Veja altos e baixos das relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com dúvidas sobre o resultado das eleições presidenciais do último domingo (28) na Venezuela crescendo, o Brasil adotou uma postura de cautela, se recusando a parabenizar o ditador Nicolás Maduro pela vitória e pedindo uma relação detalhada das atas das urnas eletrônicas.
A decisão veio depois de uma troca de farpas entre Maduro e o presidente Lula (PT), que se disse assustado com a fala do ditador sobre um "banho de sangue" caso fosse derrotado no pleito. Maduro respondeu dizendo que quem está assustado deveria tomar um "chá de camomila" -dias depois, atacou o TSE, precipitando o órgão a voltar atrás da decisão de enviar observadores para acompanhar o pleito.
A rusga é a mais séria até aqui no que tem sido, historicamente, uma postura de simpatia e amizade entre Lula e o PT e o chavismo na Venezuela desde o primeiro mandato do petista. Durante os períodos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, no entanto, houve uma piora significativa nas relações entre Brasília e Caracas.
Veja abaixo os principais momentos do contato diplomático entre os países nas últimas décadas.
1999
Eleito em 1998, Hugo Chávez faz sua primeira visita oficial ao Brasil em maio de 1999, quando é recebido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ao longo do segundo mandato do tucano, os dois países firmaram acordos de cooperação e de infraestrutura, e o brasileiro visitou Caracas em abril de 2000.
2003
Lula é recebido por Chávez na Venezuela pela primeira vez em agosto deste ano, seu primeiro como presidente do Brasil. Os dois se tornaram amigos pessoais e se encontraram oficialmente diversas vezes ao longo da década para inaugurar obras, negociar acordos e trabalhar para a adesão da Venezuela ao Mercosul.
2007
Em um dos seus primeiros atos autoritários, Chávez não renova a concessão da RCTV, tradicional canal de televisão venezuelano crítico ao chavismo -a emissora é forçada a encerrar suas atividades.
O Congresso brasileiro emitiu um documento pedindo que Chávez reavalie sua decisão, e o venezuelano respondendo chamando o Legislativo do país vizinho de "papagaio de Washington". Lula disse à Folha na época que a decisão de Chávez foi democrática.
2009
Em decisão polêmica, Chávez convoca, e vence, um plebiscito que eliminou os limites de mandato na Venezuela e abriu caminho para que buscasse um terceiro mandato. Lula defendeu a decisão do venezuelano de aprovar a reeleição ilimitada e, depois da vitória, parabenizou Chávez pelo resultado do referendo.
2011
Chávez comparece à posse da presidente Dilma Rousseff (PT); aproximação entre os dois países continua durante mandato da petista.
2012 Após anos de negociações, a Venezuela passa a fazer parte do Mercosul, movimento que teve forte incentivo do Brasil e do governo da Argentina, comandado pela peronista Cristina Kirchner. Caracas seria suspenso do bloco com a chegada de Michel Temer à Presidência em 2016.
2016
Maduro chama impeachment de Dilma de golpe e ameaça à América Latina; Caracas expulsa embaixador brasileiro e governo Temer faz o mesmo com o encarregado de negócios da Venezuela em Brasília.
2019
Alinhado aos Estados Unidos, o governo Jair Bolsonaro reconhece Juan Guaidó, autoproclamado presidente da Venezuela, como líder legítimo do país e rompe relações com o regime de Maduro.
2020
Bolsonaro ordena o fechamento da Embaixada Brasileira em Caracas.
2021 Em meio à pandemia de coronavírus e à crise de oxigênio em Manaus, Venezuela envia caminhões com insumo à capital do Amazonas; mais tarde, em depoimento ao Congresso, chanceler Ernesto Araújo diz que não solicitou nem agradeceu o governo Maduro pelo envio.
2023
Com releeição de Lula, Brasil reestabelece relações diplomáticas com a Venezuela e reabre embaixada em Caracas. Petista recebe Maduro para visita de Estado e ajuda a mediar o Acordo de Barbados entre regime e oposição para realização de eleições em 2024.
2024
Brasil critica decisão do regime de impedir Corina Yoris, substituta de María Corina Machado, de concorrer à Presidência; diplomacia venezuelana diz que nota pareceu ter sido "ditada pelos EUA".
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