Opositor de Maduro, González irá à Argentina; não há plano de ida ao Brasil
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - A apenas uma semana da nova posse de Nicolás Maduro na Venezuela, o opositor Edmundo González, que países como os Estados Unidos dizem ser o verdadeiro eleito, irá à Argentina.
A viagem deve ocorrer entre essa sexta-feira (3) e esse sábado (4), informaram envolvidos com o tema à reportagem. Outros países da América do Sul também são cogitados para uma espécie de giro.
O Brasil não está a princípio na lista do diplomata exilado em Madri. O governo Lula 3 não o receberia, e a avaliação é de que o custo político de ir ao país para estar apenas com opositores, desagradando a Brasília e ao Partido dos Trabalhadores (PT), não é compensatório.
É um cenário bem diferente do da Argentina, onde o presidente Javier Milei sobe o tom contra a ditadura venezuelana. Um imbróglio recente elevou a tensão, quando Caracas prendeu um militar argentino e o acusou de ligação com terrorismo. O Brasil busca ajudar Buenos Aires ofertando assistência consular ao preso, enquanto o governo de Milei denunciou Caracas à Corte Penal Internacional pelo caso.
Outros dois países ventilados para visitas do opositor são Paraguai e Uruguai. Os presidentes Santiago Peña e Luis Lacalle Pou este último que está nos meses finais de seu mandato, prestes a ser substituído por um governo de centro-esquerda bem menos crítico à Venezuela também são críticos ao que se passa no regime de Maduro.
González tem prometido que irá à Venezuela na próxima sexta-feira, 10 de janeiro, data da posse do ditador Maduro. Diz que ele o presidente eleito segundo projetos internacionais e independentes de checagem de votos tomará posse com María Corina Machado, que acredita-se estar exilada em uma embaixada, como sua vice.
Analistas e opositores, dos mais ao menos radicais, dizem que o regime fará todo o possível para impedir a ida de González. Isso porque calcula que prendê-lo em solo venezuelano seria gatilho para manifestações nas ruas, desde setembro abafadas pela ampla repressão.
Se ele tentar ir em voo comercial, acreditam que a ditadura impedirá o pouso da aeronave em Caracas. Foi o aconteceu pouco após as eleições de 28 de julho com ex-presidentes sul-americanos que tentaram ir ao país e foram barrados ainda na Cidade do Panamá.
Uma outra opção seria entrar no país por terra, o que poderia ser feito pelas fronteiras com o Brasil ou com a Colômbia, outro cenário difícil pelo mal-estar que geraria com os governos de Lula e de Gustavo Petro. Líderes espanhóis já disseram que pretendem ajudar González, a quem deram asilo.
O diplomata de carreira é acusado de crimes como conspiração, falsificação de documentos, usurpação de poderes e lavagem de dinheiro. O regime havia prometido excluir as acusações quando ele partiu para o exílio, mas nunca o fez. Agora, oferece uma recompensa de US$ 100 mil a quem divulgar seu paradeiro para a polícia.
Até aqui González fez giros pela Europa, onde recebeu prêmios, reuniu-se com chanceleres e políticos. Mas a ida à América do Sul é vista como uma peça fundamental do apoio necessário para que ele tenha alguma chance de assumir o poder na Venezuela nos próximos meses, dado que são os vizinhos do país mergulhado na autocracia.
Em novembro, um membro da oposição venezuelana viajou a Brasília para levar atas físicas das eleições a senadores e deputados, como também foi feito na Argentina e no Chile. Ele compartilhou entrevistas prévias à audiência no Congresso com veículos da imprensa, o que teria desagradado a alas importantes do PT, segundo soube a oposição venezuelana, que agora tenta pisar nesse terreno com maior cautela.
O governo Lula não tem planos de reconhecer Nicolás Maduro como presidente eleito. Até aqui, o Brasil manteve a relação bilateral, mas cobrou provas do resultado eleitoral e enviou recados a Caracas, alguns deles muito mal digeridos pelo regime.
A embaixadora brasileira Glivânia Maria de Oliveira representará o país na posse do ditador. Interlocutores do tema dizem que a doutrina brasileira é a de reconhecer Estados, não necessariamente líderes, e que nada mudará no discurso. A prioridade do Brasil no momento seria insistir pelo salvo-conduto para os seis opositores venezuelanos asilados na embaixada argentina em Caracas, sob os cuidados de Brasília. Até aqui, não houve nenhum êxito.
Entre os recados de reprimenda da diplomacia de Lula, o principal teria sido barrar a entrada de Caracas no Brics, fato que desencadeou ataques públicos da ditadura a figuras como o assessor especial e ex-chanceler Celso Amorim, antes tido como aliado.
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