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Novo mega-ataque russo mira bases de caças F-16 na Ucrânia

Por Folha de São Paulo

27/08/2024 13h45 — em
Mundo



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pela segunda madrugada consecutiva, a Rússia lançou nesta terça (27) um mega-ataque com mísseis e drones contra alvos na Ucrânia. A ação mirou aeródromos que possam servir de base para os caças americanos F-16 doados por países europeus a Kiev.

Ao menos cinco pessoas morreram. Segundo a Força Aérea da Ucrânia, foram lançados 81 drones suicidas, dos quais 60 foram abatidos, e 10 mísseis, 5 deles interceptados.

A Rússia não deu números, mas fez questão de dizer no seu comunicado sobre "ataques de precisão contra infraestrutura de bases aéreas" que empregou modelos hipersônicos Kinjal, que são lançados por caças MiG-31K e não pelos bombardeiros Tu-95MS relatados por Kiev como autores do lançamento de mísseis.

Foi um grande ataque, no nível dos mais intensos da guerra, embora não suplante o da véspera, o maior de todos até aqui com 236 mísseis e drones, que deixou sete mortos. Naquela ação, o alvo primário foram instalações energéticas em 15 das 24 regiões do país.

Foram atingidos pontos principalmente no oeste ucraniano, mais distantes das linhas de frente que cortam o país invadido por Vladimir Putin em 2022 do seu nordeste ao sul. É lá que ficam os F-16, que até agora não viram oficialmente serviço operacional conhecido.

É incerto se algum dos cerca de dez aviões entregues a partir do começo do mês por Bélgica e Holanda foi atingido. Em blog militares russos, a conta é de ao menos dois destruídos em solo em Ivano-Frankivsk, mas não é possível aferir ainda essa informação.

A sinalização, contudo, é clara. Na véspera, após o mega-ataque, o presidente Volodimir Zelenski disse que estava discutindo a utilização dos F-16 contra alvos na Rússia. Isso é polêmico: apesar de os governos europeus que doaram os caças permitirem isso, as armas americanas embarcadas nos modelos têm restrição de uso.

O governo de Joe Biden teme, como a cautela adotada durante todo o conflito mostra, uma escalada real que possa levar a um conflito entre a Rússia e as forças da aliança liderada pelos EUA, a Otan. Zelenski diz diariamente que isso é um blefe de Putin e pede autorização para o uso de todo o arsenal que lhe foi dado, inclusive mísseis de longa distância.

Há simbolismo no ataque russo, também. Os F-16 prometidos pela Europa, uma frota que pode chegar a 95 aeronaves, nem de longe serão um fator que mudará a realidade em campo porque demorarão anos para chegar e ter equipes treinadas para operá-los em solo e pilotá-los.

Mesmo que a expectativa de que haja 30 aviões à disposição no começo de 2025 é vista como otimista justamente pelo fator humano. Enquanto isso, abundam relatos de que americanos estão equipando as aeronaves com sensores mais sofisticados do que os modelos doados tinham, visando encarar os russos.

Na véspera, Zelenski chegou, de forma pouco realista, a pedir que seus vizinhos da Otan entrassem na guerra com ele. "Poderíamos fazer muito mais para proteger vidas se a aviação dos nossos vizinhos europeus trabalhasse junto com nossos F-16 e com nossa defesa aérea", disse.

A frota ucraniana era de 124 aviões de combate antes da guerra e, segundo o site de monitoramento holandês Oryx, ao menos 98 foram perdidos. Houve reforços, como caças MiG-29 poloneses e eslovacos doados, mas modelos ocidentais demoraram a ter o envio aprovado.

Nesta terça, o chanceler russo, Serguei Lavrov, voltou a acenar com a carta nuclear do país ante a pressão de Zelenski, que chamou de "chantagem". Disse que "é perigoso para o Ocidente brincar com fogo com quem tem armas nucleares". Já o Kremlin reafirmou acreditar que os EUA estão apoiando a ofensiva em Kursk.

Os russos também anunciaram nesta terça a conquista de mais uma cidade no leste ucraniano, a cerca de 10 km de Avdiivka, local cuja queda em fevereiro abriu as comportas para uma maior pressão sobre a região de Donetsk.

A situação por lá foi agravada pela ofensiva surpresa de Kiev contra o sul da Rússia, na região de Kursk, há três semanas. Com o envio de forças altamente treinadas para atacar o rival, Zelenski acabou por desguarnecer pontos da linha de frente no leste de seu país, arriscando um colapso militar por lá.

O ucraniano parece estar dobrando a aposta, ainda que sua operação em Kursk tenha desacelerado. Depois de tentar uma incursão em Briansk, região a oeste a Kursk, nesta terça foi a vez de os ucranianos ensaiarem uma invasão em Belgorodo, a leste da área atacada.

O governo local disse que a ação foi repelida, mas também que a situação na fronteira é "difícil". A capital homônima de Belgorodo é um dos focos presumidos de uma ação mais ambiciosa de Zelenski, embora não pareça haver tropas suficientes para controlar a cidade de 400 mil habitantes.

Nesta terça, o ucraniano voltou a dizer que precisa estar numa "posição de força" para eventuais negociações com a Rússia, e que irá apresentar aos EUA um plano para tal, sem dar detalhes.

Outro ponto sensível naquele lado da fronteira, a usina nuclear de Kursk, foi visitada nesta terça pelo presidente da Agência Internacional de Energia Atômica, Rafael Grossi. Ele foi inspecionar a situação de segurança após drones ucranianos terem chegado perto da instalação.

O argentino disse que "há risco de um incidente nuclear" na usina, citando que a construção é bastante exposta.


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