O que se sabe sobre o erro dos EUA e o plano de guerra vazado a repórter?
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SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Na última segunda-feira, a revelação de um jornalista abalou o governo de Donald Trump: Jeffrey Goldberg, redator-chefe da revista The Atlantic, relatou que recebeu, por engano, os planos de guerra supostamente confidenciais referentes a ataques militares previstos pelos Estados Unidos contra alvos ligados ao grupo rebelde Houthi, no Iêmen. Na última quarta, a revista publicou o conteúdo recebido por Goldberg.

O assédio do PL ao vice-governador
A nova reportagem inclui capturas de tela de mensagens de um grupo no aplicativo de mensagens Signal. Além de Goldberg, estão no grupo o secretário de Defesa Pete Hegseth; o secretário de Estado, Marco Rubio; o vice-presidente J.D. Vance; a diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard; a chefe de gabinete de Trump, Susie Wiles; o assessor do presidente, Stephen Miller; o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Mike Waltz; o secretário do Tesouro, Scott Bessent; o enviado especial da Casa Branca Steve Witkoff; e o vice-assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Alex Wong,
Eu tinha fortes dúvidas de que esse grupo de texto fosse real, porque não podia acreditar que a liderança da segurança nacional dos Estados Unidos se comunicaria pelo Signal sobre planos de guerra iminentes Jeffrey Goldberg, em texto publicado pela The Atlantic
Segundo Goldberg, a decisão de publicar as capturas de tela se deu por conta da postura das autoridades, que afirmavam que não havia informação confidencial no conteúdo do grupo. Em entrevista à CBS na última quarta-feira, o jornalista afirmou que decidiu publicar as informações para que o público pudesse analisar por conta própria o teor das mensagens as quais teve acesso de forma equivocada.
O PLANO DE GUERRA
Os registros publicados indicam detalhes dos ataques planejados contra o grupo rebelde Houthi, duas horas antes de o episódio acontecer, no último dia 15. Goldberg recebeu informações sobre os alvos, as armas que seriam utilizadas pelos Estados Unidos e o seguimento do ataque. O Ministério da Saúde do Iêmen, dirigido pelos houthis, informou que pelo menos 53 pessoas foram mortas e mais de 100 ficaram feridas nos ataques.
Pete Hegseth escreveu, momentos antes e durante os ataques, detalhes da operação com ataques aéreos de F/A-18F Super Hornets da Marinha. Eles foram lançados do porta-aviões Harry S. Truman no Mar Vermelho, junto a drones MQ-9 Reaper voando de bases terrestres no Oriente Médio.
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Veja algumas das mensagens que mostram o desenrolar do ataque:
12h15 (horário da costa leste americana): "F-18s LANÇAM (1º pacote de ataque)"
13h45: "Começa a janela de ataque dos F-18 com base em gatilho (o terrorista alvo está em seu local conhecido, portanto DEVE ESTAR NA HORA -além disso, os drones de ataque são lançados (MQ-9s)."
14h10: Mais F-18s LANÇAM (2º pacote de ataque)"
14h15: "Drones de ataque no alvo (É NESSE MOMENTO QUE AS PRIMEIRAS BOMBAS DEFINITIVAMENTE CAIRÃO)"
15h36: "Segundo ataque dos F-18 começa - também são lançados os primeiros Tomahawks baseados no mar."
"Que Deus abençoe nossos guerreiros", concluiu Hegseth.
"Farei uma oração pela vitória", respondeu o vice-presidente J.D. Vance.
A troca de mensagens indica, também, o posicionamento político da equipe de Trump. J.D. Vance disse que odiava "resgatar a Europa novamente", já que o ataque norte-americano também beneficiaria navios do continente, alvos dos houthis no Mar Vermelho.
Hegseth concordou com a declaração e acrescentou: "É patético!". Waltz, por sua vez, afirmou que os europeus eram "incapazes" de resolver o problema por seus próprios meios, e informou que estava levantando os custos do ataque para enviar o aviso de cobrança aos europeus.
A veracidade do conteúdo divulgado por Goldberg foi confirmada. "A sequência de mensagens parece ser autêntica e estamos revisando como um número foi adicionado inadvertidamente à conversa", disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Brian Hughes.
A REAÇÃO DAS AUTORIDADES
Antes da publicação das capturas de tela por parte da The Atlantic, Donald Trump minimizou o caso, referindo-se ao escândalo como um "pepino". Em entrevista à emissora NBC, Trump disse que a inclusão do jornalista em um grupo de discussão confidencial foi "a única falha em dois meses [de governo] e, no final das contas, não foi séria".
Mike Waltz reconheceu ser o responsável pelo chat. "Fui eu quem criou o grupo; meu trabalho é garantir que tudo esteja coordenado", declarou Waltz à Fox News. Ele afirmou, ainda, que não conhece pessoalmente Jeffrey Goldberg.
Apesar da falha, Waltz conta com o apoio de Trump. "Michael Waltz aprendeu uma lição, e ele é um bom homem", declarou o presidente à NBC.
Entre os democratas, o caso gerou revolta. O senador Chuck Schumer descreveu o vazamento como "uma das violações mais surpreendentes à inteligência militar" e pediu uma investigação completa. "O descuido mostrado pelo gabinete do presidente Trump é impressionante e perigoso", disse o senador Jack Reed. O deputado Raja Krishnamoorthi afirmou que Hegseth deveria renunciar ao cargo. "Uma investigação completa precisa ser realizada", disse em audiência na Câmara.
Já Hillary Clinton -a quem Trump criticou repetidamente por usar um servidor de e-mail privado enquanto era secretária de Estado- compartilhou na rede social X o artigo de The Atlantic com a frase: "Você só pode estar brincando".

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