Protestos na Geórgia se intensificam com violência policial; premiê vê oposição histérica
BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) - As manifestações contra o primeiro-ministro e o partido que domina o Parlamento na Geórgia prosseguem pelo quinto dia consecutivo nesta segunda-feira (2). Oposição, a presidente do país e milhares de manifestantes protestam contra o resultado das eleições e a decisão do governo de suspender as negociações de adesão à União Europa.
Sonho Georgiano, a legenda de situação, pró-Rússia, é acusada de fraudar o pleito, que teve registros de manipulação, violência e constrangimento atestados por diversas entidades e observadores da Comissão Europeia.
A presidente, Salome Zourabichvili, em entrevista a uma rádio francesa, pediu sinais mais claros de apoio "moral e político" do bloco. A ex-diplomata francesa, que retomou a nacionalidade dos pais para se tornar política nos anos 2000, anunciou no fim de semana que não deixará o cargo no fim de dezembro, quando acaba seu mandato. "Não há parlamento legítimo e, portanto, um parlamento ilegítimo não pode eleger um novo presidente", declarou.
Na Geórgia, a função é protocolar, mas Zourabichvili se tornou a voz da oposição desde que o país deu uma guinada autoritária com o Sonho Georgiano no poder. Nos últimos, a sigla aprovou legislação para coibir o financiamento externo de ONGs e veículos de imprensa, assim como leis anti-LGBT. À época, quem paralisou as negociações de adesão foi o próprio bloco europeu, alegando preocupação com a condução antidemocrática da Geórgia.
Irakli Kobakhidze, o primeiro-ministro, acusa Zourabichvili e os opositores de "incendiarem" o país. Além de abdicar do processo de adesão à União Europeia, o premiê não economizou em gestos de provocação, como designar um ex-jogador de futebol, Mikheil Kavelashvili, como futuro presidente.
Kavelashvili, que teve como ponto alto da carreira algumas temporadas pelo Manchester City, nos anos 1990, foi indicado por uma comissão interna do Parlamento, que precisa ratificar seu nome em plenário neste mês. A Casa funciona de maneira precária, já que parte da oposição não assumiu seus assentos como forma de deslegitimar o governo.
Nesta segunda-feira (2), várias escolas e universidades cancelaram as aulas. Muitos estudantes e professores seguiram para as manifestações. Defecções dentro do governo continuam acontecendo. Zourabichvili festejou nas redes sociais a saída de um membro do Ministério do Interior, responsável por um órgão policial. "É um sinal de que o aparato repressivo está ruindo", escreveu a presidente.
Mais de 150 pessoas já foram detidas, inclusive um líder de oposição, que mais tarde anunciou ter sido liberado. Há denúncias de violência policial, negadas pelo governo, que responde com estatísticas de dezenas de agentes feridos.
"Zourabichvili está histérica, assim como os partidos de oposição", afirmou o primeiro-ministro nesta segunda-feira (2). "O que estão promovendo é bullying e fascismo liberal", disse, em entrevista coletiva.
A Geórgia convive com partes de seus territórios ocupados por tropas russas e se transformou, desde o advento da guerra da Ucrânia, em uma espécie de caminho alternativo para negócios de oligarcas russos, afetados pelas sanções do ocidente. É ainda um corredor de comércio e energia estratégico, tanto para a Europa como para a Rússia.
Assim como ocorreu na Moldova e na Romênia nas últimas semanas, a principal acusação da oposição é de que a Geórgia foi alvo de ataques híbridos russos durante a campanha eleitoral. Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, negou nesta segunda-feira (2) qualquer tipo de interferência na nação vizinha.
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