Venezuela recebe 199 deportados dos EUA após atrito entre os dois países pausar voos
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quase 200 deportados dos Estados Unidos chegaram à Venezuela na madrugada desta segunda-feira (24), em uma operação que marca a retomada dos voos de migrantes do país sul-americano expulsos do solo americano após o retorno do presidente Donald Trump à Casa Branca.
Dois dias antes, no sábado (22), Caracas havia anunciado o retorno das repatriações, suspensas há um mês após atritos entre os dois países. O avião da companhia aérea estatal Conviasa saiu do Texas rumo a Honduras antes de pousar no aeroporto internacional de Maiquetía, ao norte de Caracas, à 1h01 (2h no Brasil), transportando 199 migrantes.
Ao descer da aeronave, um deles gritou: "Obrigado! Deus abençoe a Venezuela". Algumas horas antes, a televisão estatal havia exibido imagens registradas dentro do avião no aeroporto de Honduras nas quais os migrantes, todos homens, apareciam algemados.
Eles foram recebidos pelo ministro do Interior venezuelano, Diosdado Cabello, como ocorreu com os deportados dos outros três voos dos EUA. Os dois primeiros decolaram de El Paso, no Texas, no dia 10 de fevereiro, seguido por outro com 177 migrantes que haviam sido levados para a prisão de Guantánamo, em Cuba, e posteriormente repatriados via Honduras.
"Retoma-se isso que, na verdade, não deveria ter tido problemas", afirmou o funcionário da ditadura. "As viagens estão com pouca regularidade, mas não por culpa da Venezuela. Nós estamos prontos para receber os venezuelanos, estejam onde estiverem, quando existirem as possibilidades."
Parte das rusgas se deve à deportação de mais de 200 pessoas que os EUA consideram suspeitas de pertencer à gangue Tren de Aragua a El Salvador, onde estão sendo mantidas na megaprisão construída sob o governo de Nayib Bukele.
A fragilidade de muitas das acusações tem gerado críticas a Trump. Para conseguir enviá-los ao país centro-americano, o republicano invocou uma lei de 1798 que permite a expulsão, sem julgamento, dos chamados "inimigos estrangeiros".
Nesta segunda, Cabello voltou a criticar a operação, questionando a "narrativa que tentaram impor sobre a violência venezuelana" e exigindo a devolução dos deportados à prisão. "Deveríamos perguntar ao senhor Bukele e a todos esses sequestradores de venezuelanos se algum deles cometeu algum crime em El Salvador", afirmou.
A pausa também se deve à suposta lentidão no ritmo das repatriações, na visão dos EUA acusação que fez Washington suspender a licença para que a petroleira americana Chevron operar no país caribenho. Caracas, por sua vez, argumenta que o Departamento de Estado americano estava bloqueando os voos.
Sem laços diplomáticos desde 2019, Caracas e Washington concordaram, na primeira metade de março, em retomar os voos após mais de 600 venezuelanos serem repatriados em fevereiro. No sábado, o presidente da Assembleia Nacional, importante aliado político de Maduro e principal negociador do regime venezuelano, Jorge Rodríguez, afirmou que o voo inicial seria neste domingo.
No dia anterior, governo de Trump anunciou que revogaria o status legal de 532 mil cubanos, haitianos, nicaraguenses e venezuelanos que chegaram aos EUA como parte de um plano apresentado pelo antecessor do republicano, Joe Biden. Após a publicação da ordem do Departamento de Segurança Nacional no Registro Federal, essas pessoas perderão sua proteção legal em 30 dias, em um novo revés para migrantes nos EUA.
Segundo Cabello, 155 mil venezuelanos serão afetados por esta decisão.
Quase 8 milhões de venezuelanos abandonaram seu país desde 2014, segundo as Nações Unidas. Eles saíram em busca de melhores condições de vida em meio a uma crise profunda que reduziu a economia do país sul-americano em 80%. Maduro, que atribui o êxodo às sanções dos EUA, desprezou por anos o tamanho da diáspora.
Com o grupo desta segunda, quase 1.200 venezuelanos foram repatriados desde fevereiro, incluindo pelo menos 566 deportados pelo governo Trump e os demais transportados pelo governo venezuelano a partir do México, onde os migrantes ficaram retidos antes de conseguirem chegar aos EUA.

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