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Rússia avança sobre cidade estratégica no leste da Ucrânia

Por Folha de São Paulo

04/07/2024 15h30 — em
Mundo



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após semanas de pressão russa, as forças de Volodimir Zelenski começaram a deixar nesta quinta-feira (4) a cidade de Tchasiv Iar, um ponto estratégico na região de Donetsk, leste da Ucrânia.

Se a localidade cair em poder russo, Moscou terá obtido uma vitória importante, pois Tchasiv Iar era a principal defesa no caminho a Kramatorsk, cidade que serve de centro administrativo de Donetsk para os ucranianos desde que separatistas russos tomaram para si a capital homônima da região.

Por ficar em terreno elevado, Tchasiv Iar facilita o controle da área e o avanço a Kramatorsk, a 25 km dali. Da capital improvisada para Sloviansk, outra cidade vital, são mais 20 km. A eventual tomada dos dois pontos pelos russos praticamente completa a conquista de Donetsk, uma das quatro áreas anexadas ilegalmente por Vladimir Putin em 2022.

"Ficou impraticável defender a região, porque isso ameaçava a vida de nossos soldados. As posições de defesa foram destruídas", disse o porta-voz militar Nazar Volsochin à TV ucraniana. Os ataques russos na frente de Donetsk somaram mais de 160 ações em 24 horas, e Kiev diz ter dificuldades para segurá-los, sendo necessário o recuo.

Apesar de o avanço ser importante para o Kremlin, também mostra a dificuldade da guerra iniciada há quase 29 meses pelos russos. Tchasiv Iar fica a meros 5 km de Avdiivka, principal troféu tomado pelos russos neste ano, em fevereiro. Em outras áreas de Donetsk, os avanços foram maiores.

O fato é que a Rússia, após derrotar a contraofensiva da Ucrânia em 2023, retomou a iniciativa na guerra. Progrediu no leste e abriu uma nova frente no norte, em Kharkiv, que foi detida ao custo de reforços preciosos de Kiev.

Zelenski culpa o atraso no envio de munição e armamentos, além da falta de pessoal, pela situação crítica. Em uma entrevista nesta quinta à agência americana Bloomberg, o presidente afirmou que 14 brigadas estão sem armas suficientes para lutar.

Isso equivale a algo entre 45 mil e 70 mil homens, a depender do tamanho da brigada, num universo mobilizado de 500 mil a 800 mil pessoas na Ucrânia, segundo estimativa do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos.

O cenário sombrio, temperado por renovados ataques com mísseis à infraestrutura energética da Ucrânia, servirá ao presidente para reforçar seu pedido de ajuda na cúpula da Otan, a aliança militar ocidental, que ocorre de terça (9) a quinta (11) da semana que vem.

O clube retomou o apoio a Kiev e vai anunciar R$ 240 bilhões em ajuda para 2025, mas não conseguiu consenso para tornar tal suprimento permanente, o que serviria como um seguro caso Donald Trump seja eleito presidente dos EUA e retire a sustentação à Ucrânia.

PUTIN E XI JUNTOS; MODI VAI A MOSCOU

Do lado russo, Putin reforçou nesta quinta sua retórica antiocidental ao lado do líder chinês, Xi Jinping. Ambos estão no Cazaquistão, numa reunião daquilo que Pequim gostaria de ver como embrião de uma Otan para chamar de sua, a Organização de Cooperação de Xangai (SCO, na sigla inglesa).

Formada em 2001 com chineses, russos e alguns países da Ásia Central, a entidade agora conta com Índia, Irã e Paquistão como observadores. "Os membros da SCO devem consolidar sua unidade, opondo-se de forma conjunta a interferências externas ante os reais desafios de divisão", disse Xi.

Putin, por sua vez, falou numa "nova arquitetura de cooperação, segurança indivisível e desenvolvimento na Eurásia, destinada a substituir os antiquados modelos eurocêntrico e euroatlântico, que dão vantagens unilaterais apenas a alguns Estados".

Apesar de falarem a mesma linguagem, Putin e Xi competem historicamente entre si por influência na Ásia Central, que foi o quintal da antiga União Soviética (1922-1991). De todo modo, deram uma demonstração prática de seu alinhamento ao aproveitarem a reunião para lançar mais uma manobra naval de patrulha conjunta no Pacífico.

O russo voltou a culpar o Ocidente pela invasão da Ucrânia, já que a Otan queria absorver o país e ameaçar a Rússia, na narrativa do Kremlin. Disse estar pronto para negociar a paz em seu termos, ou seja, com a cessão das áreas anexadas ilegalmente e a neutralidade política e militar de Kiev.

Zelenski não aceita isso e voltou a dizer na entrevista que aceitará uma delegação russa numa conferência de paz subsequente à realizada em junho na Suíça caso Moscou ceda a suas demandas de desocupação imediata e garantias de segurança.

Putin também repetiu que irá retomar a produção de mísseis de alcance intermediário caso os EUA o façam e disse que não vê um cessar-fogo na guerra ocorrer antes das eleições presidenciais americanas. Mas afirmou que acredita que Trump é sincero quando fala em fim da guerra se vencer Joe Biden.

Questionado se havia mudado sua preferência por Biden, que havia declarado há alguns meses, devido ao mau desempenho do atual presidente no debate da semana passada com Trump, Putin disse que não. "Nós não sabíamos o que podia acontecer? Sabíamos", disse.

Também na semana que vem, enquanto a Otan se reunir, Putin terá um trunfo diplomático com a visita do premiê indiano, Narendra Modi, a Moscou. O líder é paparicado pelo Ocidente devido ao potencial econômico de seu país, mas faz questão de manter isonomia na guerra, tendo se recusado a condenar a invasão na ONU —e multiplicando a importação de petróleo barato russo.


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