Associações indígenas pedem investigação federal sobre assassinato de colaborador da Funai
BRASÍLIA – A organização indígena União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) vai acionar o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, para que investiguem o assassinato do colaborador da Fundação Nacional do Índio (Funai) Maxciel Pereira dos Santos, ocorrido na última sexta-feira, 6, na cidade de Tabatinga (AM). Em nota, a Funai também informou que acionou a Polícia Federal para apurar possíveis atos de violência na região.
Na sexta, Maxciel foi alvejado por dois tiros enquanto guiava sua moto, no centro de Tabatinga, município do extremo oeste do Amazonas, próximo da fronteira com Peru e Colômbia. O colaborador da Funai atuava havia mais de 12 anos no trabalho de fiscalização da região do Vale do Javari, área que concentra o maior número de índios isolados do País.
Em abril de 2017, a reportagem do Estado fez uma expedição ao Vale do Javari para mostrar as ameaças crescentes na região, resultado da ação de garimpeiros, caçadores ilegais, madeireiros e grileiros de terra. Maxciel apoiou a reportagem durante toda a expedição, por nove dias dentro da floresta.
As causas do assassinato ainda são desconhecidas. Maxciel era conhecido na região e por seus pares pelo conhecimento da floresta, seu profissionalismo, liderança e dedicação na defesa dos territórios demarcados.
“Queremos que as investigações sejam realizadas pela Polícia Federal e MPF, pois acreditamos que o ocorrido esteja relacionado aos trabalhos finalísticos da Funai, já que essa foi a atuação do servidor há mais de 12 anos consecutivos em nossa região”, declarou a Univaja.
A Indigenistas Associados (INA), associação de servidores da Funai, também manifestou “extremo pesar com seu assassinato, e espera rápida e rigorosa investigação do ocorrido”.
Maxciel atuava há mais de 12 anos junto à Funai na proteção e promoção dos direitos dos povos indígenas, sendo por cinco anos chefe do Serviço de Gestão Ambiental e Territorial da Coordenação Regional do Vale do Javari. Nos últimos anos, colaborou com a Frente de Proteção Etnoambiental na região e estava indicado para ser o coordenador desta unidade, que tem por atribuição realizar a proteção de povos indígenas isolados e de recente contato que habitam a terra indígena.
“Este episódio trágico e extremo se soma a muitos outros. Nos mais diferentes contextos, da Amazônia à região Sul do país, indígenas, servidores e colaboradores atuam em condições precárias e insuficientes na proteção de Terras Indígenas. Por conta da participação em ações de combate a ilícitos nesses territórios, encontram-se cada vez mais ameaçados e vulneráveis”, declarou a INA.
O presidente da Funai, Marcelo Xavier, também pretende ir a Manaus (AM) nesta semana para se reunir com autoridades de segurança pública, solicitando celeridade na apuração dos fatos. A fundação divulgou nota em que lamenta a morte do servidor.
"A Funai vem a público lamentar o assassinato de Maxciel Pereira dos Santos, colaborador eventual em Tabatinga/AM, na noite de sexta-feira (6), por volta das 18h30. O Presidente da Funai, Marcelo Xavier, se deslocará a Manaus (AM) nesta semana, onde se reunirá com autoridades de segurança pública, solicitando celeridade na apuração dos fatos. Sobre as comunicações feitas à Funai de possíveis ocorrências de atos violentos na região da Terra Indígena Vale do Javari, todas elas foram repassadas ao Departamento de Polícia Federal para que procedesse às necessárias investigações em virtude dos indícios de crimes. A morte de Maxciel representa uma grande perda para a Fundação, deixando todos sensibilizados", diz a nota da Funai.
A Terra Indígena Vale do Javari é uma das maiores terras indígenas demarcadas do País, com mais de 8 milhões de hectares. É a região com maior concentração de registros de povos indígenas isolados, com dez referências confirmadas e três em estudo.
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