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Putin autorizou adoções forçadas de crianças ucranianas sequestradas, diz relatório

Por Folha de São Paulo

03/12/2024 18h30 — em
Mundo



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente russo, Vladimir Putin, e funcionários do alto escalão do Kremlin não só sabiam como autorizaram sistematicamente a adoção forçada de crianças ucranianas, sequestradas das regiões ocupadas de Donetsk e Lugansk e depois levadas para 21 áreas na Rússia. É o que afirma relatório da Universidade Yale (EUA) divulgado nesta terça-feira (3).

Após uma investigação que durou 20 meses, o Laboratório de Pesquisa Humanitária de Yale identificou que 314 crianças ucranianas, com idades de 2 a 17 anos, foram colocadas em "um programa sistemático de adoção forçada e acolhimento" desde a invasão russa em fevereiro de 2022.

A Bring Kids Back UA (traga as crianças de volta à Ucrânia, em tradução livre), iniciativa apoiada pelo governo de Volodimir Zelenski, tem afirmado que aproximadamente 20 mil crianças do país teriam sido forçadas a deixar seu país e deportadas para a Rússia desde o início do conflito.

Do total, segundo a ONG, 208 crianças foram adotadas ou tuteladas por russos. Mudanças na lei passaram a permitir que tutores solicitem cidadania russa para os menores, renunciando por eles à cidadania ucraniana. Cerca de 45% têm irmãos listados em bancos de dados russos. O relatório de Yale detalha rotas de deportação e manobras legais da Rússia para adoção forçada.

O governo da Ucrânia, agora, exige que o Kremlin forneça o registro de todas as crianças ucranianas sob sua custódia.

A ministra da Justiça Olha Stefanishyna afirmou nesta terça, em entrevista coletiva virtual da qual a Folha participou, que o governo ucraniano vai incluir o relatório em sua base de dados.

"Não podemos de imediato trazer de volta todas as crianças levadas da Ucrânia. Essas informações são importantes para entendermos como cada uma delas sofreu com a agressão russa e tentar rastreá-las. Será um dos instrumentos de Justiça para trazê-las de volta."

Em março de 2023, o Tribunal Penal Internacional em Haia emitiu um mandado de prisão contra Putin por deportação ilegal de crianças de áreas ocupadas na Ucrânia.

Maria Lvova-Belova, comissária russa para os direitos das crianças também citada pela Corte, teria adotado um menino ucraniano de Mariupol, forçando-o a participar de eventos pró-Rússia.

As informações a que a universidade americana diz ter tido acesso teriam origem de documentos russos vazados e verificados, segundo os quais altos funcionários russos trabalharam com autoridades nas regiões ocupadas da Ucrânia para realizar o programa. O relatório afirma que o escritório do presidente russo forneceu apoio financeiro direto e outros ativos para essa iniciativa.

O Kremlin nega as acusações de crimes de guerra e afirma que as adoções são um esforço patriótico e humanitário para ajudar crianças abandonadas.

Representantes do governo da Ucrânia e do departamento que realizou a pesquisa em Yale vão comparecer a uma sessão especial do Conselho de Segurança da ONU nesta quarta (4) para apresentar os dados.

Para Nathaniel Raymond, diretor-executivo do Laboratório de Pesquisa Humanitária de Yale, não se pode falhar com as crianças. "Precisamos protegê-las. Elas não podem ser reféns nem serem usadas como moeda de troca."

Daria Zarivna, conselheira do chefe do gabinete do presidente da Ucrânia e diretora de operações da Bring Kids Back UA, afirmou à Folha que a documentação da realocação forçada de crianças ucranianas para a Rússia começou em 2015, com órfãos levados da Crimeia para famílias russas. A deportação em massa teve início em fevereiro de 2022. "Muitas dessas crianças não são órfãs, elas têm pais na Ucrânia."

Ela menciona o caso de um adolescente de Mariupol supostamente levado para um "campo de filtragem", espancado e colocado em uma família adotiva russa. "Apesar de ele ter retornado a Kiev, muitos ainda estão presos."

Segundo Daria, a Rússia usa essas crianças como ferramenta política para apagar a identidade ucraniana e integrá-las ao "mundo russo". Em campos na Crimeia, elas seriam forçadas a aprender "educação patriótica" e proibidas de falar ucraniano ou exibir símbolos do país.

A confirmação do número exato de crianças deportadas é difícil devido à desinformação russa e à continuidade das deportações disfarçadas de "férias de verão". Até agora, 1.022 crianças voltaram para casa.


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