coisa? Nada", lamentou Zelenski. O ucraniano também denunciou a ausência de uma "estratégia forte" por parte dos países sobre a guerra em seu território. Na sua fala de abertura na segunda, Scholz também havia lamentado a ausência da Ucrânia na cúpula.


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