Vice-presidente do Sudão do Sul está em prisão domiciliar, diz partido

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O primeiro vice-presidente do Sudão do Sul, Riek Machar, está em prisão domiciliar desde esta quarta-feira (27), quando uma caravana de 20 veículos entrou em sua residência na capital, Juba, para detê-lo, diz um comunicado emitido por um membro de seu partido, o SPLM-IO (Movimento Popular de Libertação do Sudão na Oposição).
"Seus guarda-costas foram desarmados e foi-lhe entregue uma ordem de prisão com acusações pouco claras", afirma Reath Muoch Tang, que chama a ação de inconstitucional. Ainda segundo o comunicado, Machar está sendo mantido com sua esposa na casa sob a acusação de apoiar a milícia White Army, que este mês entrou em confronto com o Exército em Nasir.
As Nações Unidas alertaram que a recente violência nessa cidade do nordeste do país e o aumento do discurso de ódio ameaçam o retorno de uma guerra civil de cinco anos que deixou cerca de 400 mil mortos entre 2013 e 2018. O SPLM-IO nega vínculos contínuos com o White Army.
"Esta noite, os líderes do país estão prestes a recair em um conflito generalizado", afirma o chefe da missão das Nações Unidas no país, Nicholas Haysom, para quem uma ruptura do acordo de paz que interrompeu os combates "não apenas devastará o Sudão do Sul, mas também afetará toda a região".
Foi esse acordo que permitiu ao país ter cinco vice-presidentes, dos quais Machar, rival do presidente Salva Kiir, é o primeiro. No entanto, a divisão de poder entre os dois, que criou uma coalizão frágil, tem se desintegrado gradualmente na quarta, a ONU relatou combates entre forças leais a Kiir e Machar perto de Juba.
A capital amanheceu nesta quinta com algumas lojas fechadas e menos tráfego do que o normal, disse um jornalista da Reuters. Além disso, o Exército estava fortemente posicionado perto da casa de Machar. Militares e porta-vozes do governo não responderam imediatamente a pedidos de comentários da agência de notícias.
País mais jovem do mundo, o Sudão do Sul declarou sua independência em 2011, após um referendo. Apesar de ser rica em petróleo, a nação continua assolada pela pobreza e insegurança desde o acordo de paz.
A mais recente convulsão começou nos últimos meses, quando Kiir, que tem tentado assegurar sua sucessão, marginalizou Machar politicamente ao convidar o Exército de Uganda para garantir a segurança da capital e nomear o conselheiro Benjamin Bol Mel como segundo vice-presidente.
A aposta é que o empresário, designado na lista de sanções dos Estados Unidos por seus vínculos com empresas de construção acusadas de lavagem de dinheiro, seria o sucessor. Mais de 20 aliados políticos e militares do adversário do presidente foram detidos desde fevereiro.
A tensão fez o Escritório para Assuntos Africanos de Washington se manifestar. "Estamos preocupados com relatos de que o primeiro vice-presidente do Sudão do Sul, Machar, está em prisão domiciliar", afirmou o órgão na rede social X. "Instamos o presidente Kiir a reverter esta ação e evitar uma maior escalada da situação."

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