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Trump ameaça retirar isenção fiscal de Harvard e exige pedido de desculpas

Por Folha de São Paulo

15/04/2025 21h45 — em
Mundo


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BRASÍLIA, DF E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em nova escalada dos ataques contra as universidades de elite dos Estados Unidos, o presidente Donald Trump ameaçou nesta terça-feira (15) retirar isenções fiscais da Universidade Harvard após a instituição se negar a atender demandas do governo -e exigiu um pedido de desculpas.

"Talvez Harvard devesse perder seu status de [instituição] isenta de impostos e fosse taxada como uma entidade política, caso continue estimulando a doença política, ideológica e inspirada em terroristas", escreveu Trump na sua rede, a Truth Social.

Mais tarde, a secretária de Imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que o presidente quer ouvir de Harvard um pedido de desculpas "pelo ultrajante antissemitismo que aconteceu no campus contra estudantes judeus".

Trump tem explorado os protestos pró-Palestina que irromperam em universidades americanas em 2024, acusados de antissemitismo por apoiadores de Israel, para pressionar faculdades de elite a se submeterem aos objetivos culturais do trumpismo -ou seja, cortar programas de diversidade e suspender discussões nesse sentido.

Nesta segunda-feira (14), Harvard rejeitou as demandas do governo e disse que não renunciaria a sua independência nem abriria mão de direitos constitucionais, afirmando ainda que as demandas iam além do poder do Executivo federal. Algumas horas depois, a Casa Branca anunciou o congelamento de US$ 2,2 bilhões em verba para a universidade e mais US$ 60 milhões em contratos.

A gestão Trump afirma, como no caso de várias outras universidades pelo país, que a instituição de ensino não faz o suficiente para coibir casos de antissemitismo nos campi, locais onde centenas de manifestações pró-Palestina e contra as ações de Israel na Faixa de Gaza ocorreram em 2024.

Harvard é a primeira grande instituição de ensino superior a desafiar as ameaças do republicano de corte de financiamento se exigências do governo federal não forem acatadas. Até aqui, outras cinco universidades da Ivy League, o grupo composto pelas mais antigas e renomadas instituições de ensino superior dos EUA, sofrem pressões da Casa Branca para cercear programas de diversidade.

A Universidade Columbia, foco dos protestos pró-Palestina no país, cedeu em parte à pressão do republicano e aceitou uma série de demandas relativas ao controle do campus, como a autorização para detenções dentro dos limites da universidade e a intervenção na gestão do departamento de estudos sobre Oriente Médio, retirando o órgão do controle docente, entre outros pontos.

A instituição foi duramente criticada no meio acadêmico por essa decisão -críticos dizem que ela só encoraja o governo a ampliar seus ataques, como quando circulou na imprensa americana a proposta da Casa Branca de colocar Columbia sob intervenção direta.

A universidade, por sua vez, diz que agiu para preservar programas essenciais sob ameaça com os cortes de Trump -em especial os ligados à área da saúde, particularmente dependentes de financiamento federal- e reforçou nesta terça que não aceitará reduções à própria independência.

Outras universidades da Ivy League têm sofrido pressões semelhantes da Casa Branca. No geral, as exigências são as mesmas: cortes em programas, departamentos e linhas de pesquisa que se voltem para diversidade ou que abordem uma interpretação da história americana menos que heroica -ou seja, tratem de momentos pouco lisonjeiros, como o extermínio de indígenas, a escravidão e a segregação.

As demandas tem lastro em uma das ideias mais importantes para o trumpismo que retomou o poder nas eleições de 2024: a de que instituições culturais de elite, como as universidades, foram tomadas de assalto por esquerdistas sob a bandeira do "marxismo cultural" e, dessa forma, afastaram-se do americano médio e já não contribuem para o progresso no país.

Foi esse discurso, de elites encasteladas contra o operário médio, que foi tão explorado por Trump e por seu vice, J. D. Vance, na campanha eleitoral contra a democrata Kamala Harris -identificada como representante dessas elites.

Além das instituições da Ivy League, a Casa Branca alertou dezenas de outras universidades sobre possíveis ações devido a suposta falha em cumprir leis federais relativas a direitos civis e ao antissemitismo.

"Fica claro que a intenção [do governo] não é trabalhar conosco para abordar o antissemitismo de maneira cooperativa e construtiva", afirmou o reitor de Harvard, Alan Garber. "Embora algumas das exigências delineadas pelo governo visem combater o antissemitismo, a maioria representa uma regulamentação governamental direta das ‘condições intelectuais’ em Harvard."


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