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Saiba quais os temas importantes nos estados que vão decidir eleição dos EUA

Por Folha de São Paulo

01/11/2024 3h00 — em
Mundo



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Graças ao sistema do Colégio Eleitoral dos Estados Unidos, as atenções dos candidatos à Casa Branca (e também da maior parte da imprensa americana) ficam concentradas em apenas alguns estados realmente competitivos --e, nesse ano, as pesquisas mostram que Kamala Harris e Donald Trump estão praticamente empatados em todos os sete que se encaixam nessa descrição.

Em 2024, a maioria dos modelos estatísticos aponta como estados decisivos para a corrida: Arizona, Carolina do Norte, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin. As pesquisas colocam a vice-presidente Kamala Harris em empate técnico com Trump em todos, embora o republicano venha ganhando terreno e já supere a adversária numericamente em quatro deles.

Veja a seguir que temas guiaram a campanha eleitoral em cada estado até aqui.

ARIZONA

Esse estado na fronteira com o México ganhou a característica de pêndulo há pouco tempo: entre 1952 e 2016, o candidato do Partido Republicano sempre venceu, com exceção de uma vitória de Bill Clinton em 1996.

Biden conseguiu derrotar Trump lá em 2020 em grande parte porque venceu em Phoenix, capital do Arizona e quinta cidade mais populosa dos EUA --e novamente esse município, que é responsável por 60% dos votos no estado, deve ser vital.

Por lá, o debate que domina a corrida é a imigração, e pesquisas de opinião não são favoráveis aos democratas: a maior parte da população diz que a vinda de imigrantes da América Latina piorou suas vidas.

Trump buscou capturar esse sentimento no último dia 24 em um comício na cidade de Tempe, a cerca de 200 quilômetros da fronteira com o México, quando disse que imigrantes transformaram os EUA na "lata de lixo do mundo".

Entretanto, como em outros lugares do país, a questão do aborto é um trunfo para Kamala --os eleitores do Arizona também vão votar no dia 5 de novembro em um plebiscito sobre se o direito à interrupção da gravidez deve ser incluído na Constituição estadual, e pesquisas indicam que ele deve ser aprovado. Estrategistas da campanha democrata esperam que a posição antiaborto de Trump garanta à vice-presidente o impulso que precisa para conquistar os 11 delegados em jogo por lá.

CAROLINA DO NORTE

O crescimento populacional da Carolina do Norte deu a esse estado uma importância ainda maior no cálculo eleitoral dos dois partidos --agora são 16 delegados em disputa, a mesma quantidade da Geórgia. Por lá, os candidatos esperam conquistar eleitores negros, que constituem 20% da população.

Pesquisas indicam que, nessa eleição, homens negros estão menos propensos a votar no Partido Democrata, que tradicionalmente conta com esse apoio. Por isso, a campanha enviou o ex-presidente Barack Obama ao estado no último dia 25 para um comício no qual ele atacou os republicanos importantes da Carolina do Norte.

Nesse sentido, a campanha de Trump tem mais a se preocupar do que a de Kamala, e não apenas porque o voto negro geralmente fortalece candidatos democratas: o candidato a governador pelo Partido Republicano, Mark Robinson, foi protagonista de um escândalo em setembro, quando a CNN revelou publicações esdrúxulas feitas pelo candidato em sites pornográficos, incluindo quando disse ser "um nazista negro".

Trump tentou se afastar de Robinson, mas o vice-governador não renunciou à corrida e estará na cédula no dia 5 de novembro. Resta saber se a rejeição de eleitores a Robinson será o bastante para convencê-los a votar em Kamala --se perder a Carolina do Norte, Trump deve se complicar no cálculo do colégio eleitoral.

GEÓRGIA

No terceiro estado mais negro dos EUA (mais de 30% da população é afro-americana), o debate do aborto tem dominado a corrida eleitoral --com um governador republicano, Brian Kemp, e um Legislativo controlado pelo partido de Trump, a Geórgia tem hoje uma das leis contra a interrupção da gravidez mais rígidas dos EUA.

Em um discurso em Atlanta, capital do estado, no último dia 20, Kamala relembrou casos de mulheres na Geórgia que foram afetadas pela proibição, incluindo uma mulher que morreu depois de esperar 20 horas por tratamento após complicações causadas por um remédio abortivo. A vice-presidente chamou Trump de cruel, dizendo que ele "se recusa a aceitar a responsabilidade pela dor e sofrimento que causou".

Se a Carolina do Norte é central para uma vitória de Trump, a Geórgia é indispensável: não à toa, quando perdeu o estado em 2020, o então presidente pressionou políticos republicanos ali a fraudar a eleição, pedindo que eles "encontrassem votos" que garantissem sua vitória.

Quando esses republicanos se recusaram a cooperar, Trump se voltou contra eles publicamente -- principalmente contra o governador, a quem chamou de traidor. O ex-presidente chegou a apoiar um rival de Kemp nas primárias do estado, sem sucesso. Agora, os dois parecem ter feito as pazes, embora o governador, muito popular na Geórgia, raramente seja visto em comícios de Trump no estado.

MICHIGAN

Um dos estados mais atingidos pelo enfraquecimento das indústrias de aço e automobilística dos EUA (basta lembrar que a cidade mais populosa de Michigan, Detroit, praticamente virou sinônimo de desindustrialização), o tema que mais mobiliza eleitores por lá é a economia, com o alto custo de vida e inflação minando o apoio de Kamala em um estado conhecido por votar em candidatos democratas, mas conquistado por Trump em 2016.

Entretanto, outra questão menos mencionada na corrida eleitoral pode ser crucial em Michigan e contribuir para uma derrota de Kamala ali e no Colégio Eleitoral como um todo: o apoio inabalável dos EUA e do governo de Joe Biden à campanha militar de Israel na Faixa de Gaza.

Michigan é o estado com o maior número de árabes-americanos do país e, embora constituam apenas 2% da população, uma alta abstenção desses eleitores pode ser o bastante para entregar os 15 delegados a Trump.

Até aqui, porém, Kamala não alterou seu discurso em relação à guerra e à conduta de Tel Aviv, que já matou mais de 40 mil palestinos e feriu outros 100 mil desde o início do conflito em 7 de outubro de 2023. A vice-presidente vem reiterando que Israel tem o direito de se defender e, embora reafirme seu apoio a um cessar-fogo, não levantou a possibilidade de restringir ou suspender o envio de armas ao aliado no Oriente Médio.

NEVADA

Com apenas seis delegados em jogo em Nevada, as estratégias dos dois candidatos consideram que o estado não é essencial para uma vitória. Ainda assim, com uma população de apenas 3 milhões de habitantes, as duas campanhas já gastaram mais de US$ 250 milhões (cerca de R$ 1,4 bilhão) em anúncios e propaganda política por lá, de acordo com estimativas de sites especializados.

Também é o estado onde a corrida está mais acirrada: agregadores de pesquisas eleitorais colocam Kamala e Trump em um empate numérico ali. Com uma economia fortemente dependente do turismo (é em Nevada que fica Las Vegas, a meca dos cassinos), o estado se recuperou lentamente do baque da pandemia de Covid-19, e preocupações econômicas ainda dominam discussões políticas.

Dado o fato que a economia é um tema onde Trump vai bem ao explorar frustrações do eleitor com a inflação e o custo de vida, estrategistas republicanos esperam que 2024 seja o ano em que o partido vença em Nevada pela primeira vez desde 2004.

PENSILVÂNIA

A joia da coroa dos estados-pêndulo, quem vencer a Pensilvânia terá um caminho muito mais tranquilo para atingir os 270 delegados necessários e chegar à Casa Branca. Já quem perder se complica muito e passa a depender de vitórias em pelo menos outros três estados-chave para vencer.

As campanhas sabem disso: não à toa, ao escolher o vice da sua chapa, Kamala ficou entre o governador da Minnesota, Tim Walz, e o da Pensilvânia, Josh Shapiro. Walz venceu a disputa, mas Shapiro, muito popular em seu estado, ficou com a missão de entregar os 19 votos do colégio eleitoral para a democrata, e tem participado de uma série de comícios com outros figurões do partido por lá: Barack Obama, Bill Clinton e até os atores Leonardo DiCaprio e Robert De Niro.

Trump, por sua vez, visitou a Pensilvânia mais vezes do que qualquer outro estado na campanha, de acordo com um levantamento do dia 26 feito pelo site Axios (assim como Kamala). Foi na cidade de Butler, no estado, que o republicano sobreviveu a uma tentativa de assassinato e gerou a principal imagem política da eleição ao ser fotografado com o punho em riste e o rosto ensanguentado segundos depois de ser atingido de raspão.

Aqui, como em Michigan e Wisconsin, os três estados do norte que sofreram nas últimas décadas com demissões em massa de grandes indústrias, a questão dominante na Pensilvânia é a economia. Nos seus discurso no estado, principalmente em áreas rurais, Trump tem dito que uma vitória de Kamala significaria um colapso econômico --e chegou a afirmar a agricultores que eles perderiam suas propriedades em um governo comandado pela vice-presidente.

WISCONSIN

Em um estado tradicionalmente democrata, mas que Trump levou em 2016, a lógica da disputa funciona como na Carolina do Norte, mas com o sinal trocado: a campanha de Kamala espera vencer aqui, e uma reviravolta complicaria as chances de vitória da vice-presidente no Colégio Eleitoral.

As pesquisas eleitorais apontam uma ligeira vantagem de Kamala, mas que tem se acirrado nos últimos dias. O vice da chapa de Trump, J.D. Vance, fez uma série de aparições e discursos no estado, que se encaixa na narrativa repetida por ele de lugares que teriam sido esquecidos pelas elites em Washington --e que Trump agora promete priorizar.

O argumento da campanha de Kamala --que também enviou para cá Tim Walz e Barack Obama em comícios com apoiadores-- é parecido com os outros estados do norte: uma promessa de uma economia mais robusta enquanto alerta os eleitores para os perigos de um novo governo Trump, seja para o direito ao aborto quanto para a própria democracia americana.


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